Belo Horizonte foi considerada a cidade com o transporte público mais eficiente comparada a outras oito cidades brasileiras, levando em conta o tempo de deslocamento diário entre a residência e o endereço dos locais que oferecem o maior número de oportunidades de trabalho aos moradores em um intervalo máximo de 45 minutos. De acordo com a pesquisa, desenvolvida pelo Instituto Cidades Responsivas, por meio do Indicador de Mobilidade Urbana, o dado é favorecido pela estrutura urbana planejada de BH, que cresceu entorno da Avenida do Contorno, a partir de um centro, o que diminui o percurso na cidade.
Segundo Guilherme Dalcin, cientista de dados do Instituto Cidades Responsivas, a pesquisa não avalia questões ligadas à qualidade dos ônibus, possíveis atrasos, funcionalidade das linhas e, até mesmo, medir o tempo que cada indivíduo precisa percorrer. “Geralmente, esse tipo de pesquisa é muito cara e poucas cidades contêm essas informações levantadas e detalhadas, porque é muito subjetivo. O nosso intuito é abordar a mobilidade pensando nas oportunidades que podem ser acessadas pela população, tendo em vista a organização das cidades”, explicou o pesquisador ao BHAZ.
A capital mineira foi analisada juntamente com São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Fortaleza e Porto Alegre. O indicador analisou o sistema de mobilidade das cidades com base na eficiência com que os domicílios estão conectados às vagas de trabalho existentes no próprio município e as cidades aos arredores.
Pensando nisso, quando o indicador está mais próximo de ‘1’ (a melhor taxa possível) significa que o número de casas equivale às oportunidade de trabalho formais em um prazo de até 45 minutos. BH tem o maior índice para o transporte público (0.36), seguida de Curitiba (0.26), São Paulo (0.23), Porto Alegre (0.23), Fortaleza (0.19), Florianópolis (0.19), Salvador (0.16) e Rio de Janeiro (0.13).
A análise também avaliou o tempo de deslocamento entre os municípios da região metropolitana, e o prazo de percurso de transporte individuais, como automóveis.
Entenda os índices
Para chegar nos índices, o instituto usou a localização dos domicílios, por meio de dados fornecidos pelo Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e dos empregos do mercado formal, indicados pelo Ministério do Trabalho. Assim, com base no tempo de deslocamento, indicados pelo Google e OpenStreetMap, o estudo conseguiu avaliar quantas oportunidades a pessoa conseguiria alcançar no intervalo de tempo estabelecido.
“Nós não avaliamos somente o número absoluto de oportunidades, porque cidades maiores, como São Paulo, sairiam em vantagem comparada às demais. Por isso, incluímos a quantidade de pessoas que vão concorrer a um trabalho específico naquela região”, contou Dalcin ao BHAZ. Ele também ressalta que os tempos de deslocamento foram analisados entre 6h30 e 8h dos dias úteis, e foram consideradas as opções mais rápidas. Além disso, o percurso entre os domicílios e as paradas de ônibus foram inseridas.
A escolha do prazo foi baseada no livro sobre acessibilidade urbana, ‘Ordem sem Design’, de Alain Bertaud. Na obra, o autor cita que, em cidades grandes, o trabalho é acessível em deslocamentos de até uma hora. Porém, o especialista do instituto optou por reduzir 15 minutos, já que as previsões pareciam ‘otimistas’.
BH teria melhor estrutura urbana
Para o cientista de dados, o que coloca Belo Horizonte a frente das demais capitais é a estrutura urbana. “Assim como Curitiba, BH é uma cidade radial. Ela cresce em algo próximo a um círculo, a partir de um centro e, pensando nisso, o percurso na cidade é menor. Além disso, não há barreiras geográficas que impedem o deslocamento e crescimento de densidades próximas à região central. Diferente de Florianópolis, por exemplo, que tem vários morros, ou o Rio de Janeiro que tem pontos de distância de até 40 km.”, explicou.
Questionado se linhas como o Move contribuiriam para o encurtamento do prazo, Guilherme pondera que este é outro fator curioso. “Criar essa conexão imediata entre o centro e a periferia (bordas da cidade) é importante, porque um dos problemas dessa proximidade de empregos é transportar essa população que geralmente necessita da mobilidade pública. Por isso, essas linhas mais rápidas contribui para essa aproximação”, conta.
O pesquisador ressalta que, para os centros urbanos alcançarem melhores índices, é fundamental repensar as densidades populacionais no plano diretor da cidade e as permissões de ocupação para cada região da cidade. Esse ajuste permitiria, de forma mais eficiente, que mais pessoas residissem nas áreas com maior concentração de empregos ou incentivaria a criação de novos postos de trabalho nas regiões com maior densidade populacional.
“Como a gente lida com planejamento urbano no instituto, vemos essa solução para aproximar as pessoas do local de trabalho, sem precisar mexer diretamente na infraestrutura de transporte. O segundo passo seria a melhoria da mobilidade pública, como ônibus e metrô, justamente ‘correndo atrás’ das ineficiências que o plano diretor não conseguiu dar conta. Assim, conectando, de forma eficaz, as zonas mais afastadas dos centros urbanos”, finalizou.