O segundo dia de julgamento do caso Backer, no Fórum Lafayette, em Belo Horizonte, foi marcado por emoção. Prestaram depoimentos nesta terça-feira (24) seis testemunhas, dentre elas, familiares de vítimas que morreram em decorrência da intoxicação, além de técnicos que analisaram a composição das bebidas.
A viúva de uma das vítimas contou, em depoimento, que o marido era um apreciador de cervejas artesanais e “entusiasta da marca Backer”. No fim de 2018, ele teria comprado uma caixa de Belorizontina aproveitando uma promoção e tomou uma garrafa por noite durante as férias.
Nove dias depois ele começou a passar mal e a testemunha o alertou sobre a possível contaminação, que já estava sendo comentada na época. O marido, no entanto, preferiu não acreditar que a cerveja era responsável pelo mal estar, por se tratar de uma “marca boa”.
O homem então deu entrada no Hospital Madre Teresa, na região Oeste de BH, onde teve piora gradativa e precisou ser internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Segundo a testemunha, o marido faleceu 21 dias depois.
‘Foi morrendo aos poucos’
Outra testemunha ouvida pelo júri conta ter perdido o pai, que foi a primeira pessoa identificada como vítima da intoxicação. Já o marido, que também consumiu as bebidas, carrega sequelas até hoje.
Bastante emocionada, uma terceira testemunha relatou que o pai, que faleceu por conta da intoxicação, era muito cuidadoso com a saúde. Ela conta ter sido a responsável por comprar as cervejas para a s festas de Natal e optou pela Belorizontina, da Backer, já que ela estava em promoção.
Logo na véspera do Ano Novo, o pai começou a passar mal, com suspeita de infarto. O cardiologista logo descartou a possibilidade e o homem foi encaminhado para uma UTI. A filha conta que o pai foi “morrendo aos poucos” a partir do quarto dia de internação e faleceu cerca de duas semanas depois.
Outros técnicos prestam depoimento
O julgamento, que teve início ontem (23), busca apurar a conduta de dez pessoas apontadas como responsáveis pela contaminação da cerveja pelo MPMG (Ministério Público de Minas Gerais). A data para o depoimento dos réus ainda será definida.
Um engenheiro do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) também foi ouvido neste terça-feira. Ele conta que assim que identificaram a cerveja como o elemento comum aos casos de suspeita de intoxicações, compareceram ao supermercado para determinar o recolhimento das bebidas.
Após a primeira morte, a pasta também determinou a suspensão da comercialização e deu início às investigações. Uma perita responsável por analisar as amostras conta que, após contatada a contaminação das cervejas, uma equipe foi até a fábrica da cervejaria pra tentar entender o processo de produção das bebidas.
Segundo inquérito da Polícia Civil, 29 pessoas foram intoxicadas e acabaram desenvolvendo uma síndrome que causa insuficiência renal aguda por conta do dietilenoglicol. Dez das vítimas morreram. A corporação indiciou 11 pessoas por diversos crimes, como lesão corporal, contaminação e homicídio culposo.