Estudante expõe ação ‘alisante’ de hidratação feita em famoso salão de BH e caso viraliza

cissa otoni
A estudante Cissa Otoni, de 23 anos, compartilhou no Twitter sua experiência frustrante como cliente de um salão famoso de Belo Horizonte (Reprodução/@cissaotoni/Twitter)

O movimento de exaltação da beleza e dos cuidados de cabelos naturais – especialmente os cacheados e crespos – veio para ficar. Na internet, não faltam histórias de pessoas que decidiram abandonar de vez a química e passar pela transição capilar – processo que permite que os fios cresçam em sua textura natural. O relato de uma moradora de BH que viralizou nesta semana, no entanto, mostra que não basta apenas a força de vontade de assumir os cabelos como são. É preciso também garantir que os tratamentos capilares cotidianos sejam livres de química.

Na última segunda (18), a estudante Cissa Otoni, de 23 anos, compartilhou pelo Twitter sua experiência frustrante como cliente de um salão famoso de Belo Horizonte. Ela disse que, há alguns anos, ganhou uma hidratação de presente no estabelecimento e que, no princípio, até gostou do resultado, mas a partir da segunda aplicação os problemas começaram a aparecer.

“Eles falam que você pode ir de 6 em 6 meses, ou até menos, só que a cada ida, o cabelo vai ficando mais esticado e não tem hidratação NO MUNDO que resolva isso”, contou no Twitter, ao compartilhar fotos do seu cabelo após o procedimento. Procurado pelo BHAZ, o salão lamentou o ocorrido e disse que entrou em contato com a jovem (leia abaixo).

‘Saí de uma química e caí em outra’

Ao BHAZ, Cissa conta que, já na terceira sessão, ela não reconhecia mais o seu cabelo. Em apenas alguns meses, ela percebeu que os fios estavam ressecados e quebradiços, como se ela tivesse feito algum alisamento químico.

“É muito triste que isso seja uma realidade na vida de milhares de pessoas, que enfrentam a transição capilar. No meu caso, a vida inteira eu usei meu cabelo escovado, justamente por não ter essas referências de cabelo crespo na escola, nas novelas… e quando eu consegui me livrar dessa química, eu caí na química deles”, lamenta.

De acordo com a assessora técnica e farmacêutica do CRF/MG (Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais), Danyella Domingues, nenhum produto utilizado para a hidratação deveria mudar a textura do cabelo. Ela explica que existem recomendações da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que separam os produtos alisantes e de tratamento em categorias diferentes.

“As pessoas não vão encontrar em formulações de produtos cosméticos condicionantes -condicionadores, máscaras e afins – substâncias que são destinadas para alisamento, já que isso não é previsto pela Anvisa. Se foi utilizado no cabelo dela um produto com finalidade condicionadora, esse produto não deveria ter uma ação de alisamento”, explica ao BHAZ.

Hidratação não alisa

A farmacêutica Danyella explica que os cabelos reagem de formas diferentes a procedimentos capilares. No entanto, isso não justifica que um cabelo seja alisado com uma simples hidratação.

“A forma como o cabelo reage a qualquer produto é muito relativa, porque vai da sensibilidade do fio, do grau de tolerância a determinadas substâncias químicas que a pessoa pode ser alérgica… mas não se espera ação de alisamento em um produto utilizado para condicionamento”, conta.

E quando começou a estranhar a reação do seu cabelo, Cissa conta que chegou a questionar as profissionais do salão sobre os produtos que estavam sendo usados. Foi só então que, segundo Cissa, o salão assumiu que o procedimento possuía química.

“Conversei com a menina que me atendeu e ela me explicou que a química deles servia pra ‘abrir’ meus cachos e que a meta era fazer com que o meu cabelo tivesse mais movimento, que ficasse um cacho mais solto… chegaram a me mostraram várias fotos de meninas com esse tipo de cabelo”, relembra.

Assim como Cissa, a vendedora Paloma Silva também teve uma grande decepção ao fazer uma hidratação no mesmo salão. Em conversa com o BHAZ, ela contou que seu cabelo nunca mais voltou a ser o que era antes.

