A mãe de Kathlen Romeu, 24, grávida que morreu nessa terça-feira (8) durante um tiroteio no Rio de Janeiro, concedeu uma entrevista ao programa Encontro nesta quinta-feira (10). Jackeline de Oliveira se emocionou ao destacar que vidas negras faveladas importam, e disse ter sido inconcebível ver a filha morta: “Eu não tenho mais vontade de viver, eu queria ganhar esse tiro”.
Fátima Bernardes falou sobre a vida da jovem, e revelou que o bebê de quatro meses que a design de interiores esperava se chamaria Lion, se fosse um menino, ou Maia, se fosse uma menina. “Infelizmente a violência que a cada 23 minutos mata um jovem negro no nosso país acabou com todos os sonhos da Kathlen, e da família dela”, lamentou.
.@fbbreal recebe os pais de Kathleen Romeu, jovem que foi morta durante tiroteio no Rio de Janeiro. #Encontro pic.twitter.com/LSipQRsJ4u
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‘Vidas só importam na Zona Sul’
Visivelmente abalada, Jackeline de Oliveira estava presenta ao lado do pai de Kathlen Romeu. A mãe da jovem se emocionou ao falar do tratamento dado às vidas negras no Brasil, que lutam diariamente para serem bem sucedidas têm seus trajetos interrompidos pela morte.
“Do Rebouças [túnel do Rio de Janeiro que divide a cidade] para cá não existe vida, as vidas só importam na Zona Sul, só lá que tem respeito pelas pessoas. As abordagens são diferentes, as operações são menos desastrosas, existe um respeito. Só que parece que tudo o que ensinam para a gente, que você tem que estudar, que você tem que se misturar com pessoas de bem, que você tem que lutar pelo seu caminho, parece que é sempre perdido no meio do caminho”, disse Jackeline.
A mãe da falecida jovem pontuou que as pessoas pretas e faveladas têm que se reafirmar sempre, e que a comunidade nunca recebe o devido respeito. “A gente nunca é respeitado por nada, você não é respeitado porque você é negro, você nunca é respeitado porque você é favelado, e se você se forma, se você se forma um médico questionam: ‘Aquela é a médica?’, então isso é muito ruim”.
“Parece que tudo que ensinam pra gente, que você tem que estudar, se misturar com pessoas de bem, se formar… parece que é sempre perdido no meio da caminho. Parece que preto e favelado tem que ficar se reafirmando a todo momento, a gente nunca é respeitado por nada.” #Encontro pic.twitter.com/DtyWPTGh5I
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Jackeline diz não ter vontade de viver
Em meio às lágrimas, Jackeline reforçou o nome da filha e pediu para que a morte dela não fosse em vão, clamando por justiça. “Eu peço por justiça. Qual é a justiça? Eu não sei qual é a justiça, mas eu peço, eu clamo, por favor, pela memória de Kathlen de Oliveira Romeu, minha filha, 24 anos, grávida, isso não pode ser em vão, essa morte não pode ser em vão”.
“Que seja a última dessa forma, que seja a última, isso é horrível, eu não desejo isso para ninguém. Então por ela eu estou aqui, por ela eu estou respirando fundo para poder falar e transmitir alguma coisa, porque se eu pudesse eu ia para um buraco sem fim, porque eu não tenho mais vontade de viver, eu queria ganhar esse tiro”, desabafou.
Um depoimento tão difícil, tão emocionante: “Eu não tenho mais nada, porque meu tudo era ela.” #Encontro pic.twitter.com/7JeKRv9iQM
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‘Inconcebível ver a minha filha dentro do caixão’
A progenitora de Kathlen disse que sua filha era grandiosa, “a minha filha era uma luz”, comentou sobre as vidas negras e disse ser inconcebível ter visto a filha morta. “Vidas negras e faveladas importam, importam muito. Não adianta a gente estudar, não adianta a gente fazer nada, porque tem sempre uma desculpa depois”.
“Tem sempre uma desculpa depois para justificar o injustificável, é inconcebível ver a minha filha dentro de um caixão, é inconcebível eu ver a minha filha dentro de um saco preto no IML. É inconcebível, a minha filha era vida, a minha filha era luz, é inacreditável”, desabafou.
‘Vidas negras e faveladas importam muito’ #Encontro pic.twitter.com/ZtHXzo8CGM
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