Backer diz que há substâncias tóxicas em outras marcas de cerveja e entra na mira de processos

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Backer afirma que encontrou substâncias tóxicas em outras marcas (Amanda Dias/BHAZ + Reprodução/Envato)

Além de estar no centro da uma investigação criminal que envolve mortes e pessoas contaminadas, a Backer também pode ter de enfrentar o próprio mercado cervejeiro do qual faz parte. É que associações que representam o mercado de cervejas artesanais vão acionar a empresa na Justiça.

Diretor da Abracerva (Associação Brasileira de Cerveja Artesanal) e vice-presidente do Sindbebidas (Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas de Minas Gerais), Marco Falcone explica que a motivação surgiu a partir de uma fala do advogado da Backer, Estêvão Nejim. O defensor falou durante audiência pública realizada na CMBH (Câmara Municipal de Belo Horizonte), nesta quarta (4), sobre um método que identificou substâncias tóxicas em cervejas de outras marcas.

Para Falcone, o posicionamento trata-se de “calúnia e difamação, que podem afetar todo o setor cervejeiro”, afirmou ao BHAZ. Procurada, a Backer disse que considera a ação “um direito constitucional”.

A Backer explicou que apresentou na audiência um estudo feito por três laboratórios independentes: Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT; Departamento de Química da UFMG; LABM – Laboratório Amazile Biagioni e uma perita em química.

“As análises realizadas comprovaram a presença de dietilenoglicol e de monoetilenoglicol em todas as marcas de cervejas pesquisadas. A literatura mundial indica a presença de MEG (monoetilenoglicol) em produtos fermentados, como é o caso das cervejas, em quantidade que não prejudica a saúde dos consumidores. Por isso, somente a análise qualitativa não é suficiente para identificação de contaminação de um produto. O simples fato de existir essa substância na cerveja não torna o produto impróprio para o consumo”, disse a cervejaria ao BHAZ.

O advogado da empresa disse, durante a sessão, que entregou o estudo às autoridades. “Compartilhamos essa metodologia, tanto com Polícia Civil tanto com o Ministério da Agricultura, que foram feitas outras análises que identificaram traços, que eles chamas de sinais instrumentais, de mono e dietilenoglicol em várias outras marcas de cervejas”, disse Estêvão.

Ainda de acordo com o defensor, não se trata de uma tentativa de eximir a Backer de culpa. “A intenção não é isentar responsabilidade, longe disso. Tivemos sim um episódio de identificação de um pico diferente de mono e dietilenoglicol em um lote específico. Esse lote que nós identificamos foi produzido em um mesmo tanque, isso já foi compartilhado com as autoridades. Até então, estamos sem as informações quantitativas. Ninguém ainda compartilhou o que seria a concentração necessária para causar essa intoxicação”, acrescentou o advogado.

Falcone considera o posicionamento da Backer como uma tentativa de prejudicar o mercado. “Isso é algo totalmente estapafúrdio. Essa afirmação de que produtos tóxicos, que eles usaram indevidamente, são gerados no processo de fermentação, não se sustenta. Erraram e querem levar todo mundo para a mesma vala”, disse.

O empresário afirma que não há o risco de uma contaminação acontecer com outra cerveja. “O setor não corre esse risco, o público pode manter confiança. Isso não vai ocorrer. Nenhuma cervejaria usa o que utilizaram. É uma tentativa da Backer de morrer atirando em todo mundo e o setor não vai aceitar isso”, diz.

“Isso é injúria, calúnia e difamação. Falo pela abracerva e pelo Sindbebidas, nós não vamos aceitar isso. Vamos entrar com um recurso criminal contra a Backer. Isso que eles estão falando pode respingar em todo setor, não é justo. Foi um erro deles, erraram e muito, ninguém utiliza mono e dietileno no resfriamento, só eles usavam. Querem contaminar o setor com o erro deles e acabar com o crescimento que tivemos com muita luta em mais de 20 anos”, acrescenta Falcone.

No início das investigações Marco chegou a dizer que confiava na Backer e pediu urgências nas investigações para esclarecer os fatos. Agora, ele alega que mudou de posição. “Não podemos ser conclusivos, pois as investigações estão em andamento. Mas, posso dizer categoricamente que minha confiança na Backer reduz cada vez mais”, afirma.

Investigações

As investigações sobre a síndrome nefroneural associada à intoxicação por mono e dietilenoglicol já ultrapassam dois meses. Mais de 60 pessoas já prestaram depoimentos, entre vítimas, familiares e outras testemunhas. Várias perícias já foram realizadas, tanto na empresa, quanto nas amostras de cervejas fornecidas pelos familiares de pacientes internados.

Desde a última quinta (27) a Polícia Civil e integrantes do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) realizam análises nos tanques da fábrica da Backer, no bairro Olhos D’Água, em BH. Objetivo da perícia é descobrir se há ou não vazamentos nos equipamentos da empresa.

O BHAZ tentou contato com Estêvão Nejm, para que ele pudesse esclarecer detalhes sobre o levantamento que encontrou as substâncias tóxicas em outras marcas. No entanto, ele disse que não poderia responder à reportagem por estar em uma reunião com representantes da Backer. O advogado disse que estaria disponível para atender ao BHAZ em outro momento. A matéria será atualizada caso Estevão se pronuncie.

Ao BHAZ, a Backer disse ainda que “ao tornar público os exames realizados, a Backer não quer se isentar de suas responsabilidades, pelo contrário. Por meio desses estudos e laudos técnicos, quer trazer luz e transparência sobre um assunto que é de interesse de toda a sociedade”, disse.

Quanto ao apoio às vítimas, a empresa alega que não consegue cumprir o acordo judicial, já que está com os bens bloqueados. “A Backer reafirma seu interesse em prestar todo o apoio possível às famílias. No entanto, está impossibilitada de fazê-lo, pois a justiça que cobra da empresa o apoio a essas pessoas, é a mesma que bloqueou todos os bens da cervejaria, inviabilizando assim qualquer ajuda nesse sentido. A empresa participou hoje de uma audiência pública realizada na Câmara Municipal de Belo Horizonte e reafirmou, perante aos familiares das pessoas intoxicadas, o compromisso de prestar assistência aos atingidos”. afirma.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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