História real por trás da prisão de jornalista vai te fazer repensar seus julgamentos

@diogomedeiros87/Instagram/Reprodução + Cruzeiro Sports/YouTube/Reprodução

Há três meses, o jornalista esportivo e setorista do Cruzeiro, Diogo Medeiros, tornou-se assunto nas redes sociais após ser preso. Ele foi flagrado em uma blitz no bairro Cachoeirinha, na região Nordeste de Belo Horizonte, com um mandado de prisão em aberto. O motivo? Assalto a mão armada.

Como pode um jornalista, proprietário de um canal que possui mais de 200 mil seguidores no Facebook e 80 mil no Twitter – o Cruzeiro Sports -, protagonizar roubos? A versão da polícia aponta que, em 2010, ele assaltou ao menos dois postos de gasolina na avenida Cristiano Machado, juntamente com um comparsa.

Depois de ficar preso por um tempo, Diogo voltou à prisão neste ano – mais precisamente em junho – por conta de uma pendência judicial.

O jornalista estava fugindo da polícia? É uma pessoa ruim, bandido?

Veja a “verdadeira história de Diogo Medeiros”, como ele mesmo define, e tire suas conclusões (e, quem sabe, repense seus julgamentos).

Mãe, com 36 anos, dá adeus

No começo do vídeo, no qual Diogo abre completamente sua intimidade, ele relembra a infância difícil que teve, mas ressalta que sua criação foi na Igreja Batista da Lagoinha e que isso fez com que tivesse uma vida religiosa pautada em orações, jejuns e temor a Deus. No entanto, um fato fez com que tudo mudasse: a morte da mãe.

“Tinha chegado do trabalho quando, numa madrugada, minha irmã me acordou dizendo que minha mãe tinha morrido. Levamos ela ao médico e no caminho conseguiu reanimá-la. No hospital foi constatado um AVC”, contou. Após a doença, a mãe de Diogo passou por três cirurgias e o fato fez com que o jornalista e amigos pedissem para Deus salvá-la. Apesar dos esforços realizados, ela acabou morrendo.

Como o próprio setorista conta, a partida precoce da mãe, aos 36 anos, o levou para o “pior abismo” da vida. “Revoltei contra Deus, pois não tinha entendido o motivo dEle ter permitido que ela fosse daquele jeito. Saí de casa, fui morar com a minha avó e me envolvi com drogas”.

Ver essa foto no Instagram

#Luto ⠀⠀ Hoje é aniversário da minha mãe, ela completaria 48 anos de vida. Quis Deus, levá-la tão cedo quando ainda tinha 36, deixando uma cicatriz que nunca se fechará. ⠀⠀ Só de pensar em você, meus olhos se enchem de água, pela falta que você faz. Mais do que te ver novamente, minha maior vontade era que você pudesse conhecer seu netinho, tão lindo, que era um sonho seu. ⠀⠀ Meu amor por você nunca mudou, nem nunca vai mudar. Obrigado por mesmo indo tão nova, ter me formado o homem que sou, mesmo com todas as minhas falhas. A gente ainda vai ficar junto novamente um dia. ⠀⠀ Hoje a palavra que define tudo é saudade. Te amo mãe! ♥️

Uma publicação compartilhada por Diogo Medeiros (@diogomedeiros87) em

O fato de ter começado a usar entorpecentes fez com que ele tivesse contato com “pessoas que não deveria ter conhecido”, como o próprio define. “Numa dessas andanças recebi o ‘convite’ de cometer um assalto”, relembra. Diogo diz que naquele dia sua função era pilotar a moto e que nunca encostou em uma arma.

No entanto, ele foi capturado pela polícia e ficou cinco meses em reclusão. No período em que esteve preso, o jornalista conta que se arrependeu e que “colocou a cabeça no lugar”. Ao sair, retomou a vida e, durante o ano de 2012, morou em Brasília com a esposa.

Nova prisão, nova vida

Assim que voltou para BH, Diogo estava com “sede” de fazer a cobertura do clube do coração e envolveu-se em projetos, até que decidiu criar a Cruzeiro Sports. A prisão de Diogo aconteceu numa das melhores fases de sua vida e pegou o jornalista de surpresa.

“Se eu soubesse [que estava com mandado de prisão em aberto], não estaria na Toca, viajando com o Cruzeiro… Não vou me alongar, pois não quero tocar o coração de ninguém, mas contar a verdadeira história”, afirma.

Agora, Diogo está novamente em liberdade e decidiu publicar a verdadeira história na última quarta (4). A reação dos internautas tem sido a melhor possível.

“Tamo junto… todos nós erramos. Tenha fé, e bola pra frente”, afirmou Guilherme Augusto. “Acho que devemos deixar de fazer julgamentos. Todos somos falhos e estamos passível de erros!! Força aí e se recupera!”, refletiu Fábia Santos.

“Sucesso na sua vida guerreiro, todo mundo erra, agora é seguir em frente tendo um vida correta!”, apoiou Matheus Januário Santos Damasceno. “Quem somos nós para julgarmos você. Deus te dê discernimento, força e sobretudo fé para continuar sua caminhada. Muito legal sua postura na condução do caso. Ganhou um inscrito e um seguidor novamente!”, escreveu Léo Chiabi.

Importância da reinserção

Obviamente, Diogo errou – e pagou por esse erro. E a reinserção das pessoas que cometem crimes e cumprem as respectivas penas é fundamental para que a sociedade não crie “criminosos de profissão”, como explica o especialista em segurança pública Luis Flávio Sapori.

“A reinserção social é fundamental e infelizmente no Brasil não temos políticas públicas que contribuam para isso acontecer. Com a reinserção nós diminuímos a população carcerária”, explica Sapori.

Além da ausência de políticas públicas, outro fator preocupa o estudioso: o crescimento das narrativas que favorecem o discurso de rejeição aos criminosos. “No atual momento político, tem sido forte o discurso de rejeitar os criminosos e vem principalmente de políticos. Isso não produz resultado, pelo contrário, só aumenta. Leva a crer que criminalidade se combate com violência”.

Para Sapori é preciso que a sociedade levante as narrativas contrárias a esse tipo de pensamento. “As narrativas contrárias precisam vir a público para convencer as pessoas de que o enfrentamento não é o melhor caminho”, sugere.

No caso de Diogo, o apoio recebido de familiares e amigos é o combustível para prosseguir o caminho. “Fiquei muito feliz porque, quando saí e soltei a foto com minha família, 99% dos comentários foram de apoio e dando forças e que todos merecem uma segunda chance. Há esperança neste nosso mundo”, disse.

Comoção

Diogo tentou se manter firme durante todo o pronunciamento, mas não conseguiu segurar a emoção ao falar do próprio filho, de apenas 1 ano e 9 meses, de quem ficou longe durante os 90 dias passados na prisão. “Pedi para a minha esposa não cadastrar e que não levasse ele. Não queria que ele tivesse a experiência que tive”, relembrou, muito emocionado.

O medo de que a criança não o reconhecesse cercava o imaginário de Diogo, mas o reencontro foi pra lá de emocionante. “Fiquei feliz pois ele apontou o dedo e falou: ‘O papai’”.

Diogo passará por um período de readaptação e ainda terá de cumprir “algumas coisas”, as quais acabou não especificando. “No início de outubro estou 100% livre. Eu devia isso pra torcida do Cruzeiro. A verdadeira história é essa e bola pra frente porque o Cruzeiro é cabuloso”, concluiu.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!