Jovem diz ter sido proibido de trabalhar em restaurante de BH após colocar tranças

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Higor Antero, que atuava como garçom, relata que foi impedido de trabalhar no estabelecimento porque tinha feito tranças no cabelo (Arquivo pessoal)

Atualização às 10:40 do dia 22/08/2023 : Esta matéria foi atualizada para incluir o novo posicionamento do Sushi Naka, enviado após a publicação.

Um belo-horizontino de 25 anos denuncia ter sido impedido de trabalhar em um restaurante japonês localizado na Savassi, região Centro-Sul de Belo Horizonte, no último sábado (19), por discriminação. Higor Antero, que atuava como garçom no Sushi Naka, há quatro meses, relata que a proibição ocorreu porque ele tinha feito tranças no cabelo.

O jovem usou as redes sociais para falar sobre o episódio. “Infelizmente eu nunca achei que ia passar por isso, mas passei. Quando cheguei para trabalhar hoje, não me deixaram trabalhar porque eu estava com o cabelo trançado”, inicia.

Ele continua dizendo que se sentiu humilhado dentro do restaurante: “para mim foi muito humilhante pela forma como foi falado, como foi colocado”. Em conversa com o BHAZ, Higor disse que assim que chegou no ambiente de trabalho pela manhã foi tratado com rispidez por parte da chefe.

“Fui trabalhar normal e cheguei lá e fui surpreendido pela minha chefe por eu estar com o cabelo trançado. Depois que tomei meu café ela disse na frente de todo mundo que eu não iria trabalhar dessa forma. Quando cheguei lá, todo mundo disse que ficou diferente, que ficou legal o meu cabelo, mas ela de cara não gostou”, relatou ele.

‘Humilhação muito grande’

Após sair do restaurante, ele disse ter procurado o jurídico do estabelecimento para comunicar o ocorrido e justificar sua falta no trabalho. Por mensagens, contudo, a responsável pelo setor reforçou o preconceito sofrido por ele.

“Onde vc está com a cabeça de colocar trança no cabelo e ir trabalhar?”, escreveu a mulher. Em seguida, ela chega a perguntar se Higor “trabalha na feira hippie”. “Você trabalha com japonês, não com brasileiro que é oba oba”, acrescentou.

Higor disse ter chorado ao chegar em casa e se dar conta da situação que havia acontecido. No momento, ele conta não ter percebido que estava sendo vítima de preconceito.

“Foi uma humilhação muito grande, ela não se preocupou em me chamar em um canto, em falar comigo. Ela só gritou. Quando sai meus amigos me disseram que isso é crime, que ela estava me proibindo de trabalhar por conta do meu cabelo”, disse ele.

Mensagem que teria sido enviada pelo jurídico da empresa (Arquivo pessoal)

O que diz o restaurante?

Após o ocorrido, o jovem não voltou mais ao restaurante e pretende mover uma ação trabalhista e criminal contra o Sushi Naka e a chefe. Ao BHAZ, o estabelecimento disse que “repudia qualquer ato dessa natureza por sua origem oriental”.

O restaurante afirma, ainda, que “tem mais de 50% de negros em seu quadro de colaboradores”. Para Higor, contudo, o argumento apresentado pela empresa já está “ultrapassado”.

“Essa desculpa é bem ultrapassada. ‘Eu não pratico racismo porque tenho uma prima negra’, ‘não pratico racismo porque minha empregada é preta’. São pessoas que não entendem as coisas, por usarem esse argumento até hoje”, declarou.

Ainda de acordo com o Sushi Naka, “a conversa apresentada pelo colaborador não foi realizada com a administração ou pessoas que respondem pelo estabelecimento legalmente”.

Em nova nota, enviada após a publicação da matéria (leia na íntegra abaixo), o Sushi Naka informou que a pessoa que trocou mensagens com Higor era terceirizada e que teve o contrato de prestação de serviços cancelado.

Nota do Sushi Naka na íntegra

A empresa repudia qualquer ato dessa natureza sobretudo por sua origem oriental. O restaurante tem mais de 50% de negros em seu quadro de colaboradores e segue todas as normas e deliberações da vigilância sanitária.

A pessoa que realizou as trocas de mensagem com o colaborador já se encontra, a partir de hoje, com o contrato de prestação de serviços cancelado.

Lembramos que ela era uma profissional terceirizada e não tinha autorização para falar em nome do estabelecimento.

Ressaltamos que o fato está sendo apurado internamente com todo respeito a cultura étnica.

Arreda Pra Cá

Estreia nesta terça-feira (22), às 17h, o Arreda pra Cá, podcast do BHAZ que vai falar de tudo que o mineiro mais gosta: Minas Gerais, claro! Convidamos dez personalidades que têm tudo a ver com o nosso estado pra contar causos e bater um papo despreocupado no nosso sofá. Vai ter arte, cerveja, rolês, esporte e o que a gente tem de melhor: as nossas mineirices.

O esquema é simples, do jeitinho que a gente gosta: um sofá, um cantinho aconchegante e a conversa rolando solta. Os apresentadores Giovanna Fávero e Asafe Alcântara vão receber, a cada semana, um convidado pra contar tudo sobre negócios, marcas e personalidades que marcaram a história de Minas Gerais e fazem a gente se orgulhar de ser de BH.

Isabella Guasti[email protected]

Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022 e também de reportagem premiada pelo Sebrae Minas em 2023.

Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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