‘Sem sombras’: Frequentadores reprovam reforma milionária da Praça da Liberdade; veja como ficou

Praça da Liberdade em 2012 (à esquerda) e em 2018 (Adão de Souza/PBH + Isabel Baldoni/PBH)

Passados cerca de dez dias da reinauguração da tradicional Praça da Liberdade, a reforma que custou R$ 5,2 milhões aos cofres públicos não caiu nas graças da população. As reclamações variam, mas a principal está sempre presente: a sensação de que o número de árvores diminuiu e, consequentemente, existe menos sombra no espaço. O Iepha-MG (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais), responsável por essa mudança no ponto turístico, se defende e garante que existe uma quantidade maior de árvores do que anteriormente.

[twenty20 img1=”461802″ img2=”461803″ offset=”0.5″ before=”2012 (Isabel Baldoni/PBH)” after=”2018 (Adão de Souza/PBH)”]

Nos últimos dias, as redes sociais foram invadidas por reclamações e questionamentos sobre as mudanças na Praça da Liberdade. “Eu é que não sou detalhista ou não mudaram nada na Praça da Liberdade depois de 6 meses de reforma?”, escreveu um belo-horizontino no Twitter. O BHAZ resolveu, então, ir ao ponto turístico da capital mineira para escutar quais são as impressões dos frequentadores e mostrar, por fotos, algumas mudanças para quem ainda não conseguiu visitá-lo.

[twenty20 img1=”461810″ img2=”461776″ offset=”0.5″ before=”2010 (Lúcia Sebe/PBH)” after=”2018 (Ayron Borsari/BHAZ)”]

A enorme maioria reprovou. Os estudantes Letícia Oliveira, Mariana dos Santos e Daniel Axel, por exemplo, frequentam a praça rotineiramente, e ficaram insatisfeitos com as intervenções. “Nem parece que o espaço foi reformado. Tiraram as árvores, estamos sem sombras”, disse Mariana. Daniel foi mais enfático: “Parece que pegaram o dinheiro e gastaram com outra coisa”, questionou.

[twenty20 img1=”461823″ img2=”461649″ offset=”0.5″ before=”2008 (Divulgação/PBH)” after=”2018 (Henrique Coelho/BHAZ)”]

Outro jovem levantou o mesmo ponto: a diminuição das sombras. “Podia ter deixado mais árvores, o sol atrapalha muito. A praça melhorou bem pouco”, disse o universitário Gabriel Reis, que durante a entrevista se protegia do sol. “Pelo tempo que ficou fechado e pelo que foi entregue, não valeu a pena. Poderiam ter economizado e feito o investimento em outro lugar. Não tem nada de novo”, completa.

Frequentadores da praça lamentam ausência de sombras (Henrique Coelho/BHAZ)

O Iepha-MG, de fato, admite ter retirado espécies porque, segundo o instituto, estavam “doentes, apresentando cupins e ratos em suas raízes”. Outras, ainda, estavam velhas e corriam o risco de caírem em cima das pessoas. A PBH fez coro ao instituto e disse que “todo o trabalho de poda e supressão foi feito conforme laudos técnicos especializados e sob orientação do Iepha que também é o responsável pelos outros aspectos da reforma”.

Apesar da retirada, o Iepha-MG afirma que houve o replantio daquelas suprimidas e que novas foram plantadas. “No total, foram substituídas 32 árvores e acrescidas outras 19 espécies e nove palmeiras”, afirma, por nota. A Praça da Liberdade foi interditada em julho e reinaugurada no início deste mês. O custo da obra ficou em torno de R$ 5,8 milhões, sendo que as ações de revitalização paisagística realizadas com recursos da Vale, por meio de termo de compromisso, somam R$ 2,6 milhões. A iluminação ficou sob a responsabilidade da PBH, que investiu R$ 3,2 milhões.

Reclamações

O artesão Marcos dos Santos também questiona a ausência das árvores e aponta outra intervenção que poderia ser feita. “A iluminação melhorou bastante e achei que os bancos também. Mas eu acho que cortaram árvores demais e que isso deixou a praça vazia. Olha esse passeio, poderiam ter reformado”, diz, apontando para um calçamento irregular.

Questionado, o Iepha-MG admite que não conseguiu realizar a substituição total do calçamento porque os recursos viabilizados para as obras, bem como o período de fechamento da praça, não contemplavam esse procedimento. Mas alguns pontos cuja reforma foi considerada mais urgente foram revitalizados. “O calçamento foi revitalizado nos locais onde foram identificados danos significativos que comprometiam a segurança da circulação das pessoas”.

“Estou assustado, pois não pensava que era tão caro. Nem parece que reformaram a praça, mas sim que fizeram uma limpeza”, afirmou o estudante Daniel Axel ao ser informado pela reportagem sobre o valor total da obra.

Vandalismo: praça ‘nova’, problema antigo

Da reinauguração da praça, no dia 3, até a última segunda-feira (10), 126 canos de irrigação foram arrancados, duas pedras que fazem parte do bebedouro quebradas e os jardins, pisoteados. O balanço da Guarda Municipal revela um problema antigo: o vandalismo. “Ficou maravilhosa e melhor do que antes”, afirma, na contramão, a aposentada Rosa Sampaio. “Porém, o vandalismo continua demais. Já arrancaram os bicos de irrigação, as pessoas pisam nas gramas e tiram as flores. Falta educação neste povo”, complementa.

Servidor da PBH recolando bicos que foram arrancados (Henrique Coelho/BHAZ)

Ao encontro da fala de Rosa, a Guarda Municipal de BH fez o registro na última segunda-feira (10), de 126 canos de irrigação que foram arrancados, a quebra de duas pedras que fazem parte do bebedouro além dos jardins que tiveram a grama pisoteada.

Procurada pelo BHAZ, a Guarda Municipal informou que mantém uma equipe de 13 agentes no patrulhamento da praça e que eles se dividem em turnos para “garantir a presença fixa dos agentes durante as 24h”. Na fiscalização ainda são utilizadas duas motos e três viaturas que fazem ronda periódicas no local e nas demais praças e parques da região Centro-Sul.

Henrique Coelho/BHAZ

Durante a visita do BHAZ à praça, funcionários da PBH realizavam a recolocação dos irrigadores retirados. Um servidor que preferiu não se identificar disse não entender o que leva as pessoas a cometerem atos de vandalismo. “Muitos fazem isso pra aparecer. Ontem mesmo tinha uns jovens chutando as flores do jardim e quando fui pedir para parar eles me xingaram”, disse após elogiar a reforma do local. O servidor acredita que é necessário reforçar a segurança. “Se não fizerem isso, os vândalos continuarão arrancando aquilo que instalamos”

Responsável pela manutenção da praça, a construtora MRV esclarece que campanhas de conscientização serão realizadas no próximo ano com o objetivo de alertar a população sobre a “importância da preservação de bens públicos”.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!