Arquidiocese de BH afasta padre de Santa Luzia acusado de assediar ex-funcionárias

Padre José Carlos Pereira
Arquidiocese afirma que dialogou com o padre e com a comunidade paroquial (Reprodução/ Paroquia São Benedito Santa Luzia/Youtube)

A Arquidiocese de Belo Horizonte informou, nesta terça-feira (9), que afastou o padre José Carlos Pereira, acusado de assediar sexualmente três mulheres que trabalhavam em um colégio de Santa Luzia. As denúncias vieram à tona no final de outubro.

“Em respeito à dignidade de cada pessoa, a Cúria Metropolitana decide pelo afastamento do sacerdote, até que seja concluído o processo legal”, comunicou a entidade. A Arquidiocese afirma que dialogou com o padre e com a comunidade paroquial e que confia que a justiça prevalecerá.

“Desde que tomou ciência das denúncias, a Arquidiocese de Belo Horizonte procurou agir com rapidez, mas com prudência, se inteirando do processo, em diálogo com as instâncias oficiais, o que exige respeito a prazos de instituições e agentes do direito”, diz o comunicado.

O padre José Carlos Pereira é responsável por uma igreja que fica no bairro São Benedito, na cidade da região metropolitana de Belo Horizonte, além de ser dono da rede Colégio São Benedito, que tem duas unidades de escolas e uma faculdade.

Ele atua como padre na comunidade há décadas, e, inclusive, foi o responsável pelo batismo de uma das vítimas que denunciam o abuso. De acordo com as vítimas, o pároco mantinha uma rotina de abusos, além de dar dinheiro para as mulheres no fim da semana.

As denúncias

A primeira vítima procurou a polícia no dia 29 de agosto, quando o advogado entrou com representação criminal detalhando o depoimento da jovem e pedindo apuração da denúncia.

De acordo com Mário Lúcio de Moura Alves, que representa a vítima de 23 anos, os abusos começaram em março de 2020 e se repetiram semanalmente por mais de um ano.

“Toda sexta-feira, o padre a chamava para a sala dele, onde aconteciam as abordagens sexuais e o abuso. Ele tentava apalpá-la, beijá-la, e depois dava uma quantia em dinheiro para ela além do salário, como se estivesse pagando por uma ‘atividade fora do trabalho’”, descreve Mário Lúcio Alves .

A representação criminal descreve como o assédio teria começado: “o representado começou a praticar uma série de atos abusivos, retirando a máscara de proteção do rosto da representante, forçando beijos de lingua e afirmando que queria ser um ‘pai para ela’, que ‘gostava muito dela’, que ficava em casa e ‘pensava nela’”.

“Mesmo diante das evasivas da representante, as investidas continuaram e foram se tornando mais ousadas, e o representado começou a ‘passar a mão na barriga desta, subir as mãos por debaixo da blusa e tocar seus seios’, sempre justificando que ‘tinha um carinho muito grande por ela como se fossem um casal”, completa o documento, que lista várias outras ocasiões de suposto abuso sexual.

Segundo o advogado, quando a jovem procurou o apoio jurídico ela estava em estado de pânico e já tinha “ido até o limite”, sem aguentar mais a situação. A vítima está muito abalada e, agora, conta com apoio psiquiátrico e psicológico.

Mais vítimas

Depois que a jovem se demitiu da escola, funcionárias de outras unidades da instituição entraram em contato com ela e acabou-se descobrindo que o padre José Carlos Pereira teria feito outras vítimas. O advogado Tiago Lenoir, que representa uma delas, conta que a situação era parecida com a jovem.

“Ele constantemente abusava dela, a beijava à força, passava a mão nas partes íntimas… Chegamos a contar e foram mais de 50 abusos, ao longo de um ano. Toda semana, ele também dava dinheiro para ela, fora o salário, até que a situação se tornou insuportável e ela saiu”, relata.

A vítima afirma que toda vez que ficava sozinha com o padre, ele agia, seja no colégio ou na paróquia. “Queria que as mulheres tivessem coragem de falar também, porque essas coisas ficam muito abafadas na cidade. Agora que começou, que elas tenham coragem, porque o silêncio mata”, desabafa.

Com uma terceira vítima, representada por outro advogado, as duas jovens e seus representantes foram até a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Santa Luzia no dia 26 de outubro. “Só então que o inquérito andou, sendo que a primeira representação foi feita há quase dois meses e ninguém tinha sido intimado”, aponta Lenoir.

Na delegacia, as vítimas foram ouvidas pelo delegado. De acordo com a Polícia Civil, a investigação tramita sob sigilo e “outras informações serão prestadas em momento oportuno para não atrapalhar os trabalhos investigativos”.

Onde conseguir ajuda?

Caso você seja vítima ou conheça alguém que precise de ajuda, pode fazer denúncias pelos números 181, 197 ou 190. Além deles, veja alguns outros mecanismos de denúncia:

Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher: av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190

Casa de Referência Tina Martins: r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221

Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher): r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171

Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher: r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380

Ponto de Acolhimento e Orientação à Mulher em Situação de Violência: avenida dos Andradas, 3.100, no Núcleo de Cidadania da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Aplicativo MG Mulher: Disponível para download gratuito nos sistemas iOS e Android, o app indica à vítima endereços e telefones dos equipamentos mais próximos de sua localização, que podem auxiliá-la em caso de emergência. O app permite também a criação de uma rede colaborativa de contatos confiáveis que ela pode acionar de forma rápida caso sinta que está em perigo.

Seja qual for o dispositivo mais acessível, as autoridades reforçam o recado: peça ajuda.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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