Vou de táxi: Moradores de BH estão ‘voltando à raiz’ e taxistas celebram a alta na procura

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Com a demora dos aplicativos de mobilidade para localizar motoristas, muitos belo-horizontinos sentiram a necessidade de voltar aos ‘velhos-tempos’ (Amanda Dias/BHAZ)

Sair de casa ou do trabalho e acenar para um taxista está voltando a ser um hábito comum em Belo Horizonte. É que, assim como Angélica em seu hit dos anos 80, nos últimos meses muita gente parece estar matando a saudade de “ir de táxi” a diversos pontos da cidade. Mas o motivo por trás desse comportamento um tanto quanto “retrô” está longe de ser nostalgia: com a demora dos aplicativos de mobilidade para localizar motoristas, muitos belo-horizontinos sentiram a necessidade de voltar aos “velhos tempos”.

Esse é o estilo de vida que Leonardo Lanza, de 43 anos, adotou nos últimos meses. Ao BHAZ, o coordenador de serviços técnicos contou que usa serviços de mobilidade com frequência para trabalhar. A rotina, contudo, ficou mais difícil recentemente, quando ele se tornou um dos milhares de usuários que precisam “se humilhar” para conseguir um carro por app, como vários belo-horizontinos têm definido a situação. Leonardo conta que já ficou mais de 40 minutos esperando por um motorista de aplicativo.

“Quando eu chego em um hotel, eu já peço ao recepcionista um cartãozinho de serviço de táxi. Voltar a ser raiz está muito melhor. Você não fica naquela de ‘cancela, não cancela’. Hoje em dia parece que a gente tem que implorar pro motorista te levar e eu acho isso muito desrespeitoso. Por isso estou migrando novamente para o táxi, que é um serviço que eu já utilizava antes dos aplicativos”, relata.

E ele não é o único que anda desacreditado dos aplicativos de transporte. Pelas redes sociais, dezenas de pessoas já publicaram relatos parecidos e acabaram encontrando no táxi uma alternativa para se locomover pela cidade.

Aumento em todo o estado

Segundo o Sincavir-MG (Sindicato dos Taxistas de Minas Gerais), Minas registrou um aumento de 30% no número de corridas em agosto. A associação representa os taxistas de 42 cidades mineiras, tanto da região metropolitana, quanto do interior. Segundo João Paulo de Castro, presidente da Sincavir, todas elas têm registrado aumento significativo na demanda por táxi.

“Na capital e na região metropolitana isso é mais sentido devido à demanda ser maior. Mas nas cidades menores, onde não há uma efetividade tão grande de carros de aplicativo, nós também estamos em alta. O taxi tá de fato reassumindo o que deveria ser dele”, pontua.

A região metropolitana de Belo Horizonte conta com cerca de 14 mil táxis e quase 20 mil profissionais, licenciados ou auxiliares. Um deles é Leonardo Fábio de Souza, que exerce a profissão com orgulho há 24 anos. Para ele, é motivo de imensa satisfação ver que as pessoas estão voltando a acreditar em seu serviço, que acabou ficando esquecido, de certa forma, com a chegada dos aplicativos.

‘Luta pela vida e pelo táxi’

“Pra mim é muito emocionante, sabe? Eu sempre lutei pela vida e pelo táxi. Meu pai é taxista, meu irmão é taxista, meu cunhado é taxista, meus primos são taxistas. Minha família toda, então meu sangue é taxista. É muito gratificante ver o táxi voltar a trabalhar de novo”, relata, em conversa com o BHAZ.

Foi justamente para honrar e garantir a manutenção da profissão que Leonardo se tornou diretor operacional do CooperTáxi BH, uma das ferramentas que mais tem feito sucesso em Belo Horizonte.

Modernização do serviço

O CooperTáxi BH nasceu em 2014 para ser uma alternativa aos aplicativos de mobilidade e, hoje em dia, é uma das principais plataformas de transporte utilizadas pelos belo-horizontinos. O app ilustra bem um dos fatores que, segundo o presidente do Sincavir, têm contribuído para a volta do sucesso dos táxis: a modernização.

