O MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) denunciou, na última sexta-feira (28), o procurador de Justiça Bertoldo Mateus de Oliveira Filho, responsável por atirar contra duas mulheres em uma briga de trânsito em Belo Horizonte, em outubro do ano passado (relembre aqui). O homem foi denunciado pelos crimes de tentativa de homicídio (por motivo fútil e perigo comum), injúria, ameaça, desobediência, e por dirigir sob a influência de álcool.
O crime aconteceu no dia 1º de outubro de 2020, por volta das 22h20, na rua Santo Antônio do Monte, bairro Santo Antônio, região Centro-Sul de BH. Conforme apurado pelo MPMG, procurador efetuou disparos com arma de fogo, assumindo o risco de matar duas mulheres, “o que somente não ocorreu por circunstâncias alheias a sua vontade”. Segundo a denúncia, ele agiu com dolo eventual, “empregando meio do qual resultou perigo comum e por motivo fútil”.
A apuração indica ainda que o denunciado “conduziu veículo automotor com sua capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool; ofendeu a dignidade das vítimas, praticando injúria racial, e ameaçou causar-lhes mal injusto e grave, além de ter desobedecido a ordem legal de funcionários públicos e os ofendidos no exercício de suas funções”.
A denúncia feita pelo procurador-geral de Justiça Jarbas Soares Junior foi levada ao Poder Judiciário, que deve decidir sobre o seu recebimento e prosseguimento como Ação Penal.
Relembre
Uma das vítimas dos crimes contou à polícia, em outubro do ano passado, que ela estava parada no sinal atrás do carro do procurador quando o semáforo abriu e ele não arrancou o veículo. Ela buzinou, mas como ele continuou parado, ela deu ré e passou por ele, tentando chamar a atenção do motorista. Insatisfeito com a reação da mulher, o procurador começou a persegui-la, e quando ela estava chegando em casa, antes de entrar na garagem, o homem bateu duas vezes na traseira do carro dela.
Aos militares, ela relata que foi chamada por ele de “sapatona” e “puta” e que ele desceu do carro para agredi-la, mas ela conseguiu fugir. Em seguida, ele pegou uma arma no carro a ameaçou matá-la. Nesse momento, a companheira da vítima ajoelhou-se e implorou para que o homem não atirasse.
Segundo o registro policial, o procurador efetuou um disparo em sua direção, mas, por sorte, ela se escondeu atrás de uma pilastra. Um vídeo gravado por moradores do local mostra o momento em que o homem desce do carro cambaleando e vai em direção à calçada. Em seguida é possível ouvir gritos e um disparo de arma de fogo. Veja abaixo:
Procurador persegue mulher, ameaça matá-la e atira na direção dela no bairro Santo Antônio, região Centro-Sul de BH. Veja imagens: pic.twitter.com/r0BUSDsVLF
— BHAZ (@portal_bhaz) October 2, 2020
Resistência
Os vizinhos chamaram a polícia e o homem foi localizado na contramão da rua Leopoldina, no mesmo bairro. Ele negou a se identificar e apresentou resistência com os militares, que usaram a força física para algemá-lo. Segundo a corporação, o procurador apresentava sinais de embriaguez, como olhos vermelhos, andar cambaleante e fala desconexa. Ele também se recusou a fazer o teste de bafômetro e não assinou o termo de recusa.
Ao se defender, o procurador alegou à polícia que foi xingado de “idoso” e “filho da puta” e por isso foi atrás da mulher para saber o motivo do xingamento. Ele disse que o disparo da arma não foi intencional.
Dois funcionários do MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) estiveram no local e levaram o procurador para uma unidade da Procuradoria Geral da Justiça. O órgão informou por meio de nota que “presidiu a lavratura do auto de prisão em flagrante pela prática, em tese, de disparo de arma de fogo em via pública, fixou fiança na forma da lei, considerando a primariedade e os bons antecedentes ostentados pelo autuado, além de possuir residência fixa e seu compromisso de atender ao chamado da justiça”.