Vídeo de morador de rua ‘tomando banho’ em bueiro de BH expõe dura realidade: ‘Tem gente que olha feio’

Vitor Fernandes/BHAZ + Facebook/Reprodução

Um vídeo de um homem tomando banho em um bueiro viralizou nos últimos dias. As imagens foram registradas em frente ao Parque Municipal Américoi Renné Giannetti, na Alameda Vereador Alvaro Celso, em Belo Horizonte. A cena, considerada engraçada por muitos, mostra uma triste realidade de milhares de pessoas que moram nas ruas da capital. O BHAZ foi até o local em que o vídeo foi gravado e se deparou com outra pessoa fazendo sua higiene no bueiro, ainda destampado.

Tomar banho todos os dias em um banheiro pode ser algo banal para a maioria dos belo-horizontinos, mas não para Daniel Borges da Silva, de 49 anos. Ele trabalha catando latinhas e mora nas ruas da capital há dois anos. Na hora do banho, ele entra em um bueiro destampado, em frente ao Parque Municipal, e usa a água dali mesmo.  Seu Danilo não é o homem que aparece no vídeo. O rapaz não mora na região, mas aparece por lá de vez em quando.

Atualmente, são 4.553 moradores que se autodeclaram em situação de rua em Beagá.

‘Seu’ Daniel nasceu e cresceu nas ruas. Ele conta que saiu de Patrocínio, no Alto Paranaíba, para tentar uma vida melhor na capital. Contudo, sem emprego e perspectiva, nada saiu como planejado. Mesmo assim, ele está sempre sorrindo e não reclama das adversidades da vida.

“Sou muito grato pela vida que tenho, não reclamo de nada. Tem gente que olha feio pra mim, mas nem me importo”, desabafa.

Seu Daniel com seus pertences em frente ao Parque Municipal (Vitor Fernandes/BHAZ)

Não é só Daniel que utiliza o bueiro. “Todo mundo [moradores de rua] toma banho e lava roupa aqui. A gente tirou a tampa do bueiro e usa a água que corre para fazer o que for preciso”, revela. Ele acredita que não tem perigo de pegar doenças. “A água aqui é corrente, se fosse parada, aí eu nem usava”, relata.

O homem explica que já passou por alguns albergues da prefeitura. “Eu fui, mas não é bom. Prefiro ficar na ‘pista’ mesmo”, conta.

Para o Natal, seu Daniel tem um desejo: “Gostaria muito de mochila, uma camisa e também um tênis, já que só tenho esse chinelo”. Ao se despedir, ele desejou um feliz Natal a todos. “Que Deus acompanhe e ilumine todas as pessoas”.

Vitor Fernandes/BHAZ

Solidariedade

Belo Horizonte tem várias ações voltadas para os moradores de rua, a maioria desenvolvida por entidades sem fins lucrativos, grupos de amigos e associações religiosas. Uma delas é o projeto Ronda Noturna, criado em novembro de 2010 com o intuito de atender moradores de rua da cidade. A ação social leva roupas, produtos de higiene e alimentos a pessoas em vulnerabilidade social.

Ao BHAZ, Danilo Maia, coordenador do projeto, explica que a ação vai muito além. “Nosso propósito não é apenas entregar os itens e ir embora. A doação é como se fosse um ‘pretexto’. Sentamos, conversamos, rezamos e cantamos com as pessoas. A cada minuto que vai passando, elas vão se abrindo. É uma forma de entrar no mundo da pessoa e fazê-la repensar sobre o motivo de estar na rua. A maioria que conversamos está na rua por opção. Muitas foram expulsas de casa por causa do vício em drogas e bebidas alcoólicas, aí não voltam por vergonha, constrangimento”.

Além disso, o projeto também auxilia no corte de cabelo e ajuda as pessoas na inserção no mercado de trabalho. Voluntários são bem-vindos. “Não queremos a pessoa apenas por uma ‘moda’, queremos pessoas que abracem o projeto ajudem com uma continuidade”, explica Danilo.

 

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Última Ronda de 2018!! ?? que ano!!! Valeu pessoal!!

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Se você se interesssou pelo projeto Ronda Noturna, entre em contato pelo Instagram do Ronda Noturna ou do Danilo.

Capacitação e oportunidades

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) explica que existem equipes de abordagem social para os serviços demandados por essa parcela da população nas áreas de saúde e educação.

A PBH auxilia os moradores de rua na capacitação para o mercado de trabalho, encaminhando-os para cursos profissionalizantes como os de culinária (salgadeiro, pizzaiolo, cozinheiro, auxiliar de cozinha, dentre outros) do Mercado da Lagoinha, por meio dos Centros Pop e dos abrigos.

Pessoas desejam sair das ruas

Censo da População de Rua aponta que 94% das pessoas pensa em deixar as ruas. No entanto, a maioria não pretende voltar para as casas onde viviam com familiares. Eles esperam conseguir trabalho e ter acesso à moradia por conta própria, mas 33,5% não cogitam ficar em abrigos, repúblicas e albergues ofertados pelo poder público por causa da inflexibilidade de horários e regras.

De acordo com a PBH, a cidade dispõe de cerca de mil vagas distribuídas entre abrigos, albergues e repúblicas. Nos albergues, além de pernoitarem, os moradores podem tomar banho, café da manhã e deixam o local durante o dia.

Unidades de Acolhimento Institucional

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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