É que agora, além de oferecer mais opções de pagamento aos passageiros – como cartões de débito, crédito e até mesmo PIX – o serviço também pode ser solicitado online.

“Nós somamos no mês passado 150 mil corridas, e nossa média era de 100 mil. Esse mês provavelmente vamos chegar às 180 mil corridas. A gente chegou a dar 30% de desconto aos passageiros, mas tivemos que reduzir um pouco por conta do preço do combustível. Mas ainda assim, nosso desconto ainda está atrativo”, conta o diretor operacional do CooperTaxi BH.

‘Alternativa mais segura’

Os descontos atrativos e valores dinâmicos, no entanto, não são o único atrativo dos táxis, conforme defende a categoria. Para o presidente do Sincavir, o aumento na demanda pelo serviço em Minas se deve a vários fatores – que incluem, mas não se limitam a descontos e à queda na qualidade das condições oferecidas pelos aplicativos que roubaram a cena nos últimos anos.

“A gente enxerga o táxi como a alternativa mais segura do transporte hoje. Hoje ele tem preço, tem qualidade de serviço, tem motoristas regulamentados que fazem curso de preparação, os carros são vistoriados. Tudo isso agrega valor para que o táxi hoje tenha esse aumento na demanda”, afirma.

Além disso, boa parte dos profissionais conseguiu se adaptar aos novos moldes estabelecidos pelas empresas de mobilidade. O CooperTáxi BH, por exemplo, funciona na mesma lógica dos demais: basta baixar na loja de aplicativos do celular, cadastrar os dados pessoais e informar o destino para o qual se deseja ir e a localização atual. Assim, já é possível ver a estimativa de preço e o app conecta o usuário com o motorista mais próximo.

‘Tá dando gosto de trabalhar’

Com todas essas adaptações, o resultado, além de uma outra alternativa para os clientes, é uma nova onda de esperança para os taxistas, que têm trabalhado revigorados. Durante a conversa com o BHAZ, Leonardo Fábio contou que os motoristas que convivem com ele voltaram a se empolgar.

Na plataforma, o taxista trabalha com uma equipe de mais de 400 motoristas regulamentados, com veículos que se adequaram às normas sanitárias atuais. Quase todos os dias, ele diz receber mensagens dos cooperados agradecendo pela boa fase do app.

“Está chamando pra todo lado. Quem quiser trabalhar na CooperTáxi roda o dia inteirinho, se quiser. Tá dando gosto de trabalhar. Os motoristas falam comigo ‘Leo, tá dando prazer de trabalhar no táxi de novo, cara’, porque onde ele vai já tem outra corrida pra ele atender”, conta.

Leonardo foi um dos criadores do aplicativo CooperTáxi BH (Leonardo Fábio/Arquivo Pessoal)

Um dos taxistas que está bastante otimista com o cenário é Alexandre Vieira, que trabalha no ramo em Belo Horizonte há 30 anos. Ao BHAZ, ele relembra as dificuldades que enfrentou durante todo esse tempo circulando pelas ruas da capital e disse que em 2019 esteve à beira de desistir.

“A minha melhor época como taxista foi nos anos 2000 até 2015, mais ou menos. A partir de 2016 começou a ficar bem complicado por conta dessa ‘divisão do bolo’ com os aplicativos. Ainda veio a pandemia e até meados de março desse ano foi bem difícil”, relembra.

Esperança e pé no chão

Para Alexandre, o avanço da vacinação na capital foi fundamental para que as corridas de táxi voltassem a ser procuradas. Até o final desse ano – quando a expectativa é de que toda a população adulta da cidade já tenha se imunizado com as duas doses – ele acredita que o cenário pode ser ainda melhor.

“Nos últimos dois, três meses eu tive um aumento de cerca de 15% nas corridas. Graças à flexibilização e à vacina as coisas começaram a voltar a funcionar aos poucos e, como todo mundo está bem excitado pra retomar a vida normal, realmente a procura aumentou um pouco”, relata.

Mas apesar da boa fase, Alexandre acredita que necessário manter os pés no chão neste momento. Para ele, essa retomada do táxi está longe de significar “o fim” dos aplicativos de mobilidade.

