Servidor público de BH cai em golpe bancário sofisticado e perde mais de R$ 60 mil: ‘Indignação’

cartoes de credito
Falsos funcionários do banco ligaram para o servidor alegando que seus cartões haviam sido clonados (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)

O servidor público federal Walter Loschi perdeu R$ 62 mil após cair em um golpe praticado por criminosos que se passaram por funcionários da agência bancária da qual ele é cliente. Segundo o servidor contou ao BHAZ, os suspeitos entraram em contato dizendo que os cartões dele estariam sendo clonados e oferecendo “ajuda” para bloqueá-los. O homem desconfiou da ação e chegou a acionar o banco, mas, mesmo assim, os falsos atendentes conseguiram fazer quatro transações. O caso é investigado pela Polícia Civil.

O golpe aconteceu na última terça-feira (27). Loschi, que mora no bairro Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte, relata que uma pessoa com voz masculina o ligou e se apresentou como funcionário do Banco do Brasil. “Disseram que meus cartões haviam sido clonados e que era para eu entrar em contato com os números que tem atrás do meu cartão de crédito”, conta.

“Pediram para eu fazer isso pelo telefone fixo, dizendo que pelo telefone fixo o banco teria condições de rastrear a minha localização e provar que eu estava em Belo Horizonte, porque o cartão foi supostamente clonado em Vitória [Espírito Santo]”, relembra. O servidor público acredita que os golpistas grampearam seu telefone fixo, de modo conseguiram receber a ligação e se passaram, mais uma vez, por funcionários do banco.

Varredura no computador

Na ligação feita pela vítima após o primeiro contato, a suposta funcionária pediu para que Walter fizesse uma “varredura” com um suposto antivírus em seu computador, alegando que o aparelho havia sido hackeado. O homem estranhou o pedido, mas nem chegou a ter tempo de questionar. “Quando eu percebi, o meu computador estava sendo acessado remotamente. Nesse momento, eu desliguei o computador e desliguei a ligação”, conta.

Walter afirma ainda que ligou para a gerente da sua agência do Banco do Brasil para avisar que estava sendo vítima de um golpe. “Ela me disse que sabia que esse tipo de golpe estava sendo praticado, e mesmo sabendo disso, eu disse para ela que estava sendo vítima, e ela não tomou providência. Ela disse para eu voltar a ligar para a central do banco”, lembra.

Sem o dinheiro de volta

Ao ligar para o contato orientado, Loschi conta que relatou o que havia acontecido e tomou conhecimento de quatro compras fraudulentas feitas com seus cartões de crédito e de débito. O servidor diz que contestou ao banco três das compras feitas, e teve todos os pedidos de ressarcimento negados.

Procurado pelo BHAZ, o Banco do Brasil afirmou que a agência acolhe as reclamações de manifestações financeiras não reconhecidas pelos clientes através da abertura de uma contestação – o que foi feito por Walter. “Posteriormente, esse processo é analisado pela área técnica que define sobre a responsabilidade das partes e sobre o ressarcimento ou não dos valores contestados”, disse o banco em nota (leia na íntegra abaixo).

‘Eu não falei a minha senha’

“Eu não entendo por que essas pessoas tinham acesso às minhas informações bancárias, eu não falei a minha senha para a mulher do golpe, e a minha senha foi usada. Quando você liga para a central, o banco cobra que você digite a senha, esse tipo de procedimento está expondo nós, clientes, a um risco de essa senha ser capturada”, aponta o homem.

Questionado, o Banco do Brasil informou que não pede aos clientes a digitação de senhas por meio do telefone. “O Banco do Brasil informa que não faz buscas de cartões dos clientes para perícia e que não solicita a digitação de senhas durante contatos telefônicos. O BB reitera ainda que não envia mensagens via SMS ou Whatsapp”, diz trecho da nota.

A instituição acrescentou “que não liga nem encaminha emails com links com solicitação de dados pessoais, dados do cartão e senhas dos seus clientes”. A reportagem questionou o banco mais uma vez, a respeito da digitação da senha durante o atendimento, fato que o servidor relatou ter feito. No entanto, a instituição não se pronunciou sobre.

Denúncia

Além de falar diretamente com o banco, Walter Loschi conta que foi até a delegacia de Polícia Civil do Barreiro para denunciar a ação criminosa na última quarta-feira (28), um dia após o golpe. Procurada, a corporação informou que já instaurou um inquérito para apurar o caso. As investigações estão em andamento e mais detalhes serão repassados “em momento oportuno”, conforme acrescentou a polícia em nota (leia na íntegra abaixo).

Walter também recorreu ao MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) para denunciar o caso, por meio de uma manifestação junto à ouvidoria do órgão. Na manifestação, Loschi reclama da atuação do Banco do Brasil, da companhia telefônica responsável pelo telefone fixo dele e das empresas responsáveis pelos cartões de crédito e de débito.

O BHAZ também entrou em contato com o Ministério Público, mas ainda não obteve resposta sobre o andamento da reclamação. Tão logo o órgão se manifeste, esta matéria será atualizada.

“O banco é obrigado a me advertir e a garantir a segurança do canal de comunicação que ele mesmo oferece. E mais uma coisa que me causa indignação foi o relato da gerente me dizendo que o banco tem a consciência desse tipo de golpe. Ou seja, o banco sabe que as ligações feitas pelo telefone fixo estão sujeitas a serem interceptadas e não avisa”, aponta.

Direitos dos clientes X deveres dos bancos

A advogada de defesa dos direitos do consumidor Laís Pereira Araújo explica que é dever dos bancos ter um sistema de segurança adequado para proteger os bens de seus clientes. Entretanto, ela alerta para a importância de redobrar os cuidados com as informações pessoas, já que as instituições podem se isentar da responsabilidade quando os clientes fornecem seus dados bancários para terceiros.

“Claro que o banco tem a obrigação de ter um sistema de segurança, e isso aí o consumidor pode questionar, dizer que o banco não é seguro o suficiente em relação aos dados dele. Mas a partir do momento que a pessoa passa os dados, ela está colocando em risco as informações e a conta bancária dela”, afirma a especialista.

Laís Pereira orienta que os clientes não passem suas informações bancárias por telefone, pois, nesses casos, o banco de fato pode não se responsabilizar. “Realmente pode ser que ela não consiga receber do banco depois, porque ele vai dizer que não tem essa responsabilidade. O que a pessoa vai ter que fazer é ir na esfera criminal denunciar o crime de estelionato”, afirma.

Nota do Banco do Brasil na íntegra

“O Banco do Brasil informa que não faz buscas de cartões dos clientes para perícia e que não solicita a digitação de senhas durante contatos telefônicos. O BB reitera ainda que não envia mensagens via SMS ou Whatsapp e que não liga nem encaminha e-mails com links com solicitação de dados pessoais, dados do cartão e senhas dos seus clientes.

O Banco do Brasil orienta sempre aos clientes a não aceitar ajuda de estranhos e tampouco fornecer suas senhas e cartões a pessoas terceiros e nem mesmo a funcionários.

O Banco acolhe todas as reclamações de movimentações financeiras não reconhecidas pelos clientes, com a abertura de processo de contestação. Posteriormente, esse processo é analisado pela área técnica que define sobre a responsabilidade das partes e sobre o ressarcimento ou não dos valores contestados.”

Nota da PCMG na íntegra

A Polícia Civil de Minas Gerais informa que foi instaurado um inquérito para apurar o caso e que as investigações estão em andamento. Demais informações serão repassadas em momento oportuno.

Edição: Giovanna Fávero
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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