‘Desejo justiça e que não aconteça com mais ninguém’, diz jovem alvo de ofensas racistas no metrô de BH

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Isabelle conta que nunca passou por algo tão pesado e clama por justiça (Reprodução/Redes sociais)

Após denunciar uma mulher de 54 anos por proferir ofensas racistas no metrô de BH, a família de Isabelle Cristine segue clamando por justiça. Ao BHAZ, a autônoma de 25 anos narrou o episódio que mobilizou diversos passageiros durante uma viagem, na tarde desse domingo (5), e acabou em uma delegacia. A Polícia Civil informa, por meio de nota (veja a íntegra abaixo), que a mulher foi autuada por injúria racial e presa.

Segundo conta, a manicure saiu com os pais e uma amiga para fazer compras na feira Hippie, na avenida Afonso Pena, no Centro da capital mineira. Na volta para casa, já na plataforma da Estação Central, eles notaram a senhora sentada também aguardando. Ela começou a fazer gestos indecifráveis e a falar sozinha.

“Tinha três lugares sobrando e uma senhora sentada no último lugar. Minha mãe sentou ao lado dela, sentou o meu pai, eu e minha amiga. E, de repente, ela fez um gesto que não entendemos muito bem. Olhou pra minha mãe e beliscou a própria pele, riu, bateu as mãos”, recorda.

‘Crioulo tem que morrer’

Foi somente dentro do metrô que a família compreendeu as intenções da agressora. Quando o coletivo chegou, ela se sentou na frente deles e continuou a murmurar. Em dado momento, Isabelle ouviu as ofensas. “Ela falava que ‘crioulo tem que morrer’, que o sangue dela não é igual ao ‘sangue de crioulo'”.

Assim que Isabelle entendeu o que acontecia, retrucou e questionou se a mulher falava com eles. A agressora desconversou, mas depois a discussão engatou e boa parte dos passageiros se voltou contra ela.

“Ela começou a gritar que era racista mesmo. Segurava o nariz, falando que estávamos fedendo. Chegou até a dizer que faz parte de uma seita que mata negros. Nesse momento, todo mundo começou a ligar a câmera dos celulares. Tive que segurar uma menina para que não avançasse nela”, conta a jovem.

Agressora tentou fugir da polícia

Ao notar a discussão, o maquinista parou o trem na Estação Santa Inês e foi ver o que estava acontecendo. O segurança pediu que a mulher se retirasse, mas ela se recusou e o metrô seguiu até a José Cândido. De lá, todos foram para a delegacia, onde as agressões verbais continuaram.

À Polícia Militar, a suspeita confirmou tudo que as vítimas relataram e reforçou que é racista. Já quando foi conduzida à delegacia da Polícia Civil, negou todas as acusações. A suspeita prestou depoimento e, quando viu que seria presa, tentou fugir. Os policiais precisaram correr atrás dela.

Desejo por justiça

“Eu já até passei por isso antes, mas nada comparado ao que foi ontem. O que aconteceu ontem foi pesado. As coisas que ela falou foram muito pesadas”, lamenta. “Eu só desejo justiça e que não aconteça mais com ninguém. Espero que não sejamos só mais um”, declara Isabelle.

Nota da Polícia Civil na íntegra

“Em relação ao fato ocorrido ontem (5/6), dentro de um vagão do metrô, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) ratificou a prisão em flagrante da mulher, de 54 anos, que foi autuada pelo crime de injúria racial e, após os trabalhos de polícia judiciária, foi encaminhada ao sistema prisional, onde segue à disposição da justiça”.

Racismo x Injúria Racial

De acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), é classificada como crime de racismo – previsto na Lei n. 7.716/1989 – toda conduta discriminatória contra “um grupo ou coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça”.

A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo. Por exemplo: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais, negar ou obstar emprego em empresa privada, além de induzir e incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível, conforme determina o artigo 5º da Constituição Federal.

Já a discriminação que não se dirige ao coletivo, mas a uma pessoa específica, também é crime. Trata-se de injúria racial, crime associado ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima – é o caso dos diversos episódios registrados no futebol, por exemplo, quando jogadores negros são chamados de “macacos” e outros termos ofensivos.

Quem comete injúria racial pode pegar pena de reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência, para quem cometê-la. Em outubro de 2021, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que o crime de injúria racial também deve ser declarado imprescritível e inafiançável, assim como o crime de racismo.

Canais de denúncia

  • Delegacia Especializada em Repressão aos crimes de Racismo, Xenofobia, Homofobia e Intolerâncias Correlatas – DECRIN

Telefone: (31) 3335-0452

Endereço: Avenida Augusto de Lima, 1942 – Barro Preto

Horário de Funcionamento: Segunda à Sexta, de 12h às 19h

  • Ministério Público – Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos, Igualdade Racial, Apoio Comunitário e Fiscalização da Atividade Policial

Telefone: (31) 3295-2009

Endereço: Rua dos Timbiras, 2928 5º andar Barro Preto – Belo Horizonte – MG

Horário de Funcionamento: Segunda à Sexta, de 13h às 18h

E-mail: [email protected]

  • Disque 100 – Disque Direitos Humanos

Horário de funcionamento: diariamente de 8h às 22h

Cidadão brasileiro fora do Brasil, pode discar: +55 61 3212-8400.

E-mail para denúncias: [email protected]

  • Disque 190 – Policia Militar

O 190 é destinado ao atendimento da população nas situações de urgências policiais. Atendimento 24 horas por dia, todos os dias da semana.

  • Disque 181 – Denúncia Anônima

Serviço destinado ao recebimento de informações dos cidadãos e cidadãs sobre crimes de que tenham conhecimento e possam auxiliar o trabalho policial.

No Disque Denúncia 181 a identidade do denunciante e denunciado é preservada.

Atendimento 24 horas por dia, todos os dias da semana.

Edição: Roberth Costa
Nicole Vasques[email protected]

Jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), escreve para o BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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