Mulher morre após cirurgia plástica em BH; família aponta erro médico

16/02/2025 às 15h02 - Atualizado em 17/02/2025 às 09h50
morta cirurgia plástica BH
Claudineia Francisca Lima morreu nesse sábado (15) (Reprodução)

Uma mulher, de 46 anos, morreu na noite desse sábado (15) após ter complicações decorrentes de uma cirurgia plástica realizada em uma clínica de Belo Horizonte. Claudineia Francisca Lima deu entrada na clínica do médico Marcelo Regianni na quinta-feira (13) para fazer uma cirurgia de hérnia epigástrica e uma abdominoplastia, mas, de acordo com a família, ela teve a traqueia perfurada durante o procedimento.

Após a cirurgia, os profissionais da clínica informaram que o procedimento havia sido um sucesso. No entanto, ainda no mesmo dia, a mulher começou a apresentar muito inchaço no rosto. Preocupados, os familiares acionaram a médica plantonista, que diagnosticou um quadro de anafilaxia e administrou antialérgico e adrenalina na paciente.

De acordo com o marido da vítima, ele sugeriu que a esposa fosse transferida para um hospital, mas a médica começou a chorar e disse que não sabia como realizar a transferência. O médico responsável pela cirurgia voltou para a clínica e garantiu que Claudineia estava bem, mas o quadro dela se agravou.

Claudineia, então, foi transferida para o Hospital Med Sênior, onde um outro médico constatou a perfuração na traqueia. Em seguida, ela foi transferida para o Hospital Alberto Cavalcanti e foi submetida a uma cirurgia de emergência, mas não resistiu e morreu.

Procurado, o cirurgião Marcelo Regianni, responsável pela clínica onde Claudineia foi atendida, defendeu que o local possui autorização para a realização segura de procedimentos médicos e atribuiu o agravamento do quadro da paciente à demora no tratamento efetivo ocasionado por sucessivas transferências entre hospitais após a cirurgia plástica.

“A equipe médica não identificou nenhuma intercorrência durante o procedimento, que foi concluído e a paciente foi encaminhada ao quarto para observação e recuperação, conforme protocolo pós-operatório padrão”, apontou em nota enviada ao BHAZ. Leia o posicionamento na íntegra ao fim da matéria.

A Polícia Civil de Minas Gerais afirma que investiga as causas e circunstâncias da morte de Claudineia. A entidade disse, ainda, que, até o momento, não houve conduzidos.

Nota do médico Marcelo Reggiani

A cirurgia plástica foi realizada na quinta-feira, 13 de fevereiro, em um hospital-dia localizado no Condomínio Lifecenter, em Belo Horizonte. O local possui autorização para a realização segura de diversos procedimentos médicos.

As intervenções foram feitas sob anestesia geral, que exige intubação. Essa escolha foi necessária visto que a anestesia peridural não foi completamente eficaz, conforme identificado pela anestesista. Ou seja, não houve perfuração da traqueia da paciente pelo cirurgião plástico. A intubação foi realizada pela anestesista como um procedimento padrão para a cirurgia.

A equipe médica não identificou nenhuma intercorrência durante o procedimento, que foi concluído e a paciente foi encaminhada ao quarto para observação e recuperação, conforme protocolo pós-operatório padrão.

Duas horas após a internação no quarto, a equipe observou inchaço na face da paciente, compatível com um quadro de anafilaxia (reação alérgica), e todas as medidas necessárias foram tomadas. Diante da evolução do quadro, mesmo com suporte médico devido, o cirurgião estando presencialmente com a paciente recomendou a internação emergencial em um hospital com maior estrutura.

O cirurgião atribui o agravamento do caso à demora no tratamento efetivo, ocasionado por sucessivas transferências entre hospitais após a cirurgia plástica e que estão listadas a seguir. Durante todo o período após a cirurgia, ele manteve contato próximo com a família, prestando apoio de forma ética e empática.

