Polícia Civil investiga morte misteriosa de modelo adolescente em BH

Arquivo pessoal/Michelle Tamietti

A Polícia Civil investiga a morte de uma adolescente, de 17 anos, encontrada com sinais de violência, na última segunda-feira (16), no bairro Paulo VI, na região Nordeste de Belo Horizonte. O registro da Polícia Militar relata que a estudante e modelo Alice Gabrielle Brito Pinheiro morreu de causas não naturais e que a suspeita é de “intoxicação exógena” – definição para intoxicação por qualquer tipo de substância química, de agrotóxico a medicamentos.

Mas familiares e amigos da jovem afirmam que ela foi torturada e morta pelo namorado e pelo irmão dele. Por sua vez, a família do jovem nega todas as acusações e diz que a adolescente e a mãe tinham um histórico de brigas e agressões. Alice deixou uma filha de um ano.

Versão da mãe

A mãe da vítima, Michelle Luana Brito Tamietti, acredita em homicídio e acusa o ex-namorado da filha, um jovem de 22 anos. Em entrevista ao BHAZ, a mulher conta que o namorado da menina é usuário de drogas e que a relação de Alice com ele fez com que a jovem também fizesse uso de substâncias tóxicas.

Segundo a mulher, a filha foi torturada e espancada pelo rapaz e o irmão dele no final de semana. “Eles torturaram minha filha, queimaram minha menina e a espancaram. Tem quase três anos que eu estava lutando para tirar eles da vida dela. Esses malditos abusaram da minha filha e agora estão querendo nos convencer que ela se suicidou”, disse. 

Michelle afirma que Alice era uma garota exemplar na escola e que sonhava ser veterinária. “Minha filha nunca tomou bomba [foi reprovada], as notas sempre mais de 8, ministrava catecismo na igreja até aparecer esses demônios na vida dela”. 

ATENÇÃO! Pela relevância jornalística, o BHAZ optou por publicar a foto dos ferimentos da vítima, mas a imagem, mesmo embaçada, pode ser perturbadora para algumas pessoas.

Mãe da vítima fotografou a filha após a morte (Arquivo pessoal/Michelle Tamietti)

Alice conheceu o namorado por meio de uma amiga e, de lá pra cá, conforme contou Michele, nunca mais foi a mesma menina. “No começo do namoro, tudo foi lindo. O rapaz foi lá em casa, conversou comigo e se comprometeu a cuidar dela. Passou uma semana, ele desapareceu com a Alice por três dias. Quando ela retornou para a casa já era uma outra menina: agressiva, quebrando tudo, sem aceitar conversar”.

A jovem enfrentava uma depressão e, após engravidar, teve um “surto”. “Quando ela descobriu a gravidez, ficou muito ruim. Dizia que não teria mais futuro, que não ia conseguir fazer a faculdade dos sonhos. Teve um surto”.

A mãe afirma que o relacionamento da filha com o namorado era abusivo, mas que a menina não conseguia se desvincular do rapaz.

Brigas constantes

No conjunto Paulo VI, Alice morava com o namorado em um “casebre”, como disse uma conhecida da jovem. “Ela estava sofrendo muito com agressões constantes. Nós tentamos alertá-la, mas o amor que tinha pelo rapaz era doentio. Ela foi tão torturada antes da morte, que estava com queimaduras nas pernas e barriga, além de marcas de cigarro pelo corpo. Escoriações, galo na cabeça e o rosto muito roxo”, contou uma amiga que prefere não se identificar.

Moradores do conjunto disseram ao BHAZ que, na sexta-feira, o pai do namorado de Alice foi até ao bairro para buscar as coisas do filho junto do irmão mais velho dele, pois não queria que ele se relacionasse mais com Alice.

“Foi uma gritaria tremenda na rua e fiquei assustada com o que estava acontecendo. Tentei acalmar e conversar com a Alice, mas ela só queria ir atrás dele. Naquele dia, o cunhado dela a jogou em um córrego que tem aqui perto. O braço dela estava na carne viva, pois ela foi arrastada até lá. A Alice contou que as agressões eram frequentes, mas que não sabia o motivo, pois acreditava que ela e o namorado se amavam muito”, relembra outra pessoa.

Segundo a vizinha, a jovem já havia tentado suicídio. “Ela contou que não aguentava mais e que tinha tentado se matar com uma corda. Isso é verdade pois ela estava com marcas no pescoço”, contou.

Versão da família do rapaz

Procurado pelo BHAZ, o pai do rapaz, que preferiu não se identificar, disse que esteve na casa onde o filho morava com a modelo na última quinta-feira (12), pois, na sexta, o jovem participaria de uma entrevista de emprego. “Fui até lá buscar o meu filho e a Alice não queria deixar ele vir. Um vizinho que estava na laje viu tudo e é prova disso”.

No fim de semana, o homem voltou à casa, na companhia do filho, para buscar os pertences que havia deixado. “Entrei com meu filho na casa e ela estava dando uma limpeza na geladeira. As coisas do meu filho estavam separadas e ela o chamou para uma conversa, mas ele disse que o momento não era pra isso e mandou ela esfriar a cabeça. Eu tentei conversar, mas ela me cortou: ‘Não dirige a palavra a mim'”, relembrou o pai.

Ele nega que o filho tenha agredido a namorada e conta que quem fazia isso era Michelle, a mãe da vítima. “Quem agredia a Alice era a própria mãe. É só ir nas escolas em que ela estudou e todo mundo vai contar”.

O namorado conversou com a garota momentos antes dela morrer. “Eles se falaram por ligação, e meu filho percebeu que ela estava com a voz diferente, meio grogue. Pelo Facebook, ele perguntou como ela estava, mas ela desconversou e pediu que ele fosse até lá. Ele explicou que não dava para ir naquela hora”, contou.

Passados alguns minutos, o jovem teria recebido uma mensagem dizendo que Alice tinha morrido. “Tudo está nas mãos de Deus. Peço que Ele acalme os corações de todos e que tudo seja resolvido”, concluiu.

Histórico conturbado

A família do ex-namorado de Alice denuncia que ela tinha um histórico de agressões e sérias discussões com a mãe, Michele, e que as acusações feitas por ela não fazem sentido.

Boletins de Ocorrência confirmam que a polícia foi chamada diversas vezes em decorrência de problemas entre Alice e a mãe, inclusive com episódios de agressão.

Michele disse ao BHAZ que as duas estavam se reaproximando e que, inclusive, havia comprado um celular com o qual a filha sonhava, de presente de Natal.

O dia da morte

Segundo a Polícia Militar, uma testemunha contou que conversava com a jovem, quando ela começou a passar mal, caiu no chão e começou a tremer e sentir convulsões.

Dois homem que estavam próximos ao local correram até a vítima, desfalecida, e tentaram reanimá-la com massagem cardíaca, mas ela não respondeu.

O SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi chamado e constatou a morte da adolescente.

Procurada pelo BHAZ, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que um inquérito foi instaurado para apurar o caso e que a causa da morte será revelada após a conclusão do laudo. 

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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