O vereador Nikolas Ferreira (PRTB) reagiu em reunião do Plenário a uma foto dele que foi queimada durante o ato que pediu justiça pelo assassinato do trabalhador congolês Moïse Kabagambe. O parlamentar pediu a cassação do mandato da vereadora Iza Lourença (PSOL), que curtiu uma publicação com a foto queimada. Já ela o acusa de criar “fake news”.
Publicações nas redes sociais de participantes do protesto, realizado no sábado (7) na Praça Sete, exibiram uma foto de Nikolas Ferreira sendo queimada na rua. O parlamentar classificou o ato e como “incitação ao ódio” e apontou que Iza Lourença comentou um post no Instagram que mostrava a foto queimada.
Imagina se eu tivesse curtido, comentado, compartilhado um post dizendo “fogo nos racistas” e com o nome de uma vereadora sendo queimada? Estariam pedindo minha cabeça agora. Já acionamos a Corregedoria pra tomar as providências. Chega. #CassacaoIza pic.twitter.com/aq6U9eBinK
— Nikolas Ferreira (@nikolas_dm) February 7, 2022
A vereadora se defende afirmando que a publicação continha dez fotos em sequência. “Não estava presente neste momento da manifestação, não queimei foto alguma, não publiquei esta imagem. Nem mesmo notei, quando comentei, que a imagem do vereador estava entre as fotos da publicação”, disse nas redes sociais.
Em reunião do Plenário da CMBH (Câmara Municipal de Belo Horizonte) nessa segunda-feira (7), Nikolas afirmou que pediu a cassação do mandato da parlamentar. Outros vereadores se dividiram em apoio a Nikolas e a Iza Lourença.
O vereador Professor Juliano Lopes (PTC), que presidiu a reunião, leu um comunicado em nome da Mesa Diretora, que se posicionou contra qualquer tipo de discurso de ódio, que deve ser combatido “com o rigor da lei”.
‘Indignação seletiva’
Ainda em Plenário, Iza Lourença explicou que o assassinato de Moïse no Rio de Janeiro provocou manifestações no Brasil inteiro. Ao pontuar que sete em cada dez assassinatos são de pessoas negras no país, ela afirmou que sempre lutou e sempre vai lutar pela justiça de cada um deles e convocar a indignação popular.
A vereadora disse que a frase “fogo nos racistas”, usada em uma das publicações que continha a foto queimada de Nikolas Ferreira, é parte do movimento negro e expressa a disposição de colocar fogo nas ideias racistas.
A parlamentar achou “estranho” que uma manifestante indignada num protesto contra racismo seja transformada em acusada e ré. Para ela, a acusação tem objetivo de criar uma “cortina de fumaça” para deslegitimar a indignação. “Jamais vão silenciar a voz dos que gritam contra a violência racista”, protestou.
Já Nikolas disse que não estava sendo discutido se foi ou não racismo ou a legitimidade da manifestação, e sim a queima da foto. “Se fosse o contrário, estariam pedindo minha cabeça”, argumentou, acusando a colega de desonestidade intelectual e de não admitir o que fez.
Os vereadores Bella Gonçalves (PSOL) e Pedro Patrus (PT) também criticaram a “indignação seletiva” dos parlamentares, que em nenhum momento se manifestaram contra a tortura e execução brutal do imigrante.
‘Fake news’
Por meio das redes sociais, Iza Lourença fez publicações acusando Nikolas de criar fake news para constrangê-la na CMBH. “Pelas redes sociais e dentro da Câmara Municipal, ele tem se utilizado da minha presença no ato para me intimidar e mobilizar pelo processo de cassação do nosso mandato com uma acusação falsa”, defende.
Ela voltou a explicar que não publicou a imagem da foto queimada nem viu que ela estava dentro da publicação curtida. “O vereador utilizou o espaço do parlamento para fazer uma denúncia infundada, buscando confundir os membros da Câmara Municipal e a população em ano eleitoral”, diz.
A vereadora afirma ter convicção de que o pedido de cassação do mandato será arquivado, “já que não tem qualquer validade jurídica ou lastro na realidade”, e descreve a atitude de Nikolas como um grave ataque à democracia e à luta antirracista.
VEREADOR BOLSONARISTA CRIA FAKE NEWS PARA ME CONSTRANGER NO PARLAMENTO
— Iza Lourença (@Izalourenca) February 8, 2022
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