Passados cerca de dez dias da reinauguração da tradicional Praça da Liberdade, a reforma que custou R$ 5,2 milhões aos cofres públicos não caiu nas graças da população. As reclamações variam, mas a principal está sempre presente: a sensação de que o número de árvores diminuiu e, consequentemente, existe menos sombra no espaço. O Iepha-MG (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), responsável por essa mudança no ponto turístico, se defende e garante que existe uma quantidade maior de árvores do que anteriormente.
A @prefeiturabh gastou 4 milhões de reais na reforma da praça da liberdade, e o resultado ficou igual estava antes da reforma.
— Gandrão (@gandraoo) 5 de dezembro de 2018
[twenty20 img1=”461802″ img2=”461803″ offset=”0.5″ before=”2012 (Isabel Baldoni/PBH)” after=”2018 (Adão de Souza/PBH)”]
Nos últimos dias, as redes sociais foram invadidas por reclamações e questionamentos sobre as mudanças na Praça da Liberdade. “Eu é que não sou detalhista ou não mudaram nada na Praça da Liberdade depois de 6 meses de reforma?”, escreveu um belo-horizontino no Twitter. O BHAZ resolveu, então, ir ao ponto turístico da capital mineira para escutar quais são as impressões dos frequentadores e mostrar, por fotos, algumas mudanças para quem ainda não conseguiu visitá-lo.
Dando uma volta na “nova” Praça da Liberdade e ela está com menos árvore, é isso?
— Cora (@EstouPersefone) 14 de dezembro de 2018
[twenty20 img1=”461810″ img2=”461776″ offset=”0.5″ before=”2010 (Lúcia Sebe/PBH)” after=”2018 (Ayron Borsari/BHAZ)”]
A enorme maioria reprovou. Os estudantes Letícia Oliveira, Mariana dos Santos e Daniel Axel, por exemplo, frequentam a praça rotineiramente, e ficaram insatisfeitos com as intervenções. “Nem parece que o espaço foi reformado. Tiraram as árvores, estamos sem sombras”, disse Mariana. Daniel foi mais enfático: “Parece que pegaram o dinheiro e gastaram com outra coisa”, questionou.
[twenty20 img1=”461823″ img2=”461649″ offset=”0.5″ before=”2008 (Divulgação/PBH)” after=”2018 (Henrique Coelho/BHAZ)”]
Outro jovem levantou o mesmo ponto: a diminuição das sombras. “Podia ter deixado mais árvores, o sol atrapalha muito. A praça melhorou bem pouco”, disse o universitário Gabriel Reis, que durante a entrevista se protegia do sol. “Pelo tempo que ficou fechado e pelo que foi entregue, não valeu a pena. Poderiam ter economizado e feito o investimento em outro lugar. Não tem nada de novo”, completa.
Sobre a reforma da Praça da Liberdade: quase seis meses interditada pra cortar metade das árvores e trocar os bancos. pic.twitter.com/8t8Rm3A2w9
— Alexandre Dutra (@Alexfrd) 9 de dezembro de 2018
O Iepha-MG, de fato, admite ter retirado espécies porque, segundo o instituto, estavam “doentes, apresentando cupins e ratos em suas raízes”. Outras, ainda, estavam velhas e corriam o risco de caírem em cima das pessoas. A PBH fez coro ao instituto e disse que “todo o trabalho de poda e supressão foi feito conforme laudos técnicos especializados e sob orientação do Iepha que também é o responsável pelos outros aspectos da reforma”.
12 solicitações de queda de árvore desde ontem na defesa civil depois do temporal e uma pessoa morta por conta disso e ainda tem gente que espuma por causa da poda das árvores da praça da liberdade.
— Girassóis de Van Gogh (@stlaurao) 7 de dezembro de 2018
Apesar da retirada, o Iepha-MG afirma que houve o replantio daquelas suprimidas e que novas foram plantadas. “No total, foram substituídas 32 árvores e acrescidas outras 19 espécies e nove palmeiras”, afirma, por nota. A Praça da Liberdade foi interditada em julho e reinaugurada no início deste mês. O custo da obra ficou em torno de R$ 5,8 milhões, sendo que as ações de revitalização paisagística realizadas com recursos da Vale, por meio de termo de compromisso, somam R$ 2,6 milhões. A iluminação ficou sob a responsabilidade da PBH, que investiu R$ 3,2 milhões.
