UFMG pesquisa exames e vacina para frear o Covid-19: ‘Estamos trabalhando 12h por dia, sem parar’

(Flávio Fonseca / Arquivo pessoal) – pesquisadores trabalham protegidos por EPIs

Em tempos de quarentena, quem passa pelas imediações da UFMG observa uma cena pouco comum: a universidade está vazia e, aparentemente, solitária. No entanto, mesmo que de forma silenciosa, salas da UFMG abrigam batalhas diárias. Professores, pesquisadores e estudantes integram três frentes de trabalho para achar uma vacina e também melhorar os equipamentos para o diagnóstico do novo coronavírus.

“Paramos tudo o que estávamos desenvolvendo em termos de pesquisas relacionadas, por exemplo, a Leishmaniose, a Dengue e a Chikungunya. Passamos a nos dedicar a esse inimigo em comum”, informou o virologista do Centro de Tecnologia em Vacina (CTVacinas) da UFMG e integrante do Comitê Permanente de Acompanhamento das Ações de Prevenção e Enfrentamento do Novo Coronavírus.

Parte dos trabalhos de pesquisas relacionados ao novo coronavírus estão em desenvolvimento na sede do CTVacinas, que fica no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC). Com estrutura moderna, o centro foi criado em 2016 e é resultado de uma parceria estabelecida entre a UFMG e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Minas). O foco do BH-TEC são pesquisas em biotecnologia.

Quem são os pesquisadores?

Com hora marcada para chegar aos laboratórios e sem horário para sair, os pesquisadores de diversas áreas como Farmácia, Medicina, Biomedicina e Biologia se dedicam inteiramente ao trabalho. O nível de formação é variado. “Temos técnicos, mestrandos, doutorandos, doutores e até pós-doutores. São 15 pessoas com vasto currículo acadêmico”, ressaltou Flávio.

Na liderança de toda esse trabalho está uma mulher. É a professora doutora Santuza Teixeira. Com doutorado em Bioquímica pela Universite de Lausanne, na Suiça, ela possui pós-doutorado pela Universidade de Iowa, dos Estados Unidos, e já presidiu a Sociedade Brasileira de Protozoologia.

Frentes de batalha

Os profissionais da universidade estão atuando em três frentes de trabalho. A primeira delas é a de suporte, na qual há a prestação de serviço. Os pesquisadores auxiliam os laboratórios licenciados no diagnóstico de casos da Covid 19.

“Montamos um laboratório de diagnóstico. Isso foi necessário porque só a Fundação Ezequiel Dias (Funed) está com milhares de amostras para serem analisadas”, disse o professor.

Ao BHAZ, a Funed informou, nesta segunda-feira (30), que cerca de 3.000 amostras aguardam análise. “Diante da alta demanda, estamos apoiando a operação”, ressaltou o pesquisador. A estrutura na UFMG foi montada com apoio da USP (Universidade de São Paulo), que cedeu parte dos insumos.

No entanto, os laboratórios acadêmicos não podem elaborar laudos de diagnósticos. “O que estamos fazendo é um apoio ao diagnóstico”, reitera Flávio. O laboratório de testagem da UFMG começou a funcionar na segunda-feira (23). Até a sexta-feira (27), já havia liberado 108 resultados. Destes, sete deram positivo para o Coronavírus.

Teste em tempo recorde

O professor Flávio explicou que a segunda frente de trabalho tem o objetivo de desenvolver novos sistemas de diagnóstico para a doença. “Queremos uma forma de diagnóstico mais simples”, afirmou.

Até o momento, existem dois testes em desenvolvimento na universidade mineira. O primeiro deve funcionar por meio da detecção de anticorpos ou proteínas do vírus. “Vai ser como um teste de gravidez, é um teste rápido. O resultado positivo ou negativo deve sair em até seis minutos”, explicou o professor.

A outra alternativa, que também está sendo estudada, é o teste “Elisa” que, apesar de demorar um pouco mais para liberar o resultado, até seis horas, é mais sensível e tem maior assertividade.

Os testes estão sendo desenvolvidos em tempo recorde.”Geralmente gastamos de um a dois anos para desenvolvermos um teste desses, mas com esse esforço, não vamos demorar para liberar os primeiros protótipos” pondera o professor.

Vacina

A terceira linha de pesquisa, que é de longo prazo, é o desenvolvimento de uma vacina específica contra a Covid-19. “São pesquisas muito mais demoradas. A da dengue demorou quase 20 anos para ser desenvolvida”, explicou.

Mas há certo otimismo para o desenvolvimento da vacina contra o Covid-19. “A vacina deve sair em um ou dois anos. Acredito nisso pois há uma tentativa do mundo inteiro, e estamos trabalhando de forma integrada. Enquanto quase tudo está parado, a ciência se movimenta de forma inédita, por mais silencioso que seja o nosso trabalho”, finalizou o professor.


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