Kalil acusa irresponsabilidade do governo federal em atraso de vacinas

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Prefeito aproveitou para acalmar população, mas não escondeu frustração com atraso (Moisés Teodoro/BHAZ)

Com a aplicação da segunda dose da vacina contra Covid-19 atrasada em BH, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) atribuiu o problema à “falta de responsabilidade” do governo federal. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (6), Kalil afirmou que a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), assim como vários outros municípios, apenas cumpriu as ordens de usar todas as vacinas para a aplicação da primeira dose, respeitando ofício emitido pelo Ministério da Saúde, chamado por ele de “irresponsável”.

“Nós recebemos um documento oficial [orientando] que, no 7º e 8º lotes, era para aplicar todas as doses [sem reserva para segunda dose, como vinha acontecendo]. Nós entendemos que era um documento responsável e fizemos isso”, disse o prefeito. Kalil disse ainda que a prefeitura chegou a rejeitar uma primeira recomendação de que todas as vacinas fossem destinadas à aplicação da primeira dose.

“Recebemos uma ordem: pode aplicar tudo. E não obedecemos”, afirmou. Já no segundo movimento da União, desta vez por meio de documento oficial, a PBH cumpriu as ordens. “Claro que foi irresponsabilidade do Ministério da Saúde, que mandou um documento oficial, que nós acatamos, falando que teríamos as doses aqui”, completou o prefeito, que ainda se defendeu: “É isso que ninguém fala, que querem jogar nas costas da prefeitura”.

‘O que eu quero é cesta básica, dinheiro…’

Na entrevista, o prefeito comentou também sobre a tentativa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de editar um documento para impedir que as administrações municipais determinem as regras de funcionamento das cidades durante a pandemia.

“Ele [Bolsonaro] não pode editar papel não, porque papel o Estado está editando também. O que eu quero é cesta básica, dinheiro, cheque, leito de UTI. Papel, quem trata de papel é o STF [Supremo Tribunal Federal]. Eu estou tratando de vida, de compreensão, de equilibrar a farinha com o fubá”, disse o gestor.

Kalil garantiu ainda que, caso o STF venha a decidir pela limitação dos poderes dos Executivos municipais, a PBH não vai se opor – mas alfinetou a administração federal. “Eles entregam um papel ao STF e o STF designa aqui um cuidador para a Covid, um novo comitê [em BH] e nós vamos receber. Guardamos aqui os nosso dados até hoje e, a partir de amanhã, ele passa a anotar os dados dele, que não são dados muito competentes”, afirmou.

Para explicar a dita “incompetência” do governo Bolsonaro na gestão da pandemia, o prefeito citou a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) criada para investigar a postura do governo diante da crise. “CPI da qual todas as prefeituras já receberam toda a documentação do gasto de hospital de campanha, que não fizemos nenhum, de respiradores, que recebemos, mas não compramos nenhum. Então tem gente que vai ter que dar muita explicação por aí, mas, graças a Deus, a PBH não”, concluiu.

Atraso ainda não impossibilita imunização

Não só a gestão da capital precisou reorganizar o cronograma de vacinação por causa do atraso, mas um impacto ainda maior foi sentido pelos próprios moradores. Em meio aos números elevados de mortes no país e a circulação do vírus ainda preocupante em BH, muitos tinham na perspectiva de imunização total uma fonte de alívio – e agora estão angustiados.

A PBH, no entanto, garantiu que o atraso ainda não afeta na imunização daqueles que já tomaram a primeira dose e tranquilizou os idosos de 64 a 67 anos, que foram o grupo afetado pela mudança. “Entendemos que, no início da semana que vem, nós já devemos voltar a aplicar a segunda dose, que não há problema no atraso de uma semana, sete dias”, disse Kalil.

“O atraso de até 21 dias, segundo o Ministério da Saúde, não traz prejuízo ao desenvolvimento da imunidade que a vacina traz. Não há prejuízo em se aguardar mais alguns dias, não há necessidade de ficar angustiado”, reforçou o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado.

O prefeito, contudo, não escondeu a frustração com o atraso no repasse dos novos lotes. “O ideal era que o documento fosse responsável e nós não recebemos [do governo federal] um documento oficial responsável”, afirmou.

O que diz o Ministério da Saúde?

O BHAZ questionou o Ministério da Saúde sobre o papel da pasta no atraso das vacinas para a segunda dose em BH, mas, até a publicação desta reportagem, não obteve resposta. Tão logo o ministério se manifeste, esta matéria será atualizada.

Edição: Thiago Ricci
Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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