Assédio e estupro contra alunas da PUC Minas assusta e mobiliza universitários

Google/Street View

No ano passado, estudantes da PUC Minas viviam dias de medo e preocupação, no Coração Eucarístico, região Noroeste de BH, quando casos de assédio sexual nos arredores da universidade começaram a repercutir nas redes sociais. À época, duas estudantes foram vítimas e registraram ocorrências junto à Polícia Militar (PM), que intensificou patrulhas pelo bairro.

Agora, exatos 12 meses depois, a PUC do Coreu voltou ao centro de discussões relacionadas às violências sofridas pelas mulheres. Nessa segunda-feira (26), o Diretório Acadêmico do curso de Letras da instituição divulgou uma nota de repúdio contra crimes sexuais. Segundo o texto publicado no Facebook, alunos do Instituto de Ciências Humanas (ICH) tomaram conhecimento de outros casos de abuso. Desta vez, no entanto, um deles ocorreu dentro da universidade.

Universitários de diferentes cursos da PUC Minas reuniram-se na última sexta-feira (23) para discutir o assunto. Uma foto que mostra os estudantes juntos em um pátio do Coreu acompanha o post com o posicionamento do Diretório de Letras. A conversa resultou em uma proposta para criação de uma Comissão de Mulheres, que terá como objetivo dar apoio e assistência a vítimas de assédio. E apenas mulheres serão aceitas no grupo. “Todos nós sentimos muito por tudo isso, mas não aceitaremos e nem nos calaremos diante dessa situação”, diz um trecho da publicação.


Ao Bhaz, uma estudante do 9º período de psicologia contou ter sofrido assédio dentro da PUC ainda no ano passado. Cindy Gallinari, de 21 anos, explicou ter feito um Boletim de Ocorrência junto à PM depois que um rapaz tocou os cabelos dela e a beijou sem consentimento durante uma reunião com membros de diferentes diretórios. “Eu estava sentada e alguém tocou no meu cabelo. Quando olhei para cima, fui beijada por ele sem mais nem menos”, disse.

A estudante explica que o rapaz em questão não é aluno da PUC, mas mantém amizade com um tesoureiro e está sempre nas dependências da instituição. Ela conseguiu um vídeo de câmeras de segurança que mostra o momento do assédio. O material já foi encaminhado à Polícia Civil, que investiga o caso. “Eu fiquei surpresa, desnorteada no primeiro momento”, contou. “Depois, esse rapaz veio até mim para se desculpar, mas disse que eu havia dado abertura. Fiquei confusa e comecei a me culpar, mas depois entendi que não tive culpa”, continua. “A vítima não pode ser responsabilizada”, pondera a jovem, que aguarda uma intimação das autoridades.

Câmeras registraram momento em que Cindy foi assediada dentro do Diretório Central dos Estudantes, na PUC Minas.

Questionada, Cindy diz não ter conhecimento de ações da PUC para conscientizar e até mesmo evitar que estudantes sejam assediadas na universidade. No caso dela, o assédio partiu de um rapaz que não é aluno. “Gosto da ideia de que o campus seja aberto, muita gente gosta de ir lá, é um lugar bonito”, conta. “Mas deveriam pedir no mínimo a identificação de pessoas que não estudam por lá para ter um controle e, quem sabe, evitar a presença de gente mal intencionada. Uma aula educativa e obrigatória sobre o tema também poderia ajudar”, sugere.

Já outra universitária da PUC foi estuprada depois de uma recepção de calouros, também no ano passado. Estudante do curso de História, ela tem 20 anos e prefere não se identificar. A jovem conta que a mobilização ocorrida na última semana a motivou a falar sobre o crime, assim como saber não ter sido a primeira mulher da instituição a ser violentada. A estudante denuncia ter sido alvo de um estudante do curso de Geografia, o qual ela descobriu recentemente ter sido acusado de atacar outra garota em uma ocupação contra a PEC 55, em novembro de 2016.

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Na ocasião, o universitário foi convidado para dormir na casa da colega. Ela explica que os dois nunca haviam se envolvido e que o rapaz a atacou durante a noite. Desde então, ele teria deixado de frequentar as aulas na PUC. E a rotina da jovem mudou: agora só anda acompanhada. Nos dias após o estupro ficou sem saber o que fazer, mas agora criou coragem para denunciá-lo e já toma providências legais. “O abuso vem de pessoas que a gente não espera, então é preciso ter a atenção redobrada e fortalecer grupos de meninas. A mobilização que propõe a criação da Comissão de Mulheres e o acolhimento que recebi me encorajaram”, disse.

“Eu acredito que esse levante pode fazer com que surjam medidas que ajudem as vítimas. E é importante dizer para que as mulheres tenham noção de que não são culpadas, de que não estão sozinhas e vão ter apoio. Muitas mulheres vão estar ao lado. Então denunciem, isso tem que parar de qualquer jeito. A gente deve denunciar para que não se repita com outras”, pondera.

O Bhaz entrou em contato com a PUC Minas para que a instituição comentasse o assunto. A reportagem procurou saber qual o posicionamento da universidade sobre a mobilização dos alunos ocorrida na última semana e se há alguma ação institucional para combater formas de violência contra as mulheres ou conscientizar os estudantes. Por meio de nota, a PUC se limitou a explicar que “a direção do Instituto de Ciências Humanas (ICH) busca, neste momento, mais esclarecimentos a respeito das questões levantadas para tomar as devidas providências”.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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