Cinco pessoas são roubadas a cada hora em BH; média dobrou em quatro anos

Cinco pessoas são roubadas a cada hora em BH
Especialista avalia que a Guarda Municipal não tem papel relevante na repressão, mas que desempenha papel fundamental na prevenção (Roger Víctor/PBH)

A capital do Estado registra cinco roubos a cada hora todos os dias. A média obtida pelo portal “Minas em Números”, do Governo do Estado, representa o dobro do índice desse tipo de crime registrado ao início da série histórica, em 2012. Naquele ano, a capital mineira assinalou 23.118 roubos consumados — crime que consiste na conduta de “subtrair um bem mediante à grave ameaça”, conforme definição do Código Penal Brasileiro.

Em relação aos últimos dados divulgados, indicando o número de ocorrências entre janeiro e outubro de 2016, 38.834 pessoas foram vítimas desse crime — número 97% superior ante o mesmo período de 2012. Outros crimes violentos, como sequestros, homicídios e estupros, em contrapartida, vêm registrando queda na capital mineira ao longo dos últimos anos.

O Bhaz conversou com o professor Robson Sávio, coordenador de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas, que fez uma análise sobre os dados. Para ele, os números são reflexo de políticas públicas vigentes ao longo dos últimos anos no Estado, que priorizam o combate de crimes contra a vida em detrimento das violações cometidas contra o patrimônio.

“A segurança à vida precede ao patrimônio. É correta essa priorização. No entanto, é preciso observar que, mesmo em queda, os índices são altíssimos quando comparados às taxas de criminalidade de outros países. Agora, o crime conta o patrimônio, em que se enquadram os roubos, tem crescido também em outras capitais, justamente por conta desse modelo político”, ressalta o professor.

Outros crimes

Na contramão da escalada dos índices de roubos em Belo Horizonte, os homicídios vêm caindo. Conforme os últimos dados divulgados pelo Governo de Minas, a capital do Estado vem registrando uma média de 46 assassinatos ao mês. No início da série histórica, há quatro anos, a conta era de 66 casos ao mês.

O número de estupros também vem caindo na capital. Entre janeiro e outubro de 2012, foram registrados 318 casos. Nesse mesmo período do ano vigente, foram computados 201 abusos — o que representa uma queda de 58% no número de ocorrências.

Da mesma forma, o número de sequestros diminui. Até outubro de 2016, a capital assinalava 58 casos de sequestros e cárcere privado. Por outro lado, no mesmo período de 2012, o número era 45% maior — 84 casos.

Segundo explicou o professor Robson Sávio, investimentos em iniciativas como o Fica Vivo — programa de prevenção de homicídios implantado em 2003, na gestão do então governador Aécio Neves (PSDB) — bem como a integração das forças de segurança do Estado foram decisivos para conter os índices de crimes violentos que atentam à vida.

“Em termos de políticas mais amplas, o atual governo [Fernando Pimentel, do PT] não fez grandes alterações em relação aos parâmetros de governos anteriores. Fez ajustes administrativos, mas programas estruturais de segurança pública, como o Fica Vivo, foram mantidos. Isso é fundamental para obtermos redução nos índices de crimes contra à vida”, defende o especialista.

Em relação à administração municipal, o especialista garante que a presença da Guarda Municipal nas ruas favorece para coibir a criminalidade. “É uma guarda patrimonialista, não podemos avaliar o papel dela na repressão. Mas sem dúvida é imprescindível para a prevenção e para o aumento da sensação de segurança na cidade”.

‘Enxugando gelo’

Políticas de repressão a roubos vigentes no país são como “enxugar gelo”, nos termos do coordenador de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas, Robson Sávio. Para ele, é preciso que o Estado invista em diferentes frentes da área de segurança pública em vez de centralizar investimentos na ação repressiva das forças de segurança nas ruas.

“Hoje temos uma rede por trás dos roubos que vemos nas ruas. Não adianta prender o ladrão se ele tem para quem vender a mercadoria presa. Vai colocá-lo na cadeia, mas o sistema irá substitui-lo por outro. Não adianta enxugar gelo com ações repressivas se hoje existe uma rede de receptores e distribuidores de mercadorias roubadas”, avalia.

Para Sávio, o sistema de segurança pública essencialmente repressivo não funciona. “Não necessariamente as políticas de segurança estão dando errado. Mas é preciso que o Estado entenda que estamos diante de uma sociedade complexa, e esse aparato de segurança não responde mais. Hoje, temos em uma mesma cidade uma área onde a segurança apresenta índices europeus de violência e, a poucos quilômetros, estamos diante de índices do Bagdá”, pondera o professor.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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