Pandemia reduz castração de pets em BH e tutores denunciam descaso na região Oeste

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Centro só realiza agendamento presencialmente e em um dia do mês (Arquivo pessoal/Patrícia Santos)

Além de ter levado mais de 200 mil vidas, desde que começou, em março do ano passado, a pandemia do novo coronavírus também afeta serviços considerados essenciais para a população. A castração de animais, por exemplo, é uma das iniciativas públicas prejudicadas pela chegada da Covid-19. Moradores da capital relatam não conseguir agendamentos remotos para castrar cães e gatos, o que os fazem ir presencialmente aos locais, gerando aglomeração. É o caso do Centro de Esterilização de Cães e Gatos do bairro Salgado Filho, na região Oeste de Belo Horizonte.

As unidades de castração fazem parte da Secretária de Saúde da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte). A pasta informa que, em 2020, o número de procedimentos realizados nos locais caiu 35%. A redução é atribuída à reorganização forçada pela pandemia. Pessoas ouvidas pelo BHAZ relatam que o telefone da unidade Salgado Filho não costuma ser atendido e que precisaram, em algum momento, ir ao local em busca de informações.

“O telefone, que antes vivia ocupado, agora, qualquer que seja o horário, chama e não é sequer atendido. Assim, como não é possível obter informação nem fazer o agendamento pelo telefone, o interessado em castrar seu animal precisa ir ao centro presencialmente, apenas para ser informado que dia poderá retornar para fazer o agendamento”, conta Patrícia Santos, frequentadora da unidade de castração há anos.

“Nesse momento em que todas as empresas, escolas, repartições públicas e afins têm tentado evitar a presença física desnecessária das pessoas, o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) tem ido na contramão. Não consigo imaginar o que impediria que o agendamento fosse feito por telefone ou mesmo pela internet”, disse.

Centro de Esterilização de Cães e Gatos da Prefeitura de Belo Horizonte no Salgado Filho (Reprodução/PBH)

Adriana Araújo, coordenadora do MMDA (Movimento Mineiro pelo Direitos dos Animais), ainda lembra outros problemas que a pandemia trouxe para a situação dos animais. “Os centros diminuíram o atendimento e começou a faltar material porque tiveram que priorizar humanos. Máscara, luva, passou a ser priorizado para os hospitais”.

“O atendimento que já não era suficiente, foi reduzido. Além disso, por causa do desemprego – o que não justifica – o abandono dos animais aumentou. Eventos de adoção da proteção animal, que aconteciam semanalmente, foram interrompidos, e a contribuição financeiras pras organizações financeiras diminuíram”, pondera.

Descontrole populacional

O atendimento reduzido e a falta de insumos básicos, entre outros problemas gerados pela pandemia, levam a um descontrole da população de cães e gatos na capital. É o que conta Adriana.

“A ausência ou adiamento da castração dos animais podem causar um descontrole populacional. As cadelas entram no cio a cada 6 meses, gestação de 60 dias, e as ninhadas variam de 4 a 16 filhotes. Já com as gatas é assustador, elas entram no cio a cada 28 dias e gestação de 60 dias”, disse.

Em 10 anos, um casal de cães podem originar 80.399.780 animais (Reprodução/SOS Bichos)

“Já existe um descontrole absurdo em BH. A cidade está cheia de colônias de gatos: são aglomerações, amontoados de gatinhos que ficam reproduzindo – e aí começam os maus-tratos. Além disso, os cães e gatos em descontrole começam a ir pra área de preservação ambiental e atacar os animais silvestres”, contou.

No Centro Salgado Filho, há frequentadores que se disponibilizam a levar animais de outras pessoas para evitar esse descontrole, mas o atendimento ruim é uma dificuldade.

“Eu faço campanha no meu bairro, um bairro pobre, Vila Ecológica, perto da Estação Diamante, no Barreiro, porque o pessoal aqui não é muito ligado nisso e deixa o cachorro reproduzindo, pega e solta numa mata. Eu vou na casa das pessoas, pego número, CPF, o pessoal lá já me que conhece por isso. Eu não quero que os animais vão pra mata, fiquem reproduzindo, sem comida”, contou Loislaine Pereira.

“Mas o atendimento no Salgado Filho é horrível. Deixam o telefone fora do gancho, não são educados, já cancelaram comigo no mesmo dia e também já me informaram data errada. Eu moro um pouco longe, tenho que pagar passagem, vou duas, três vezes, e quando chego lá me falam que a data mudou”, lamenta.

“Já se você chega dez minutos depois, mesmo se não começaram o procedimento ainda, falam: ‘não dá, vai ter que marcar pra daqui 2 meses’. Aí o animal entra no cio, engravida, e não dá mais pra castrar”.

Aglomeração

As aglomerações na frente do Centro de Esterilização do Salgado Filho são apontadas como outro problema. “O centro do Salgado Filho tem dificultado ao máximo o distanciamento social das pessoas que tentam ter a posse responsável de um animal ou que tentam ajudar de forma voluntária a conter o aumento do número de animais abandonados nas ruas”, reclama Patrícia.

“Geralmente quem precisa da esterilização gratuita de animais e vai até o local é de baixa renda e usuário de transporte público. Em um único dia do mês, às 13h, todas as pessoas interessadas em castrar animais nos meses seguintes são obrigadas a enfrentar uma longa fila na porta do CCZ Salgado Filho.”

