Atividade de escola na Grande BH pede que alunos usem bombril para ilustrar cabelo afro; professora se justifica

Atividade de escola
Professora disse que objetivo era estimular a percepção tátil e promover reflexão sobre a identidade negra (Reprodução/Redes sociais)

Uma atividade proposta em uma escola de Ribeirão das Neves, na Grande BH, provocou revolta ao pedir que os alunos usassem bombril para ilustrar o cabelo afro de uma pessoa negra. Com a repercussão negativa do exercício, a professora responsável se justificou e disse que o objetivo era estimular a percepção tátil e promover reflexão sobre a identidade negra (leia mais abaixo).

O exercício foi enviado por meio de grupo de WhatsApp aos responsáveis pelos estudantes da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) Maria Azevedo Costa. A professora enviou um áudio dando as orientações para a atividade, da disciplina de Artes.

“Hoje é Dia da Consciência Negra, então vocês vão fazer o seguinte: colocar, em cima do cabelo, fazendo um enfeite com bombril”, disse a profissional em mensagem gravada no sábado (20). A atividade consiste na ilustração em preto e branco de um homem de cabelo afro, simbolizando uma pessoa negra.

A atividade provocou revolta entre os responsáveis que estavam no grupo, já que a associação do cabelo crespo à palha de aço – utensílio frequentemente chamado pelo nome da marca Bombril – tem um histórico racista e de opressão à população negra.

Professora se justifica

Procurada pelo BHAZ, a APAE de Ribeirão da Neves informou que repudia qualquer manifestação racista e ou preconceituosa. “Inclusive trabalhamos com um público que historicamente sofre com o preconceito, pessoas com deficiência intelectual”, completou a instituição.

A APAE também pediu que a professora se explicasse. Por meio de um texto, Luciana Silva, professora do 3º ano do ensino fundamental da escola, disse que queria demonstrar que o tipo de cabelo e a cor da pele não podem ser fatores que determinam as oportunidades que uma pessoa deve receber.

“Minha turma é composta por oito estudantes com deficiência múltiplas. O trabalho está sendo desenvolvido de forma remota por ser público de risco. No dia 20/11, Dia da Consciência Negra, postei no grupo de WhatsApp dos familiares dos meus alunos uma tarefa onde eles deveriam compor o cabelo do desenho enviado, com fios de aço”, começa o texto (leia na íntegra abaixo).

Ela explica que, na mesma atividade, também usou um trecho de música composta por Paulinho Camafeu, publicado no jornal O Tempo no mesmo dia. “[O trecho] relata as dificuldades das pessoas negras em arrumar emprego por causa da sua cor e principalmente por causa da características dos seus cabelos”, pontua a professora.

“Com isso quis demonstrar para os meus alunos que o tipo de cabelo e ou a cor da pele não pode ser referência para dar oportunidades, bem como todos somos iguais independente das características”, completa.

A profissional ainda diz que o uso do bombril teria como objetivo o desenvolvimento da imaginação dos alunos, estimulando a percepção visual, tátil e a motricidade fina, promovendo a capacidade de expressão e conhecimento do mundo.

“E eu como professora de estudantes com deficiência promovo ações que demonstra essa igualdade que todos queremos. Portanto quero aqui pedir desculpas se despertei uma impressão de preconceito, minha intenção foi exatamente o contrário, ou seja, promover a reflexão sobre a identidade negra”, conclui.

Justificativa na íntegra

“Boa tarde , venho por meio deste explicar sobre a atividade proposta por mim, Luciana Silva professora do 3º ano do Ensino Fundamental da Escola Especial Maria Azevedo Costa ,da APAE com formação em Artes e Pedagogia.

Minha turma é composta por 08 estudantes com deficiência múltiplas. O trabalho está sendo desenvolvido de forma remota por ser público de risco.

No dia 20/11 dia da Consciência Negra, postei no grupo de whatsapp dos familiares dos meus alunos uma tarefa onde eles deveriam compor o cabelo do desenho enviado, com fios de aço , pois na mesma atividade eu postei um texto de Paulinho Camafeu retirado o Jornal O Tempo do mesmo dia, onde relata as dificuldades das pessoas negras em arrumar emprego por causa da sua cor e principalmente por causa da características dos seus cabelos.

Com isso quis demonstrar para os meus alunos que o tipo de cabelo e ou a cor da pele não pode ser referência para dar oportunidades, bem como todos somos iguais independente das características.

O objetivo com a atividade foi valorizar a cultura negra e afrodescendentes com suas características. E como tem na ementa da disciplina de Artes a Exploração de diferentes materiais de textura, nas atividades propostas no dia a dia onde visa o desenvolvimento da imaginação, estimulando a percepção visual, tátil e a motricidade fina promovendo a capacidade de expressão e conhecimento do mundo.

E os meus alunos mais do que qualquer pessoa, acreditam que somos todos iguais considerando que são pessoas com deficiência e carregam preconceitos e mitos há séculos.

E eu como professora de estudantes com deficiência promovo ações que demonstra essa igualdade que todos queremos.

Portanto quero aqui pedir desculpas se despertei uma impressão de preconceito, minha intenção foi exatamente o contrário, ou seja promover a reflexão sobre a identidade negra.

Escrito pela Professora Luciana Silva“.

Edição: Vitor Fernandes
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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