Moradores de Macacos denunciam Vale por não pagar benefício: ‘Pessoas estão passando dificuldades’

Moradores recebem benefício desde que barragem chegou ao risco iminente de rompimento
Moradores recebem benefício desde que barragem chegou ao risco iminente de rompimento (Arquivo pessoal/Tatiana Sansi + Divulgação/Vale)

Moradores de Macacos, distrito de Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte, denunciam que a Vale S/A os “abandonou”, durante a pandemia do novo coronavírus. Há duas semanas, mais de 3 mil pessoas estão sem receber auxílio financeiro da empresa. A mineradora, no entanto, garante que segue pagando o auxílio. O valor é essencial para a sobrevivência da população, pois muitos estão desempregados.

No distrito de Macacos está localizada a barragem B3/B4. A estrutura da Vale pode romper a qualquer momento, pois segue no nível 3, o último do Departamento Nacional de Produção Mineral na escala de risco. Moradores precisaram deixas as casas e muitos perderam os empregos, devido à queda no turismo da região.

A líder comunitária Tatiana Sansi conta, ao BHAZ, que, desde então, a mineradora vinha concedendo um voucher-refeição semanal no valor de R$ 280 para as 3.711 pessoas cadastradas.

“Com esse dinheiro muitos conseguiam garantir a alimentação, mesmo estando desempregados, e isso ajudava a manter o comércio da região aberto. Mas tudo mudou”.

Os moradores de Macacos foram informados nas últimas semanas de março que o voucher deixaria de ser pago e seria substituído pelo Salário Emergencial. “Isso foi decidido pela Vale, à portas fechadas, junto ao Ministério Público. Alegaram que a entrega do voucher causava aglomeração e que era perigoso por conta do coronavírus”.

O motivo da mudança foi confirmado ao BHAZ pela assessoria da Vale por meio de nota. Um decreto municipal impedia a aglomeração de pessoas em decorrência do perigo de contágio pelo Covid-19. A alteração foi motivada pois os vouchers eram entregues de forma presencial aos 3.711 cadastrados.

O novo benefício é no valor de um salário mínimo para adultos, meio salário aos adolescentes e 1/4 de salário para crianças. A entrega acontecerá por meio de depósito em conta. O problema, segundo os moradores, é que até agora nenhuma quantia foi repassada.

Comunicado da Vale sobre mudança no benefício (Arquivo pessoal/Tatiana Sansi)

‘Pessoas passando necessidade’

Tatiana conta que desde o dia 20 de março os mais de 3,7 mil moradores estão sem receber da Vale. “Há 15 dias estamos sem o auxílio. O salário emergencial ainda não chegou. A Vale mandou fazer um novo cadastro sendo que tem todos os dados. Isso tudo é para enrolar. Estamos caminhando pra terceira semana sem recebermos nada”.

O novo cadastrado, segundo a Vale, é necessário pois as informações dos moradores que a mineradora tinha foi passada pelo Cras (Centro de Referência de Assistência Social). Nele não havia as contas bancárias dos beneficiários, algo necessário, visto que o repasse mensal será por “depósito em conta”.

A situação é ainda pior, conforme conta Tatiana, para os moradores da comunidade Capela Velha que em sua maioria trabalhavam nas pousadas e restaurantes e estão sem fonte de renda. “Muitos deles vieram do interior de Minas para tentar a vida. As pessoas estão passando dificuldades. Tem mãe que sustenta a casa sozinha e nós precisamos fazer cesta básica para ela ter o que comer com os filhos”.

A assessoria da Vale não soube precisar quando o benefício começará a ser depositado, já que alguns cadastros estão no processo de finalização.

Angústia

Bastou a sirene da barragem B3/B4 tocar para a angústia e o medo tomar conta dos moradores de Macacos, Alguns deixaram as casas e passaram a morar em pousadas. As famílias temem o contágio pelo Covid-19.

“Eles estão lá sem previsão de voltar pra casa, morando em um cubico. Imagina pessoas trancadas em um quarto neste momento de pandemia e sem receber auxílio”, diz a líder comunitária.

Tatiana e os demais assistidos cobram posicionamento da Vale sobre a situação, mas até o momento isso não aconteceu. “É um absurdo o que a Vale tem feito”, desabafa.

A Vale informou que “para auxiliar os atingidos, viabilizou o fornecimento de refeição, diariamente, em todas as acomodações dos hotéis e pousadas e a entrega de cestas básicas nas moradias temporárias”.

A nota na íntegra pode ser lida abaixo.

Nota da Vale na íntegra:

“Tendo em vista as recomendações de isolamento social diante do quadro de pandemia da Doença do Coronavírus (COVID-19), a Vale realizou um acordo com o Ministério Público, com a anuência da Defensoria Pública de Minas Gerais, para converter o voucher-refeição entregue à comunidade de Macacos em pagamento substitutivo, com depósito em conta.

A medida tem como objetivo garantir a segurança de empregados, terceirizados e moradores, que participavam da distribuição dos vouchers e recebiam o benefício, às segundas-feiras, presencialmente, no Posto de Atendimento da Vale.

O pagamento substitutivo prevê o repasse mensal de um salário mínimo por adulto, meio salário mínimo por adolescente e ¼ para crianças. A Vale recebeu a lista enviada pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Nova Lima, em 2019, contendo as 3.711 pessoas atualmente elegíveis ao recebimento do voucher, e prosseguiu com o cadastramento para a obtenção dos dados necessários.

É importante ressaltar que o voucher recebido pela comunidade de Macacos era de uso exclusivo para a alimentação e condicionado ao gasto no comércio local, que atualmente está fechado em razão da COVID-19. O pagamento substitutivo será depositado, mensalmente, em conta.

Adicionalmente, para auxiliar os atingidos, a Vale viabilizou o fornecimento de refeição, diariamente, em todas as acomodações dos hotéis e pousadas e a entrega de cestas básicas nas moradias temporárias.

A barragem B3/B4 já teve as obras de descaracterização iniciadas, com intervenções sendo realizadas fora da área de risco, como canais de cintura para desviar a água da chuva e a perfuração de poços fora da área do reservatório, que terão a função de evitar a contribuição de água subterrânea para o interior da barragem”.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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