“Como às 13h é horário comercial e o munícipe teria que se ausentar por 3 vezes do trabalho – uma para saber o dia e a hora do agendamento, uma para agendar e outra para levar o animal para o procedimento – isso costuma ficar a cargo do grupo de risco, gente que independentemente de Covid, não deveria ter que ficar horas em pé numa fila”.

Pessoas se amontoam do lado de fora para esperar agendamento e atendimento (Reprodução/Patrícia Santos)

“Eles não podem esperar por uma vacina. A natureza não se rende aos caprichos do ser humano. Os bichos entram no cio com ou sem pandemia. A ineficiência do CCZ gera uma bola de neve. Mais animais abandonados, mais custo para o contribuinte, mais trabalho para os chamados protetores”.

“O público dos centros de esterilização da prefeitura é no geral, de baixa renda e baixa instrução. Não sabe como ou a quem recorrer para reivindicar um tratamento mais digno. Não sabe sequer que tem direito a isso. Acredita que a prestação desse serviço é uma caridade, pois há funcionários públicos que agem como se fosse”, concluiu.

Política Pública

Como conta a coordenadora do MMDA, Adriana Araújo, os centros de castração se originaram como uma política pública e foram uma conquista popular. “Até pouco tempo atrás, Belo Horizonte, a exemplo de várias capitais, tinham a carrocinha, um furgão da prefeitura que matava os animais em câmara de gás. A gente contestou e se mobilizou e conseguiu derrubar isso”, lembra.

“Em meados de 2004, o movimento apresentou ao prefeito da época, Fernando Pimentel, a proposta de um centro de esterilização em cada regional da capital, além de castramóveis pra ir nas comunidades carentes. Em um ano e meio, três centros de castração foram criados, incluindo o do Salgado Filho”.

“De lá para cá, o ex-prefeito Márcio Lacerda, em oito anos, só construiu um, no Barreiro. O Kalil, no mandato passado, na região Leste, construiu mais um. Aliviou, mas não resolveu.”

Adriana também destaca a importância da conscientização da população. “Tão importante ou mais do que a castração gratuita é a educação. Se a população não for educada, ela vai continuar comprando animal, querendo tirar uma cria, dando animal de presente. Isso tudo compromete a qualidade de vida dos animais e boicota essa política”.

“É preciso conscientizar em postos de saúde, escolas, nos ônibus, nas rádios, na plataforma da prefeitura do Instagram e incentivar a educação ambiental com foco para a guarda responsável”, finaliza.

Prefeitura

Segundo a PBH, o agendamento das cirurgias de castração é informatizado, e “cada telefonema para solicitação do serviço dura de 5 a 8 minutos. Em alguns casos, na mesma ligação é realizado o cadastro de mais de um animal do mesmo proprietário, o que demanda maior tempo para atendimento.”

“Os agendamentos também podem ser feitos presencialmente. No local, são repassadas orientações a respeito da prevenção à Covid-19 e é exigido uso de máscara. Atualmente as agendas para marcação das cirurgias é aberta mensalmente”, completam.

Além disso, a PBH informa que estão aprimorando o serviço de telefonia para ampliar o atendimento e que já estão “desenvolvendo um novo sistema para viabilizar agendamentos realizados pelos próprios cidadãos. O novo sistema está em fase de teste e a previsão é que no primeiro semestre de 2021 já esteja implantado”. Veja nota completa abaixo.

Nota da PBH

A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informa que o agendamento das cirurgias de castração é informatizado, e que cada telefonema para solicitação do serviço dura de 5 a 8 minutos. Em alguns casos, na mesma ligação é realizado o cadastro de mais de um animal do mesmo proprietário, o que demanda maior tempo para atendimento.

Os agendamentos também podem ser feitos presencialmente. No local, são repassadas orientações a respeito da prevenção à Covid-19 e é exigido uso de máscara. Atualmente as agendas para marcação das cirurgias é aberta mensalmente.

Devido à pandemia foi necessário reorganizar o fluxo de realização de cirurgias de castração animal, com redução no número de procedimentos, Em 2020, até novembro, foram realizadas mais de 20 mil cirurgias de castração animal. Já em 2019, foram cerca de 30 mil cirurgias.

A Prefeitura informa ainda que as recomendações para adequação das ações de vigilância e controle de zoonoses frente à atual situação epidemiológica da Covid-19 estão previstas na Nota Técnica 013/2020, disponível no link:
https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/noticia/nota-tecnica-covid-19-n013_2020-atualiz-10112020.pdf

A Prefeitura está aprimorando o serviço de telefonia para ampliar o atendimento e já está desenvolvendo um novo sistema para viabilizar agendamentos realizados pelos próprios cidadãos. O novo sistema está em fase de teste e a previsão é que no primeiro semestre de 2021 já esteja implantado.

Centros de esterilização em BH

Belo Horizonte tem, atualmente, cinco centros gratuitos de esterilização para cães e gatos:

  •  Barreiro: Centro de Esterilização de Cães e Gatos Barreiro – Avenida Antônio Praça Piedade, 68, bairro Bonsucesso
  •  Norte: Centro de Controle de Zoonoses – Rua Edna Quintel, 173, bairro São Bernardo
  •  Oeste: Centro de Esterilização de Cães e Gatos Oeste – Rua Alexandre Siqueira, 375, bairro Salgado Filho
  • Noroeste: Centro de Esterilização de Cães e Gatos Oeste – Rua Antônio Peixoto Guimarães, 33, bairro Caiçara
  • Leste: Centro de Esterilização de Cães e Gatos – Rua Antônio Olinto, 969, bairro Esplanada
Edição: Roberth Costa

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