Reclamações
O artesão Marcos dos Santos também questiona a ausência das árvores e aponta outra intervenção que poderia ser feita. “A iluminação melhorou bastante e achei que os bancos também. Mas eu acho que cortaram árvores demais e que isso deixou a praça vazia. Olha esse passeio, poderiam ter reformado”, diz, apontando para um calçamento irregular.
6 meses de reforma da praça da liberdade em bh. Passei de carro agora e não notei nenhuma diferença. Às vezes é sensorial, né?!
— Flavinho (@x_Flavour) 7 de dezembro de 2018
Questionado, o Iepha-MG admite que não conseguiu realizar a substituição total do calçamento porque os recursos viabilizados para as obras, bem como o período de fechamento da praça, não contemplavam esse procedimento. Mas alguns pontos cuja reforma foi considerada mais urgente foram revitalizados. “O calçamento foi revitalizado nos locais onde foram identificados danos significativos que comprometiam a segurança da circulação das pessoas”.
Fecharam a praça da liberdade para reforma durante uns 2 meses, não mudou quase nada ($$$$$ ???) e ainda colocam uma iluminação de natal BREGAAAAAA como esta. Vc já foi melhor BH. pic.twitter.com/A51X77zcRF
— Bel Lima (@bel_l1ma) 6 de dezembro de 2018
“Estou assustado, pois não pensava que era tão caro. Nem parece que reformaram a praça, mas sim que fizeram uma limpeza”, afirmou o estudante Daniel Axel ao ser informado pela reportagem sobre o valor total da obra.
Vandalismo: praça ‘nova’, problema antigo
Da reinauguração da praça, no dia 3, até a última segunda-feira (10), 126 canos de irrigação foram arrancados, duas pedras que fazem parte do bebedouro quebradas e os jardins, pisoteados. O balanço da Guarda Municipal revela um problema antigo: o vandalismo. “Ficou maravilhosa e melhor do que antes”, afirma, na contramão, a aposentada Rosa Sampaio. “Porém, o vandalismo continua demais. Já arrancaram os bicos de irrigação, as pessoas pisam nas gramas e tiram as flores. Falta educação neste povo”, complementa.
Ao encontro da fala de Rosa, a Guarda Municipal de BH fez o registro na última segunda-feira (10), de 126 canos de irrigação que foram arrancados, a quebra de duas pedras que fazem parte do bebedouro além dos jardins que tiveram a grama pisoteada.
tem coisa que simplesmente não da pra entender:
a Praça da Liberdade é um dos pontos turísticos daqui de BH e todo ano ela é decorada com luzes para o Natal. ela esteve fechada por 5 meses pra reforma e foi aberta quinta passada, e ontem ela amanheceu DEPREDADA
— ambivalente (@vnrxfael) 11 de dezembro de 2018
Procurada pelo BHAZ, a Guarda Municipal informou que mantém uma equipe de 13 agentes no patrulhamento da praça e que eles se dividem em turnos para “garantir a presença fixa dos agentes durante as 24h”. Na fiscalização ainda são utilizadas duas motos e três viaturas que fazem ronda periódicas no local e nas demais praças e parques da região Centro-Sul.
Durante a visita do BHAZ à praça, funcionários da PBH realizavam a recolocação dos irrigadores retirados. Um servidor que preferiu não se identificar disse não entender o que leva as pessoas a cometerem atos de vandalismo. “Muitos fazem isso pra aparecer. Ontem mesmo tinha uns jovens chutando as flores do jardim e quando fui pedir para parar eles me xingaram”, disse após elogiar a reforma do local. O servidor acredita que é necessário reforçar a segurança. “Se não fizerem isso, os vândalos continuarão arrancando aquilo que instalamos”
Uma semana após ser liberada, praça da Liberdade sofre com vandalismo.
5,2 milhões investidos na reforma, pra vir um bando de filho da puta noiado e estragar a praça.— João Santana ?? (@JhonSantana11) 11 de dezembro de 2018
Responsável pela manutenção da praça, a construtora MRV esclarece que campanhas de conscientização serão realizadas no próximo ano com o objetivo de alertar a população sobre a “importância da preservação de bens públicos”.