Advogado vai a juri popular após espancar a ex no Buritis

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Demétrio Antônio Vargas de Mattos vai a júri popular por tentativa de feminicídio de Kely Loiola Pereira (Arquivo pessoal/Kely Loiola Pereira)

O advogado Demétrio Antônio Vargas de Mattos de 48 anos, acusado de agredir a consultora de vendas Kely Loyola Pereira, de 44, em abril de 2017, vai a júri popular nesta sexta-feira (26) por tentativa de feminicídio. Segundo a vítima, ele também agrediu outras sete mulheres. O homem já foi preso em outras ocasiões e está em regime fechado desde o ano passado, após descumprir medidas cautelares.

Kely foi espancada na porta da casa onde vivia no bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte. Na época, com 41 anos, ela sofreu traumatismo craniano e ficou internada no Hospital João XXIII após levar chutes e socos do ex-namorado. A consultora de vendas teve um relacionamento de um ano com o agressor e, atualmente, o local onde mora é protegido por segredo de Justiça.

Ao BHAZ, Kely desabafa e diz que espera a condenação máxima para o homem. “Eu espero que a Justiça seja feita, porque ele é uma pessoa agressiva, sou a oitava vítima. Quero que ele pague pelos crimes que cometeu. Não só em relação a mim, mas em relação as outras vítimas. O que faço é por mim, é por elas também”.

‘Não tenho medo’

A consultora de vendas explica que aquela havia sido a primeira agressão e que ela não se esconderia, indo até o fim para vê-lo condenado. “Eu sou o tipo de mulher que não tem medo, que não se cala, nasci assim. Eu sempre falava que se um homem encostasse as mãos em mim, eu colocava na cadeia. Acho que ele não acreditou que eu fosse adiante, e foi aí que ele errou feio. Mesmo eu sendo ameaçada, segui até o final”.

O caso foi muito repercutido na época e as outras vítimas entraram em contato com Kely. Ela também falou das sequelas deixadas pelas agressões. “Me tornei amiga delas, nos damos forças. Eu fiz um tempo de terapia, realmente não foi fácil. Fiquei um mês sem memória, por conta de uma hemorragia cerebral e traumatismo craniano. Recentemente, tem uns dois meses, entrei com processo cível e fiz uma ressonância magnética no crânio. Tenho uma mancha no cérebro por causa da agressão. Estou passando por vários médicos, para ver se é algo sério”.

Dificuldades em se relacionar

Após a agressão covarde, Kely explica que não conseguiu mais ter um relacionamento sério. “É um pouco difícil. A gente vê muitos casos de mulheres sendo agredidas, eu sempre vou com os dois pés atrás. Tive outros relacionamentos, de lá para cá, mas sempre me recuando de um namoro sério. O trauma realmente é grande. Sei que não são todos os homens que são assim, mas sempre fico receosa”.

A vítima afirma que só vai ter “paz e sossego” quando o homem for condenado.”Preciso colocar um ponto final em cima disso. Quero poder deixar para trás tudo isso de ruim que passou, e deixar minha vida voltar ao normal. Sei que depois disso vou poder dormir melhor, viver melhor”.

Agressor tentou alegar insanidade

Kely ainda lembra que a família do agressor tentou alegar insanidade mental, para que ele fosse internado, mas o pedido foi negado. “Abriram um processo para verificar se ele tinha algum problema mental. Com isso, ele passou por perícia e o perito deu que ele era imputável, ou seja, ele pode ser penalizado. De doido ele não tem nada. Se ele fosse, o pedido já teria sido feito há muitos anos atrás. Ele era advogado criminalista, tinha uma vida normal. Isso é safadeza, pilantragem, gosta de bater em mulher”.

Questionada se está pronta para o julgamento, para ver o agressor de perto, Kely se diz ansiosa pelo momento. “Estou pronta para encará-lo, vê-lo no tribunal. Estava contando os dias para essa hora chegar. Vou até o fim, até mesmo para que não tenha mais vítimas dele. Outras mulheres têm que ver a cara dele estampada em todos os lugares possíveis”, completa.

Irmã de testemunha foi agredida

Uma testemunha de acusação, que prefere não se identificar, disse que a irmã foi outra vítima de Demétrio, mas que o caso foi arquivado. “Minha irmã sofria agressões constantes dele, eles ficaram juntos durante quatro anos, desde 2011. Na minha casa não se fala nesse assunto, ele destruiu a minha família. A minha expectativa é que continue sendo feita Justiça, ele é um perigo para a sociedade. Ele chegou a falar comigo que nunca ia ser preso, que não tem Justiça no Brasil que prenda ele. Ele falava que a família dele era poderosa, que ele sairia impune”.

Segundo a testemunha, o homem não aceitava os términos de relacionamento. “Ele batia para matar. A maioria das vítimas ele atingia na cabeça, com chutes e socos, de forma covarde mesmo. Quero que ele seja condenado, fique preso. Eu acredito muito na Justiça de Minas Gerais, que nada fique impune. Eu falei para ele que um dia a casa dele iria cair, que a Justiça seria feita”.

‘Sirva de exemplo’

“Quero que esse homem sirva de exemplo para os valentões que acham que podem bater em mulher e que não vai acontecer nada. É um absurdo um homem forte, lutador de muay thai, formado em direito, que fez um juramente no dia da formatura, fazer o que ele fez. Quando ele formou, jurou que protegeria as pessoas. Estarei lá para ver sua condenação”, completa.

O BHAZ tentou contato com o advogado de defesa do réu, mas não obtivemos retorno. Caso a parte queira se manifestar, a matéria será atualizada.

Onde e como denunciar?

Na capital mineira, além da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher, existem ao menos outras três instituições que atendem mulheres vítimas de violência: Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher), da Defensoria Pública; Casa Benvinda, da Prefeitura de Belo Horizonte; e Casa de Referência Tina Martins, do chamado terceiro setor, sem vínculo governamental. Além disso, existe também o aplicativo MG Mulher, do governo de Minas (veja aqui).

  • Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher: av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190
  • Casa de Referência Tina Martins: r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221
  • Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher): r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171
  • Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher: r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380
Edição: Roberth Costa
Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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