Djonga anuncia parceria com MC, vira alvo de críticas e rebate

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Artista publicou longa reflexão nas redes sociais e defendeu o amigo (Reprodução/Instagram/@djongador)

O rapper mineiro Djonga voltou a virar assunto nas redes sociais após o anúncio do lançamento de uma música em parceria com o MC Poze do Rodo – que já protagonizou episódios de homofobia ao longo da carreira. Vários fãs ficaram insatisfeitos com a colaboração, já que Djonga é conhecido por defender pautas sociais importantes. Após a repercussão, o rapper defendeu a parceria e puxou um debate sobre o assunto nas redes sociais.

Logo que o lançamento foi divulgado, vários seguidores do artista, que causou polêmica há poucos meses após aparecer em um show com aglomeração, reclamaram da colaboração e relembraram situações em que o MC teve falas e comportamentos homofóbicos. Em uma delas, um vídeo antigo resgatado por internautas mostra Poze atacando relacionamentos homoafetivos.

“Me desculpa, mas eu não tenho como… Não combina. Eu não vou falar que odeio para não pegar pesado, porque está filmando, mas…”, diz o MC no vídeo. Em janeiro deste ano, um outro episódio: um rapaz gay contou nas redes sociais que o funkeiro o havia expulsado da piscina em uma festa por conta de sua orientação sexual. À época, o MC chegou a comentar o assunto publicamente.

As duas situações foram relembradas por milhares de pessoas que deixaram os nomes de Poze e Djonga entre os assuntos mais comentados das redes sociais ao longo deste fim de semana. Muitos defenderam que o rapper estaria “passando pano” para o colega e contrariando princípios que ele próprio defende em suas músicas.

“Racista e machista? A gente queima. Homofóbico? Aí a gente tem que fazer recorte, uma ciranda de desconstrução e dar um cupcake vegano”, ironizou uma internauta, em referência à frase “fogo nos racistas” – trecho mais famoso de autoria do rapper, um dos mais consagrados do país. Desde ontem (24), o Twitter foi tomado por outros comentários com o mesmo tom.

Com a repercussão, o mineiro – conhecido pela postura antirracista firme e por rechaçar comportamentos preconceituosos – fez um longo desabafo no Instagram.

‘Não posso cancelar’

No texto, Djonga, além de garantir que não vai suspender o lançamento da música, como muitos pediam, afirmou que também não vai virar as costas para o amigo e apontou questões que, para ele, devem ser levadas em consideração na discussão sobre preconceito.

“Eu me desobrigo a abandonar um preto, favelado e pobre e ‘amigo’ quando ele erra e me obrigo a trocar com ele e cobrar como for necessário a mudança”, disse o rapper, que ainda complementou: “Eu não posso cancelar quem já está cancelado desde que nasceu”.

Djonga também afirmou que não tem a intenção de tirar o peso da violência promovida por falas homofóbicas como as de Poze, mas que acredita em “fazer parte da mudança”. “Da vítima eu não posso cobrar nada, mas quem é amigo e está próximo e tem uma visão diferente tem que cobrar [o autor] pesado nas ideias e fazer parte da mudança”, defendeu.

“Vai chover gente me criticando com certeza, mas até ontem nós estávamos falando de ‘reinserção social’ para pessoas que, pela miséria e falta de informação, cometeram os piores erros de suas vidas”, continuou o rapper, que falou também sobre como o racismo impacta a formação de pessoas pretas. “Quando um preto, pobre, favelado erra, é cobrado que toda a sociedade vire as costas pra ele, ainda que esse favelado, preto, pobre tenha vindo de um contexto de miséria e desinformação, violência”, disse.

‘Não vou atirar num soldado da minha tropa’

“Eu estou na treta com vocês, mas não vou atirar num soldado da minha tropa porque ele não está tão preparado quanto os outros”, resumiu o rapper em outro trecho do longo desabafo. O texto foi publicado na ferramenta Stories do Instagram e já não está mais disponível, mas pode ser lido na íntegra no tuíte abaixo:

Após a justificativa, o rapper acabou recebendo ainda mais críticas nas redes sociais. Muitos concordaram com o ponto de vista defendido por ele, mas vários outros apontaram uma relativização da homofobia em detrimento de outros tipos de violência praticadas contra grupos marginalizados.

“MC Poze é criticado todo santo dia em relação a isso, mas não dá a mínima em mudar o pensamento dele. Vocês acham mesmo que é falta de informação?”, questionou um internauta.

“Pleno 2021, depois do Poze ter sido criticado ‘trocentas’ vezes por ser LGBTfóbico, o cara vem meter um ‘não pode abandonar porque ele é preto e pobre’. Queria ver qual seria o tratamento se as falas fossem racistas”, disse um segundo.

“Quando o MC Poze do Rodo foi cobrado pelas atitudes homofóbicas, ele não pediu desculpas sobre o que aconteceu ou tentou reavaliar suas falas. Foram séries de tweets se dizendo ‘anti-fofoca’, ‘bagulho é dinheiro no bolso'”, lembrou uma terceira, que ainda complementou: “Falar que Poze é um homofóbico porque veio da periferia é, inclusive, contribuir para uma fala racista”.

Confira uma parte da repercussão abaixo:

Não é ‘opinião’, homofobia é crime

Vale reforçar que homofobia e transfobia são crimes previstos por lei. Eles entram na lei do racismo, já existente há 30 anos e, com isso, as punições são semelhantes. O STF (Supremo Tribunal Federal) criminalizou a homofobia em junho de 2019.

Veja o que é considerado crime:

  • “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;
  • a pena será de um a três anos, além de multa;
  • se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a cinco anos, além de multa;
  • a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema.
Edição: Vitor Fernandes
Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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