Rompimento de barragem pode aumentar risco de doenças e afetar água da Grande BH, diz especialista

Bárbara Ferreira/BHAZ

Moradores de Belo Horizonte e da região metropolitana deverão poupar água a partir de agora e se preocupar com os danos ambientais que o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, pode causar no futuro. Entre eles está o possível aumento de casos de Chikungunya, Zika Vírus e Febre Amarela.

Os alertas foram feitos pela coordenadora do programa Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, durante coletiva no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), na segunda-feira (28). Ontem, a ONG realizou uma expedição ao longo do rio Paraopeba, que foi atingido pelos rejeitos que vazaram da barragem na sexta-feira (25).

Os integrantes da expedição percorreram 40 km ao longo do rio coletando amostras da água e dos rejeitos. “Nessa coleta de água, a gente faz uma análise em tempo real no rio, medindo fluidez, o nível de oxigênio, o pH e todos os componentes químicos que fazem parte do índice de qualidade de água”, explica.

Ainda de acordo com a especialista, a medida visa coletar sedimentos para análise do tipo de metal pesado que atingiu o afluente e verificar se existem organismos vivos, que “são fundamentais para garantir que não haverá proliferação de insetos que acometam outras áreas não afetadas”, diz.

“Um desastre como este não se limita à área do fato. A perda de ecossistemas, podem gerar um impacto muito maior que em toda bacia hidrográfica. Como alguns estudos mostraram, casos como estes podem trazer riscos associados à Chikungunya, Zika Vírus e Febre Amarela, por conta da perda da fauna aquática que consumiam esses insetos no leito, assim como aconteceu com o Rio Doce”, disse.

Mar de lama em Brumadinho (CBMMG/Divulgação)

Água

Mesmo que o risco de desabastecimento de água na região metropolitana esteja descartado no momento, a especialista diz que é preciso economizar, já que, por conta dos rejeitos que caíram no rio Paraopeba, não se sabe quando a captação do afluente poderá ser retomada.

“Apesar de não estar havendo desabastecimento porque os outros reservatórios estão com volume bom de água é importante que a população economize água porque nós não sabemos por quanto tempo nós não poderemos captar água no Paraopeba”, afirma.

Além do risco para o consumo de água, Malu ressalta que, mesmo que tenha uma quantidade de lama menor, não dá para afirmar, ainda, que o dano ambiental será menor que o de Mariana.

“O material despejado é parecido e tem a mesma composição. Como os rejeitos estão contidos, a concentração de poluentes maior e pode atingir lençóis freáticos, afetando nascentes. A medida que chover, isso vai ser levado rio abaixo, alterando a dinâmica da bacia do Paraopeba”, conta a coordenadora que ainda ressalta: “A qualidade da água leva décadas para se recuperar. Por exemplo, três anos após o rompimento da barragem em Mariana, a água do Rio Doce não está como deveria estar”, pontua.

Área devastada em Brumadinho (Bárbara Ferreira/BHAZ)

Segundo a Copasa, imediatamente após o rompimento da barragem, a empresa fechou as comportas da unidade de captação de água no rio Paraopeba. “Essa foi uma ação preventiva para preservação das instalações daquela captação”, diz a companhia.

A empresa esclarece que a operação dessa captação, desde a sua implantação até o dia do rompimento, permitiu a recuperação dos níveis de água nos reservatórios do rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores. “Esses reservatórios, juntamente com a captação do Rio das Velhas, têm suficiência para a continuidade e a normalidade do abastecimento de água para a população da região metropolitana de Belo Horizonte. Nenhuma dessas fontes de água foi afetada pelo acidente e todas operam em condições normais”, afirma.

O volume atualmente armazenado nas represas é de 198 milhões de metros cúbicos de água o que, segundo a Copasa, garante o suprimento regular para a população durante os próximos períodos de estiagem 2019/2020.

Revolta

“Estamos assistindo o mesmo do mesmo. É lamentável que estejamos aqui, três anos depois, com a constatação de que não mudamos uma vírgula e não aprendemos nada com a tragédia ambiental de Mariana”, é o que afirma o coordenador do Projeto Manuelzão, e presidente do Fórum Mineiro de Bacias Hidrográficas, Marcus Vínicius Polignano.

Segundo Polignano, um gabinete de crise será criado para acompanhar o caso. “A impunidade, a ganancia e o lucro não justificam o risco. Vamos perder vidas se não revermos nossas prioridades. Vamos criar gabinete de crise da sociedade civil e vamos cobrar a ALMG, que sequer fez uma CPI de mariana. Nunca fiquei tão indignado na minha vida”, afirmou.

Responsabilidades

A promotora e coordenadora do Centro de Apoio das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma), Andressa de Oliveira Lanchotti, ressaltou que o MPMG quer aprender com os erros de Mariana e não pretende seguir os mesmos passos. “Criar uma fundação está fora de cogitação. Queremos que empresa responsável arque com os custos necessários. Em Brumadinho, o desastre será menor, mas no âmbito Socioeconômico o dano será maior. Contudo, ainda não dá pra fazer relação, pois, os valores serão significativos também. Vamos analisar caso a caso”, ressaltou.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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