Funcionários denunciam precariedade em hospital que recebe casos suspeitos de coronavírus

Arquivo pessoal + Reprodução/StreetView

Servidores do Hospital Eduardo de Menezes denunciam as condições precárias da unidade de saúde localizada na região do Barreiro, em Belo Horizonte. Falta de manutenção e até mesmo o isolamento inapropriado do quarto onde umajovem foi internada, com suspeita já descartada de ter contraído o novo coronavírus, são apontadas pelos funcionários do local.

Em coletiva de imprensa, o Ministério da Saúde anunciou na sexta-feira (31) que o caso foi descartado como suspeito de coronavírus. O órgão atualizou em 16 o número de casos considerados suspeitos no país. Segundo balanço divulgado às 12h deste sábado (1º), já foram descartados outros dez casos.

Ao BHAZ, os servidores que preferem não se identificar contaram que o quarto onde a paciente de 22 anos está não conta com isolamento adequado. “Não arrumaram o setor onde a paciente fica e informam à imprensa que o local é isolado e seguro. Isso é mentira. Lá tem frestas e o vírus pode circular”, conta uma funcionária sob anonimato. Por meio de nota (leia abaixo na íntegra), a Fhemig (Fundação Hospitalar de Minas Gerais) explica que “o ambiente no qual a paciente está não compromete sua segurança, nem dos profissionais e familiares que estão em contato com ela”.

Para fechar os “buracos” existentes fitas zebradas estão sendo colocadas no quarto, sempre segundo os relatos dos servidores do hospital. “Isso não é suficiente. A porta tinha que vedar por completo e para isso acontecer tinha que ter o filtro Hepa, o que iria impedir a circulação [do possível vírus]”.

Divulgação/Agência Brasil

Os servidores reforçam que o hospital de fato é referência em doenças infectocontagiosas, mas que atualmente não comporta um caso de tamanha gravidade. “A jovem está numa ala sozinha, fizeram o quarto dela unindo duas enfermarias. O hospital é referência em infecto, porém a estrutura não comporta um caso como esse”, relatam.

Outro ponto da denúncia é a recusa de médicos em entrar no lugar onde a jovem está. “Somente os técnicos de enfermagem estão entrando na sala, os demais falam que não podem pois têm filhos pequenos e ficam com medo de pegar o vírus”.

Apesar da situação precária relatada pelos servidores, eles informaram que as acompanhantes da jovem usam as roupas adequadas. “A mãe e a irmã estão usando um roupa impermeável descartável”, contam.

Fotos tiradas no Eduardo de Menezes mostram porta vedada com fita zebrada
(Arquivo pessoal)

Ainda segundo as fontes ouvidas pela reportagem, funcionários também estão temerosos com a possibilidade de que o vírus se espalhe e contamine outras pessoas, inclusive os próprios servidores. “A gente não sabe ao certo o que está acontecendo. No hospital dizem que a suspeita foi confirmada, mas na imprensa sai o contrário. Tivemos a informação de que a mãe e uma irmã da paciente também serão internadas”, diz uma servidora.

Os funcionários cobram melhorias como manutenção de equipamentos para que os serviços continuem normalmente. “A situação de precariedade se repete há anos. A última arrumada que fizeram foi em 2009 na época do surto de H1N1. De lá pra cá a precariedade se repete. Camas estão quebradas e muitas outras coisas precisam de manutenção”, denunciam.

Precariedade de estruturas é apontada como fator de risco por funcionários
(Arquivo pessoal)

Durante a manhã desta sexta-feira (31) os servidores foram informados de que algumas reformas começarão a ocorrer. O comunicado assinado por Virgínia Antunes de Andrade Zambelli diz em um dos trechos: “Iniciaremos procedimentos de reforma para adequação de alguns leitos da Unidade em atendimento emergencial aos casos suspeitos do novo Coronavírus, garantindo melhores condições de biossegurança para profissionais e pacientes”.

O BHAZ entrou em contato com a Fhemig que disse, por meio de nota, o Hospital Eduardo de Menezes “possui plano de contingência para condução de epidemias, o qual é aplicável ao novo coronavírus” e que “medidas de precaução individual estão sendo usadas para todos os servidores e familiares” que têm acesso à paciente. No comunicado, a Fundação ainda comenta a manutenção e os reparos pelos quais a unidade de saúde passou (leia na íntegra ao fim do texto).

Casos investigados sobem para 13

O Ministério da Saúde atualizou, nesta sexta-feira (31), as informações repassadas pelas Secretarias Estaduais de Saúde sobre a situação dos casos suspeitos do novo coronavírus no Brasil. Até o meio-dia, 13 casos se enquadraram na atual definição de caso suspeito para nCoV-2019 (o novo coronavírus), estabelecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde), ou seja, apresentaram febre e, pelo menos um sinal ou sintoma respiratório, e viajaram para área de transmissão local, a China, nos últimos 14 dias.

Os casos suspeitos estão sendo monitorados pelo Ministério da Saúde nos seguintes estados: Ceará (1), Minas Gerais (1), Paraná (1), Rio Grande do Sul (2), Santa Catarina (1) e São Paulo (7).

Até o meio–dia desta sexta-feira (31), o Ministério da Saúde descartou 9 casos para investigação de possível relação com a infecção humana pelo novo coronavírus. Todas as notificações foram recebidas, avaliadas e discutidas com especialistas do Ministério da Saúde, caso a caso, com as autoridades de saúde dos estados e municípios.

Nota da Fhemig na íntegra

O Hospital Eduardo de Menezes possui plano de contingência para condução de epidemias, o qual é aplicável ao novo coronavírus. A paciente tem acesso restrito a visitas, e as medidas de precaução individual estão sendo usadas para todos os servidores e familiares que têm acesso a ela, conforme protocolo institucional, inclusive, com escala de treinamento de paramentação e desparamentação dos equipamentos de proteção individual como medida obrigatória para todos. Ressaltamos que a paciente está em leito individual e o acesso ao setor também é restrito.

Algumas medidas de adequação de novos leitos já foram tomadas em plano emergencial pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig)/ Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG). Reiteramos que o ambiente no qual a paciente está não compromete sua segurança, nem dos profissionais e familiares que estão em contato com ela.

Em resposta ao alerta relativo ao novo coronavírus, a Fhemig está providenciando, em caráter emergencial, a adequação dos leitos de isolamento do Hospital Eduardo de Menezes. Estão sendo preparados quatro leitos privativos no Setor B e outros dois quartos privativos, com antecâmara, do Centro de Terapia Intensiva (CTI) da unidade. Destaca-se que, somente no ano passado (2019), a Fhemig investiu R$ 560 mil em manutenção e reparos neste hospital.

O valor a ser investido nas obras de adequação está em fase de levantamento. O prazo máximo para a conclusão das obras é de 15 dias.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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