Um homem de 25 anos é suspeito de tentar matar outro jovem depois de atrai-lo por meio de um aplicativo de namoro. Para isso, ele se passou por uma mulher durante meses. A Polícia Civil cumpriu nesta quarta-feira (2), em Belo Horizonte, um mandado de prisão preventiva contra Matheus de Souza Ornelas, que também teria ameaçado e constrangido familiares da vítima.
O jovem de 22 anos, vítima do ataque, sofreu diversas queimaduras no corpo e está internado em estado grave. O suspeito teria jogado óleo quente no homem, de forma premeditada, no dia 30 de outubro deste ano.
A Polícia Civil ainda identificou outra possível vítima, que não chegou a sofrer lesões. Agora, a corporação pede que outras vítimas que reconheçam o suspeito entrem em contato por meio do Disque Denúncia 181 ou 197.
Enganação
De acordo com as investigações, tudo começou quando Matheus criou um perfil falso em um aplicativo de relacionamento, usando a foto de uma mulher atraente. O objetivo era chamar a atenção de homens para um possível relacionamento homossexual.
O jovem de 22 anos, então, passou a se relacionar com o suspeito sem desconfiar da dissimulação. Os dois trocaram contato durante aproximadamente três meses.
A vítima foi ouvida remotamente do hospital e disse que achava suspeito a suposta mulher não conversar por áudio ou vídeo, mas ela alegava que vinha de uma família muito rígida, que a monitorava constantemente.
“É a partir daí que o suspeito, ainda utilizando o perfil falso, ‘apresenta’ ele mesmo como alguém que poderia servir de intermediário para que a vítima conseguisse um encontro com a suposta mulher”, explica o delegado responsável pelo caso, José Olegário de Oliveira.
O crime
Conforme os meses foram passando, o jovem passou a confiar na suposta mulher com quem conversava. Já o suspeito, sentindo que a vítima poderia desconfiar do seu disfarce, ligou para ela pediu ajuda para uma mudança na casa dele, localizada no bairro Trevo, região da Pampulha.
Ainda segundo a investigação policial, ao chegar ao prédio do suspeito, o jovem encontrou a porta aberta e seguiu para o apartamento. Quando ele entrou, Matheus Ornelas imediatamente o trancou no cômodo.
Após trocar algumas palavras com o suspeito, a vítima perguntou pela mulher, e houve um desentendimento entre os dois. O suspeito, supostamente por não se sentir correspondido, teria pegado uma jarra de óleo fervente e jogado o conteúdo contra o rosto do jovem, atingindo também outras partes do corpo.
“Nesse ponto, os relatos divergem, porque o suspeito alega que já teria uma panela, não uma jarra, com óleo fervendo na cozinha, e a vítima teria tentado pegá-la para agredi-lo e acabou se queimando quando o investigado tentou contê-la”, afirma o delegado.
Para o investigador, isso se trata de uma tentativa de dissimular um ato premeditado, já que Matheus não apresentou nenhuma queimadura “e as evidências periciais são claras em apontar um despejo direcionado do líquido fervente”.
Em seguida, mesmo estando machucado, o jovem conseguiu imobilizar o suspeito e pegar a chave do apartamento. Ele seguiu pelo corredor do prédio até encontrar um vizinho e pedir por socorro da polícia. O investigado fugiu antes da chegada dos policiais militares que atenderam a ocorrência.
Terror
Como se não bastasse, no mesmo dia do crime, Matheus Ornelas ainda teria danificado e pichado o veículo e o portão da casa da vítima.
O jovem de 22 anos, segundo informações preliminares, teve queimaduras de segundo grau no rosto, no pescoço, no ombro, no peito e nas mãos, correndo grande risco de infecção. Foi necessário enfaixá-lo da cintura até o topo da cabeça, e a vítima está sendo tratada com morfina e sedações.
Já no último domingo (21), o suspeito foi preso em flagrante após ameaçar e constranger familiares do jovem, além de tentar acessar o hospital onde ele está internado.
Nesta quarta, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão e recolheu celulares que podem ter sido utilizados pelo suspeito para cometer os crimes. Ele está sendo investigado por tentativa de homicídio, danos qualificados, ameaças e coações a testemunhas e à vítima durante o processo.
Alerta
O delegado José Olegário destaca alguns pontos que devem ser observados para evitar situações parecidas em aplicativos de relacionamento.
“Sempre que alguém estiver se envolvendo com outra pessoa virtualmente, é imprescindível ouvir, ver aquela pessoa. Por isso, é muito importante tentar o contato, o mais breve possível, por canais de áudio e vídeo, que já estão disponíveis nessas plataformas, e ter cautela em encontros pessoais, antes de conhecer bem a pessoa”, alerta.
As investigações seguem em andamento pela 2ª Delegacia de Polícia Civil Venda Nova, vinculada ao 1º Departamento de Polícia Civil em Belo Horizonte, até a conclusão do inquérito policial.
