A família de uma recém-nascida denuncia negligência e erro médico da Maternidade Municipal de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. A bebê teve problemas com o acesso venoso, que chegou a causar uma necrose no pé da criança. Segundo os familiares, a lesão foi causada por negligência do hospital.
A pequena Lara, nascida no dia 28 de fevereiro, teve problemas respiratórios e ficou internada na maternidade. Segundo a tia da criança, Cibele Coutinho Pardinho, de 35 anos, dois dias depois do nascimento, a mãe percebeu que o acesso na mão da bebê estava com um vazamento. A equipe médica não percebeu que o soro estava espirrando. “Depois disso, eles mudaram o acesso para o pé, porque ‘perderam’ a veia na mão. Mas no pé, deu infiltração e desenvolveu necrose”, relata a tia.
Cibele afirma que, inicialmente, o diagnóstico da lesão necrosada não foi passado para os responsáveis pela criança. “A gente teve que ter o auxílio de outro médico, que fez o diagnóstico por imagem, com as fotos que enviamos, já que a bebê continuou internada”, conta.
Depois da família conseguir uma avaliação de um cirurgião plástico do hospital, a pequena passou por um procedimento que retirou a pele morta da lesão. Após a cirurgia, os pais foram informados de que a criança poderia receber a alta e continuar o tratamento de casa.
Confiança
Porém, logo em seguida, eles foram comunicados de que a criança deveria continuar o tratamento no centro de saúde. “A gente acha que como foi um erro deles, queriam manter ela lá até ficar 100%. A diretora do hospital ficou quatro horas conversando com a gente, dando garantia de que ela seria melhor assistida. Mas a gente falou que não queria mais, que não tinha confiança neles”, relembra Cibele.
Segundo outro profissional de saúde, consultado pela família, não haveria qualquer motivo para a recém-nascida continuar internada. “Não tem nada a ver, o tratamento pode ser feito em casa, não tem necessidade de ficar hospitalizada”, afirma Cibele.
Até o fechamento desta reportagem, a bebê continuava internada no hospital. A família ainda aguarda confirmações mais precisas sobre a liberação de Lara.
Pedido por justiça
Cibele chegou a registrar um boletim de ocorrência na Polícia Militar. Segundo ela, a família espera que outras pessoas não passem pela mesma coisa. “A mãe está arrasada, ela está com medo, insegura para dormir, com receio de acontecer alguma coisa. Totalmente atordoada. Ela está destruída”, lamenta.
A tia da criança diz que eles querem todos os direitos previstos na lei. “A gente quer uma garantia de que (o caso) seja acompanhado até o final, até 100% da cicatrização. Queremos ainda que seja feito o tratamento que for necessário. O hospital fala que é comum, mas pra gente isso não é normal. Poder acontecer, é uma coisa, mas chegar no estágio em que chegou mostra que não houve acompanhamento”, declara.
A versão do hospital
Em nota à imprensa (leia na íntegra abaixo), a Secretaria de Saúde de Contagem nega que tenha havido negligência médica. “Todos os procedimentos necessários foram realizados pela unidade, como assistência especializada do Serviço de Cuidados com a Pele, bem o de Cirurgia Plástica”, garante.
Além disso, a pasta afirma que casos como o de Lara são muito comuns. “Vale ressaltar que, perdas de acesso venoso periférico podem acometer 80% dos recém-nascidos que necessitem deste recurso, devido a fragilidade vascular desses. O extravasamento de soro para o espaço extravascular pode evoluir com lesão da pele”, afirma.
Por fim, a Secretaria lamenta o ocorrido e afirma que “providências protocolares estão sendo tomadas para alta e continuidade do tratamento em casa”.
Nota da Secretaria de Saúde de Contagem
“A Secretaria de Saúde de Contagem informa que não houve negligência médica. O parto foi normal e que a criança nasceu em perfeitas condições de saúde, pesando 3,286kg e escala Apgar igual a 8 e 9 – Quanto mais próximo de dez é a pontuação, melhor é a vitalidade do bebê.
Após uma hora de vida, o recém-nascido apresentou desconforto respiratório e foi encaminhado ao CTI Neo-natal. Na unidade, em 01 de março de 2020, o acesso periférico do bebê sofreu uma infiltração, provocando uma lesão na pele.
Todos os procedimentos necessários foram realizados pela unidade, como assistência especializada do Serviço de Cuidados com a Pele, bem o de Cirurgia Plástica.
Vale ressaltar que, perdas de acesso venoso periférico podem acometer 80% dos recém-nascidos que necessitem deste recurso, devido a fragilidade vascular desses. O extravasamento de soro para o espaço extravascular pode evoluir com lesão da pele.
Neste momento, o bebê e família recebem toda a assistência a saúde necessária seguindo terapêutica sugerida.
Providências protocolares estão sendo tomadas para alta e continuidade do tratamento em casa.
O Centro Materno Infantil lamenta o ocorrido. A instituição preconiza a cultura da Segurança do Paciente e a melhoria dos processos diante de situações como essas.”
