Atualização às 19:32 do dia 09/06/2021 : Matéria atualizada com resposta da marca envolvida no caso
A marca de roupas Farm vem recebendo críticas nas redes sociais nesta quarta-feira (9), após fazer uma postagem a respeito da morte de Kathlen Romeu, que era funcionária de uma das lojas da empresa. No post, a marca lamenta a morte da jovem e informa que todas as vendas feitas com o código da vendedora terão parte do lucro destinado à família da vítima.
Kathlen de Oliveira Romeu trabalhava em uma das unidades da marca, em Ipanema, no Rio de Janeiro. Na tarde de ontem, a jovem de 24 anos, que estava grávida de quatro meses, morreu baleada durante uma ação policial. Ela foi vítima de um tiroteio que acontecia entre policiais militares e criminosos da comunidade do Lins (relembre aqui).
Com isso, a empresa decidiu prestar condolências pela morte da funcionária através de uma postagem no Instagram, com a hashtag “JustiçaPorKathlen”. O post diz: “Lamentamos profundamente que nossa querida Kathlen Romeu e o bebê que gestava há 14 semanas, tenham sido alvo de mais um intolerável episódio de violência urbana ontem em nossa cidade”.
Código de Kathlen
A Farm estendeu as condolências à família de Kathlen Romeu, e afirmou que eles terão todo o apoio e suporte da marca “em tudo o que se faça necessário”. A empresa ainda comunicou que divulgará a data e o horário do sepultamento da jovem, que também era design de interiores. Segundo a postagem, os funcionários estariam montando uma homenagem para Kathlen na unidade onde ela trabalhava.
Após lamentar a morte, a marca acrescentou à postagem que todas as vendas feitas com o código de vendedora de Kathlen Romeu teriam o lucro que ela receberia revertido para a família da jovem. “A partir de hoje, toda a venda feita no código de Kathlen – E957 – terá sua comissão revertida em apoio para sua família. Reforçando que nós também vamos apoiá-la de forma independente e paralela”, diz trecho do post.
“Nos comprometemos a acelerar ainda mais nossos processos de inclusão e equidade racial para transformar as cruéis estatísticas que levam vidas jovens negras como a de Kath a cada 23 minutos no nosso país”, disse a marca. A Farm finalizou a postagem com a frase “vidas negras importam”. Confira:
Internautas repudiam ação
A ação da empresa de vestuário teve uma repercussão bastante negativa nas redes sociais, e o nome da marca chegou a ficar entre os assuntos mais comentados do Twitter. Vários internautas acusaram a Farm de querer lucrar com a morte de Kathlen Romeu, e repudiaram a atitude, dizendo ter sido desrespeitosa.
Nos comentários da postagem do Instagram, uma internauta disse: “Não vejo motivo para vocês seguirem com essa ideia estapafúrdia de lucrar com a morte dela. Vocês tiveram lucro milionário em 2020, podem perfeitamente ajudar a família no que precisar sem lucrar com isso”.
‘Patético, desrespeitoso’
Já no Twitter, os comentários sobre a ação não foram muito diferentes. “A Farm fazendo a Kathlen trabalhar depois de morta para reverter a comissão dela em vendas pra família. Eu tô-“, comentou uma pessoa. Uma outra usuária protestou: “A Farm não cansa!!!! A comissão da Kathlen vai ser revertida pra família – comissão – como se ela tivesse trabalhando. Porém ela tá morta! Patético, desrespeitoso demais. Lucrar com um corpo preto assassinado”.
“O que a Farm está fazendo, basicamente, é continuar explorando a força de trabalho da Kathlen mesmo depois dela ter sido assassinada”, apontou Caio César. Veja um pouco mais da repercussão causada pela ação da marca:
A Farm fazendo a Kathlen trabalhar depois de morta para reverter a COMISSÃO dela em vendas pra família. Eu tô-
— CoronaSuc🧃 (@Sukitabr) June 9, 2021
a farm não cansa!!!! a comissão da kathlen vai ser revertida pra família
— Jude (@judepaulla1) June 9, 2021
– COMISSÃO – como se ela tivesse trabalhando. porém ela tá morta!
patético, desrespeitoso demais.
lucrar com um corpo preto assassinado. pic.twitter.com/u0kr9PCZgr
O que a farm está fazendo, basicamente, é continuar explorando a força de trabalho da Kathlen mesmo depois dela ter sido assassinada.
— Caio César (@geocaio) June 9, 2021
a mesma marca que ano passado fez calcinhas absorventes estampadas com mulheres indígenas e as mulheres da aldeia ganharam calcinhas e não remuneração.
— îara (@iara_ci) June 9, 2021
que vendeu estampa com pessoas negras escravizadas.
a farm é um lixo racista, oportunista, não tem um pingo de “boa ação” nisso.
Imagina só comprar roupinha com código da mina que foi assassinada junto com o seu filho, num contexto de violência contra a população favelada e preta – nem black mirror imaginou um roteiro com tamanha crueldade
— Andreza🏳️🌈 (@andrezadelgado) June 9, 2021
Farm assume erro
Ao longo desta tarde, o BHAZ procurou a Farm a respeito das críticas e acusações oriundas da ação com o código de Kathlen Romeu, a resposta veio no final da tarde (leia abaixo). Na página do Instagram, a marca editou o post original e publicou uma nota pedindo desculpas e avisando que o código não está mais disponível.
Leia a nota da empresa na íntegra
A FARM vem a público se desculpar pela ação que envolveu o uso do código de vendedora de Kathlen Romeu nesse momento tão difícil. Entendemos a gravidade do que representou esse ato, por isso, retiramos de uso o código E957. Reverteremos integralmente 100% das vendas geradas através do código no dia de hoje para sua família.
E reforçamos que vamos continuar dando todo o apoio necessário de maneira independente, como fizemos desde o primeiro momento em que recebemos a notícia. Olhamos hoje pra FARM com a consciência da nossa função social na redução das desigualdades e seguiremos acelerando todos os nossos programas de inclusão e equidade. Agora o momento é de luto e acolhimento.