Menina de 12 anos cria escolinha com materiais encontrados em lixão

escola érica
Sala de aula começou como um barraco ao lado da casa de Érica, mas agora já conta com ajuda de entidades (Neyara Pinheiro/Reprodução/UOL)

Uma menina de 12 anos de Coelho Neto, vilarejo no interior do Maranhão, a 400 km de São Luís, criou uma “Escolinha da Esperança” para ajudar os colegas com a paralisação das aulas na pandemia. A mãe, Maria Donizete, 59, catadora de materiais recicláveis e analfabeta, contou sobre a atitude da filha, Érica, ao UOL, “ela me dizia assim: ‘mãe, eu quero construir uma escolinha, porque as crianças estão andando para cima e para baixo”, conta com orgulho.

À princípio, Donizete desconfiou da ideia, mas a união da mãe com a filha, no final, foi essencial para a execução do projeto. A iniciativa veio no ano passado, quando a menina, que hoje cursa o 6º ano do ensino fundamental, decidiu ajudar os colegas que sofriam com a falta de aulas devido à pandemia. Com retalhos encontrados no lixo, como lona e papelão, Maria e Érica improvisaram um espaço para recepção dos alunos.

“Nós pegávamos lixo no lixão; eu pegava os livros, cadernos com folhas limpas e trazia pra casa. Foi através disso que a minha filha começou a escolinha”, conta Donizete. “Esperança”, o nome da escola, foi escolhido porque, no fundo, há uma esperança das aulas voltarem ao normal após a pandemia. A escolinha já está funcionando há nove meses e, atualmente, educa 19 alunos aos finais de semana, principalmente nas matérias de Português e Matemática.

Zelo pelos alunos

Junto com as irmãs mais velhas, de 23 e 26 anos, Érica ajuda no ensino dos alunos. Ela gosta de compartilhar a história dos estudantes. “Fabíola tem apenas seis anos e já impressiona todo mundo. Todos querem ser jogadores de futebol, mas ela quer ser médica. Ela já sabe o alfabeto todo, mas não sabe ler, mesmo que já saiba todas as vogais”, disse a criança. “Já Arthur tem sete anos de idade e sabe quase tudo: o alfabeto, as vogais, sabe ler e escrever e também sabe porcentagem e multiplicação”, orgulha-se.

A menina também tem aproveitado o projeto para ajudar a alfabetizar a mãe e talvez conseguir mais oportunidades para a família no futuro.

Apoio

A Escolinha da Esperança já ganhou o apoio de entidades para que Érica continue com seu trabalho. Inicialmente, a escola ocupava um espaço improvisado ao lado da casa da família, em um barraco feito de barro e com retalhos de lixo. Após movimentação nas redes sociais, a iniciativa conseguiu levantar R$ 150 mil em um financiamento coletivo.

A prefeitura de Coelho Neto também decidiu investir no espaço educacional. Uma nova casa de concreto está sendo construída, com uma estrutura adequada para os alunos. O Rotary Club do Maranhão passou a auxiliar em questões financeiras e burocráticas.

Sonhos para o futuro

Mesmo atuando como professora, a pequena conta que nunca tinha pensado em ser professora, apesar de estar gostando da experiência. “Nunca sonhei em ser professora, mas, no ano passado, minhas aulas tinham parado e eu resolvi ajudar os meus colegas e criei um espaço na base da brincadeira, mas foi mais do que eu imaginava”, conta Érica.

Érica sonha em poder ajudar as pessoas de outra forma no futuro. “Ser advogada é um sonho que vem comigo desde quando eu era pequena. Gosto de ver as pessoas sendo julgadas de uma forma que elas não sejam incriminadas por injusta causa. Hoje em dia, muita gente vai para a prisão por ser julgado injustamente”, afirma.

Ela espera auxiliar pessoas em situação de vulnerabilidade que não tem recursos para se defender. “Quero ser advogada para lutar por essas pessoas!”, finaliza.

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