“Na minha opinião um dos motivos do aparecimento dos aplicativos é que faltava táxi na cidade. Por isso, eu não acho que o táxi vá voltar a ser a única alternativa, mas acredito que deveria existir o algo que sempre pedimos: uma regularização, para que a coisa não funcionasse de maneira tão selvagem. A forma com que esse pessoal trabalha é até desumana”, pondera.

Mesmo cautelosos, os profissionais ganharam ainda mais motivação com a retomada do movimento e enxergam o momento atual como uma oportunidade. “Nós temos que aproveitar esse momento e mostrar o nosso diferencial”, pontua Leonardo.

BHAZ comparou os preços

O BHAZ simulou três corridas, com origem e destino em diferentes pontos da capital, no CooperTáxi BH, no Uber e na 99 e comparou os preços. No início da tarde de uma sexta-feira, por exemplo, uma viagem que parte da Praça da Savassi e vai à região o Centro de BH, a diferença é relativamente pequena, chegando à R$ 3.

Se um nível maior de conforto for importante para o passageiro, nesse caso sai mais em conta optar pelo CooperTáxi, cujo preço ficou mais barato que a categoria “Comfort” do Uber na simulação. Em comparação com a mesma categoria do aplicativo da 99, no entanto, o táxi sai um pouquinho mais caro.

Simulação de corrida da Savassi ao Centro de Belo Horizonte, nos três aplicativos, no horário do almoço (Reprodução/CooperTáxiBH + Uber + 99)

Em corridas maiores, no entanto, a diferença foi significativa. Simulamos uma viagem do Aeroporto da Pampulha ao bairro Floresta, na região Leste de BH, e a corrida pelo Uber ficou até R$13 mais barata que no CooperTáxi e cerca de R$1 mais em conta que na 99.

Simulação de corrida da Pampulha à região Leste de Belo Horizonte, nos três aplicativos (Reprodução/CooperTáxiBH + Uber + 99)

A terceira simulação foi feita no horário de pico e a diferença foi ainda maior. Enquanto no CooperTáxi BH o valor estimado é de R$86,05, no Uber, a corrida ficaria em R$69,55 na versão “Comfort”, uma diferença de mais de R$16.

Já pelo 99 houve uma variação de até R$47, no próprio aplicativo, a depender da categoria de viagem escolhida pelo passageiro.

Simulação de corrida de Venda Nova à região do Barreiro, nos três aplicativos (Reprodução/CooperTáxiBH + Uber + 99)

Vale reforçar que a simulação não levou em conta o tempo que o aplicativo demora para localizar um motorista ou os constantes cancelamentos de corrida, que têm sido as principais reclamações dos belo-horizontinos a respeito das empresas de mobilidade que atendem a capital.

Além disso, nos horários em que o BHAZ simulou as corridas, não foram aplicadas, em nenhum dos serviços, as chamadas “tarifas dinâmicas”, que aumentam o preço da corrida de acordo com a disponibilidade de motoristas, com as condições do trânsito e, às vezes, até o clima da cidade.

Outras formas de solicitar corridas

Além do aplicativo, existem formas ainda mais simples de se locomover utilizando o CooperTáxi BH. Agora, o serviço pode ser solicitado também pelo WhatsApp.

“O cliente chama pelo número (31) 2108-2424, informa onde ele está e pra onde quer ir e ganha o mesmo desconto do aplicativo. Nós mandamos as informações do motorista e ele acompanha a corrida da mesma forma, só que pelo WhatsApp”, explica Leonardo Fábio.

E para aqueles que não têm tanta familiaridade com a tecnologia, ainda é possível pedir o táxi do jeito tradicional. “Nós temos também o call center, várias senhorinhas de idade ainda ligam pra pedir o serviço. Isso ajuda muito, porque muitas pessoas de idade não sabem baixar o aplicativo”, comenta.

Pedido de corrida do CooperTáxi BH pelo WhatsApp (Reprodução/WhatsApp)
Edição: Giovanna Fávero
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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