Por que a população de BH diminuiu nos últimos 12 anos?

População de BH
População da capital diminuiu em 2,5% (Amanda Dias/BHAZ)

O Censo 2022, divulgado nesta quarta-feira (28), apontou para uma diminuição da população de Belo Horizonte: em doze anos, a capital mineira perdeu cerca de 59,5 mil habitantes. Por trás desta estatística, estão vários fatores que podem ajudar a explicá-la.

De acordo com os dados divulgados hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população da capital mineira foi de 2.375.151, em 2010, para 2.315.560, em 2022. A queda indica uma redução de 2,5% na população de BH.

Reinaldo Onofre dos Santos, doutor em Demografia, especialista em projeções populacionais, professor da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e pesquisador do NuGea (Núcleo de Pesquisa Geografia, Espaço e Ação); e Alisson Barbieri, professor do Cedeplar (Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG), apontam o que pode ter levado a essa diminuição.

Crescimento populacional
BH não havia perdido moradores antes de 2022 (IBGE/Divulgação)

Conjunto de fatores

Ao BHAZ, Reinaldo dos Santos lembra que Belo Horizonte tem as características de qualquer outra capital do mesmo porte: equipamentos educacionais, hospitalares, e outras facilidades que são atrativas para a população do entorno. Ele ainda reforça que, durante a pandemia de Covid-19, esses fatores atraíram muitas pessoas para a capital mineira.

“Ao mesmo tempo, houve um contrafluxo: pessoas de classe média e classe média alta indo morar fora da cidade. Vimos um aquecimento do mercado imobiliário em busca de sítios, por exemplo. O que eram casas de passeio viraram casas permanentes, principalmente desde o final da última década”, completa.

No entanto, além da migração – tanto de entrada quanto de saída -, outros mecanismos também afetam a população absoluta de BH e podem ter tido uma contruição ainda maior na queda do número geral de habitantes.

“Tivemos outro processo verificado de forma indireta durante a pandemia: o envelhecimento populacional. Os números ainda não foram divulgados pelo IBGE, mas provavelmente vamos nos deparar com um crescimento no número de domicílios com casais idosos ou uma só pessoa idosa morando sozinha”, aponta o especialista.

A densidade dos domicílios também deve ser levada em conta: em 2010, as casas em Belo Horizonte tinham em média 3,11 habitantes. De acordo com o Censo 2022, hoje essa média é de 2,59 pessoas por domicílio.

Domícilios
BH tem menos de três pessoas por residência (IBGE/Divulgação)

“Não é só uma questão de mercado imobiliário: existe uma demanda menor por domicílios por causa do envelhecimento da população. A fecundidade também é um fator: em 2010, a média de filhos por mulher era de 1,3. Muito provavelmente, este número também vai ter caído em 2022”, completa o professor.

Migração

Já Alisson Barbieri lembra que, apesar de serem fatores significativos, a fecundidade e a mortalidade não explicam sozinhas essa diminuição. Isso porque BH tem taxas parecidas com as cidades da região metropolitana, que, por sua vez, apresentaram aumento da população nos últimos 12 anos.

“Só vamos confirmar as hipóteses nos próximos meses, quando o IBGE divulgar os dados sobre migração. Vamos ver quantas pessoas saíram de BH para Nova Lima, para Lagoa Santa… Tudo leva a crer, que além do efeito de redução da fecundidade, também tem a migração”, diz.

Reinaldo dos Santos aponta que, levando em consideração as famílias cada vez menores e o envelhecimento da população, o número de habitantes de BH na verdade poderia ter apresentado um declínio ainda maior.

“Essa diminuição de 60 mil pessoas é pequena, esperava-se que ela fosse muito mais expressiva. Muita gente imagina que a população está saindo da cidade, mas temos que imaginar que, naturalmente, BH está crescendo menos”, explica.

Segundo o especialista, a queda já era esperada e é um fenômeno pelo qual todas as capitais estão passando. Conforme o Censo 2022, algumas das capitais que perderam habitantes desde 2010 são Salvador (257.651 pessoas a menos), Rio de Janeiro (109.023 pessoas a menos), Belém (90.010 pessoas a menos), Porto Alegre (76.781 pessoas a menos), entre outras.

“Existem fluxos de migração de saída, mas BH com certeza ainda tem muita entrada. Se olharmos só para os fatores fecundidade e mortalidade, o cenário poderia ser ‘pior’. Talvez a migração não seja a grande vilã. Em populações com poucos nascimentos e poucos óbitos, a migração gera um efeito muito forte nas mudanças demográficas, por isso esses três efeitos combinados podem estar gerando essa diminuição”, finaliza.

O professor Alisson Barbieri também ressalta que o impacto da migração não deve ser subestimado. Segundo ele, Belo Horizonte e outras grandes capitais brasileiras têm enfrentado questões que diminuem a atratividade para os habitantes, como o valor do aluguel, a qualidade de vida e a segurança.

“Esses fatores fazem com que as pessoas busquem comicílio onde o valor da terra é mais acessível. O mercado imobiliário nos municípios do entorno apresenta valores de aluguel muito mais acessíveis a essa população. Existe um efeito de desconcentração, e esse é um processo que tem acontecido em outras regiões”, diz.

O IBGE ainda não divulgou os detalhes relativos ao Censo 2022 sobre o fluxo de migração envolvendo Belo Horizonte.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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