Barragem da Vale vazou lama meses antes do rompimento, diz funcionário

Amanda Dias/BHAZ

A mineradora Vale sabia de vazamentos de lama na barragem e tentou conter o problema seis meses antes do rompimento. Isso é o que garante o funcionário da empresa Fernando Henrique Barbosa, que perdeu o pai, Olavo Coelho, também funcionário da empresa e soterrado pela lama da barragem B1, em Brumadinho.

A informação foi dada por Fernando durante depoimento prestado à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta segunda (8).

É a primeira vez em que alguém fala em vazamentos na estrutura que entrou em colapso no dia 25 de janeiro deste ano. Até o momento, são 248 mortes foram confirmadas e 22 desaparecidos.

Segundo Fernando, o pai dele foi chamado pela mineradora para conter os vazamentos, cerca de seis ou sete meses antes da tragédia. “Chamaram meu pai por volta das 22h40, pois estava brotando lama na grama. Se vazou para fora, é que por dentro estava tudo comido. Eles colocaram areia e brita para tentar fazer o paliativo”, conta Fernando.

Na época, Olavo Coelho orientou o filho a evitar o local, pois a barragem era uma “bomba relógio”. Olavo teria dito a Fernando: “filho, fica no ponto mais alto e qualquer barulho você corre. Aquilo – a barragem – vai estourar a qualquer hora. Está condenado, ninguém segura isso aqui mais não”, conta.

Ainda de acordo com o depoimento do funcionário, após tentar resolver o vazamento, a Vale iniciou a instalação de drenos horizontais profundos – DHP’s – para drenar a água da barragem. A instalação foi interrompida após os técnicos identificarem que a água estava ficando presa dentro do maciço e não retornando para a abertura.

Na mesma época, Fernando conta que a mineradora começou a treinar os funcionários. “Instalaram drenos para tirar água, sirene e rota de fuga”, diz.

Vale

Em nota, a Vale se limitou a dizer que a “barragem I possuía todas as declarações de estabilidade aplicáveis e passava por constantes auditorias externas e independentes. Havia inspeções quinzenais, reportadas à Agência Nacional de Mineração, sendo a última datada de 21/12/2018″, diz, em trecho.

“A estrutura passou também por inspeções nos dias 8 e 22 de janeiro deste ano, com registro no sistema de monitoramento da Vale. Em nenhuma dessas inspeções foram detectadas anomalias que apontassem para um risco iminente de rompimento da barragem”, complementou.

Contudo, a mineradora se recusou a responder questões sobre o depoimento dos funcionários, como, por exemplo, se o nível de segurança da barragem foi alterado ao identificar problemas de vazamento na estrutura.

De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral, quando “detectada anomalia” na estrutura, ela deverá evoluir para o nível 1, ou seja, quando há situação com potencial comprometimento de segurança da estrutura.  

Caso a situação não fosse controlada, a barragem poderia evoluir para nível 2, “quando o resultado das ações adotadas na anomalia referida não solucione o problema”. Neste caso, a área abaixo da barragem deveria ser isolada. Por fim, o nível 3 ocorre quando a ruptura é iminente ou está ocorrendo.

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