“Eu fiz em 2014 e até hoje o meu cabelo não voltou ao normal. Eu fui lá pra fazer uma hidratação e, em uma semana, meu cabelo ficou ‘escorrido’, com um aspecto horrível. O cheiro dos produtos era muito forte e eles prometeram que não tinha química”, disse.

Perguntar antes é o ideal

Para evitar “surpresas”, como o uso de um produto indesejado ou até mesmo uma mistura de uma substância alisante aos cremes de tratamento, a farmacêutica Danyella acredita que o melhor a se fazer é perguntar.

“Eu acho que em todos os casos – não só pra se certificar que vai ter o resultado desejado, mas também pra se certificar de que não vai ter substância que vai desencadear alergia – deve-se perguntar o que vai ser utilizado”, pondera.

“A pessoa precisa saber o tipo de produto, a marca que está sendo usada, se o fabricante tem registro, se tem certificado na Anvisa, data de validade desse produto, a condição de armazenagem… porque aí ela vai ter uma segurança”, acrescenta a farmacêutica.

Para a advogada especialista em direito do consumidor Priscilla Figueiredo, perguntar tudo o que vai ser feito antes do procedimento também é uma forma de se precaver caso algo saia do previsto. “Isso é uma forma de resguarde da pessoa: perguntar ao salão o que vai ser usado, quais produtos e até ter um registro escrito pra usar como prova em caso de futuros problemas como esse”, disse ao BHAZ.

Como recorrer?

A advogada também explicou que, caso um cliente se sinta “enganado” de alguma forma após se submeter a um procedimento estético, existem alguns caminhos judiciais que podem ser seguidos. O primeiro deles é a plataforma do consumidor, do Governo Federal.

“Tendo algum tipo de problema assim, pode-se cadastrar na plataforma, procurar pelo nome do estabelecimento – se ele não constar na lista, a pessoa pode até cadastrar pelo CNPJ – e, por lá, é possível fazer uma reclamação”, explica.

Caso o problema não seja resolvido dessa forma, a profissional orienta que o cliente procure auxílio jurídico para correr atrás dos seus direitos. “Nesse segundo caso, é importante que a pessoa tenha provas. Por isso é necessário que a pessoa, antes de fazer algum tipo de procedimento assim, peça no salão a lista de produtos que vão ser usados no cabelo”, diz Priscilla.

“As fotos também servem como prova. Uma dica é tirar os prints da galeria do celular, que aí já aparece as datas em que foram tiradas as fotos. Além disso, se for entrar com um processo, provavelmente seria preciso uma perícia para olhar o cabelo dela e comprovar se realmente foi usado algum alisante”, acrescenta a advogada.

O que diz o Beleza Natural?

Ao BHAZ, o Instituto Beleza Natural lamentou o ocorrido com Cissa Otoni e disse ter entrado em contato com ela. “Agendamos uma conversa para entender o que aconteceu durante sua visita em uma de nossas unidades”, diz trecho da nota (leia na íntegra abaixo).

O salão também ressalta que “as nossas hidratações profissionais e todos os produtos de uso doméstico não possuem nenhum tipo de química de transformação”. “Nosso esforço diário é de entregar os melhores serviços e produtos para as nossas clientes e colaboradoras. Mais uma vez, lamentamos o ocorrido e vamos buscar junto à cliente a melhor solução”, conclui o comunicado.

Nota do Instituto Beleza Natural na íntegra

“O Instituto Beleza Natural lamenta o ocorrido com a cliente Cissa Otoni. Já entramos em contato com ela e agendamos uma conversa para entender o que aconteceu durante sua visita em uma de nossas unidades.

Somos uma empresa especializada em cabelos crespos, cacheados e ondulados com produtos e serviços para atender todas as necessidades das nossas clientes. Temos mais de 20 serviços em nosso portfólio, dentre eles químicas de transformações capilares, cortes, colorações e hidratações. Vale destacar que as nossas hidratações profissionais e todos os produtos de uso doméstico não possuem nenhum tipo de química de transformação.

Nosso esforço diário é de entregar os melhores serviços e produtos para as nossas clientes e colaboradoras. Mais uma vez, lamentamos o ocorrido e vamos buscar junto à cliente a melhor solução”.

Edição: Giovanna Fávero
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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