Esclarecimentos principais

  • O cirurgião perfurou a traqueia da paciente?
    Não. A intubação foi realizada pela anestesista, como procedimento padrão para a cirurgia.
  • O cirurgião realizou a plástica em uma clínica?
    Não. A cirurgia foi realizada em um hospital-dia localizado no Condomínio Lifecenter, em Belo Horizonte.
  • O cirurgião tinha conhecimento da lesão na traqueia?
    Não. Durante a cirurgia plástica, não houve qualquer intercorrência que indicasse essa complicação.

  • Por que o cirurgião recomendou a transferência da paciente para um serviço de emergência?
    Devido à gravidade do quadro de anafilaxia e à falta de resposta ao tratamento.
  • Quando o cirurgião tomou conhecimento da gravidade do caso?
    A gravidade do caso foi confirmada após a realização da tomografia, indicada por outro serviço de saúde, quando o diagnóstico inicial de anafilaxia foi descartado. Neste momento, o cirurgião plástico e sua equipe tiveram conhecimento sobre a perfuração.

Linha do tempo das transferências da paciente

Após a recomendação de transferência pelo cirurgião, a paciente deu entrada no Pronto Atendimento do Hospital Lifecenter, localizado no mesmo complexo do hospital-dia. Durante o atendimento, a equipe de plantão também suspeitou de anafilaxia e conduziu o tratamento com base nesse diagnóstico. No entanto, como a operadora de saúde da paciente não era aceita pelo hospital, a família optou por transferi-la para o Pronto Atendimento do Hospital MedSênior, na Pampulha. Como não havia risco imediato à vida, as equipes do Hospital Lifecenter e do cirurgião apoiaram a transferência.

No MedSênior, a equipe de emergência ampliou a investigação diagnóstica, pois o quadro continuava evoluindo mesmo com o tratamento para anafilaxia. Após a realização de uma tomografia, foi identificada lesão na traqueia e recomendada a internação para cirurgia torácica. No entanto, devido ao período de carência do plano de saúde da paciente e à ausência de risco iminente à vida naquele momento, a recomendação foi transferi-la para um hospital público (SUS).

Nesse ponto, a operadora já havia acionado uma ambulância para a transferência. Inicialmente, a família recusou a remoção, mas, após nova avaliação da necessidade, aceitou. Entretanto, foi necessário acionar outra ambulância, o que resultou em um atraso de aproximadamente duas horas na transferência para o Hospital Alberto Cavalcanti, localizado no Padre Eustáquio, isso na sexta-feira (14/02). No sábado (15/02), a paciente passou por um procedimento pela cirurgia torácica mais invasiva, sofreu duas paradas cardíacas e, infelizmente, faleceu.

A anestesista mencionou ao cirurgião algumas hipóteses para a perfuração da traqueia, que são descritas na literatura médica como riscos inerentes à manipulação da via aérea para intubação. Entre elas, estão possíveis lesões causadas pela guia utilizada para a intubação ou ruptura provocada pelo próprio tubo.

Em observação ao sigilo médico e à LGPD o cirurgião não cita o nome da paciente e de seus familiares e nem maiores detalhes sobre o procedimento. No entanto, coloca-se à disposição para o esclarecimento dos fatos.

Amanda Serrano

Com experiência nas principais redações de Minas, como Jornal Estado de Minas e TV Band Minas, além de atuação como assessora política, Amanda Serrano é, atualmente, repórter do Portal BHAZ. Em 2024, fez parte da equipe vencedora do Prêmio CDL/BH de Jornalismo.

Amanda Serrano

Email: [email protected]

Com experiência nas principais redações de Minas, como Jornal Estado de Minas e TV Band Minas, além de atuação como assessora política, Amanda Serrano é, atualmente, repórter do Portal BHAZ. Em 2024, fez parte da equipe vencedora do Prêmio CDL/BH de Jornalismo.

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