Professora denuncia pouca merenda em escola de BH, e prefeitura diz que segue ‘parâmetros nutricionais’

merenda escola
Segundo a professora, a quantidade de alimento que é servida aos alunos é padronizada e não leva em conta as diferentes faixas etárias que estudam na unidade de ensino (Arquivo pessoal)

Um prato com três ou quatro pedacinhos de carne e uma colher de arroz e outra de feijão acompanhados de chuchu. A descrição é de um prato servido para crianças do terceiro ano do ensino fundamental, em plena fase de crescimento, de uma escola municipal de Belo Horizonte.

Imagens feitas por uma professora mostram a escassez de alimento nos pratos de meninos e meninas de 9 anos da Escola Municipal Dom Orione, no bairro Ouro Preto, na Pampulha. A educadora denuncia a insuficiência da merenda escolar e as consequências disso para seus alunos. Uma mãe diz que o filho chegou a perder peso neste ano ao retornar às aulas presenciais.

Ao BHAZ, Evangely Rodrigues conta que a prefeitura adota como referência 10 gramas de carne crua por aluno e que, caso queiram repetir o almoço, só são liberados arroz e feijão. A prefeitura não responde especificamente sobre a quantidade de comida.

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte diz que segue o Programa Nacional de Alimentação Escolar e parâmetros nutricionais e diz que “alimentos em excesso também afetam negativamente a saúde dos estudantes”.

Segundo a professora, os alunos recebem merenda às 9h e almoçam a partir de 10h30. Durante a tarde, aqueles que estudam em tempo integral recebem uma terceira refeição. A docente relata que a quantidade de alimento servida aos alunos é padronizada e não leva em conta as diferentes faixas etárias que estudam na unidade de ensino.

“A criança está desenvolvendo o hábito alimentar, então é importante que ela repita tudo o que comeu no primeiro prato. Mas a prefeitura não deixa que eles repitam o prato completo, apenas o arroz e o feijão. O que vejo é que há um problema na condução de como a alimentação deve ser feita, na quantidade que é servida e na variedade de alimentos”, explica a docente.

“Tem dias que o lanche são três bolachas e meio copo de leite queimado, ou três dedos de suco num fundo de xícara. As crianças reclamam de dor de cabeça, reclamam que estão com fome. Teve um dia que eu dividi meu pão de queijo com eles, fiquei tão chateada, era uma segunda-feira e a merenda era uma banana com meio copo de leite”, desabafa a professora da escola municipal de BH.

O que diz a PBH?

Ao BHAZ, a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) diz que não houve redução na oferta de merenda na unidade e ressalta que o cardápio oferecido nas escolas municipais seguem orientações elaboradas por uma equipe de nutrição.

“Segundo apuração da coordenação de Supervisão Alimentar, a E.M. Dom Orione está totalmente abastecida com produtos não perecíveis, carnes e hortifrutigranjeiros”, afirma a administração municipal, que explica, ainda, que os alunos podem realizar até 5 refeições na escola.

“A repetição é garantida a todos os estudantes, com exceção da carne, de acordo com orientações do Programa Nacional de Alimentação Escolar, considerando parâmetros nutricionais, considerando que alimentos em excesso também afetam negativamente a saúde dos estudantes”, acrescenta a PBH (leia na íntegra abaixo).

‘Passa o dia inteiro com fome’

Em junho desse ano, Evangely gravou áudios em que pergunta aos alunos do terceiro ano do ensino fundamental o que acham da merenda que é oferecida na escola. Nas gravações, as crianças relatam que passaram a trazer lanche de casa, já que a comida da escola não é suficiente.

“Eu ficava com fome, então pedi pra minha avó pra eu trazer lanche de casa”, diz um dos alunos. “Hoje foi vitamina de mamão com banana e eu não gosto, mas só tinha isso para comer e eu tô com fome”, relata outra estudante.

Ao BHAZ, Fernanda Kelly da Silva, mãe de um dos alunos, conta que o filho sempre reclama da quantidade de comida que é servida na merenda da escola de BH. Segundo ela, o pequeno Heitor, de 9 anos, chegou a perder peso por ficar várias horas com fome.

“Todos os dias, desde o início do ano letivo do ano, ele chega em casa com muita fome e reclama que as cantineiras servem muito pouca comida e que nunca pode repetir nada além do arroz em pouca quantidade.
Até acreditava que era exagero dele, mas quando vi as fotos fiquei desolada. Meu filho fica em período integral na escola e passa o dia inteiro com fome”, lamenta.

Em áudio, um dos meninos chega a comparar o trabalho das cantineiras e aponta que uma delas ainda era mais generosa e servia porções maiores.

Quantidade de comida servida aos alunos virou alvo de reivindicação de pais e professores (Arquivo pessoal)

“Educação alimentar” rígida nas escolas de BH

Em agosto, pais de uma Emei (escola municipal de educação infantil) de BH se queixaram da redução da comida servida aos filhos na merenda. Imagens mostravam que era servido uma fatia de ovo por criança e o volume de comida não chegava a preencher metade do pratinho.

Pelo Instagram, a instituição de ensino negou redução da quantidade de merenda, mas argumentou que se tratava de “processo de educação alimentar“. “Ao servir o prato, no primeiro momento, é colocada uma quantidade menor de todos os alimentos, como processo de educação alimentar, sempre garantido a repetição conforme a aceitabilidade da criança”, dizia o comunicado.

À época, ao BHAZ, a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte disse que o ocorrido foi um “caso pontual e que vai na contramão do quantitativo orientado pela Subsecretaria de Segurança Alimentar e Nutricional para a rede municipal de ensino”.

Nota da PBH na íntegra

A informação não procede. Não houve redução de alimentos em relação ao que sempre foi executado e qualquer informação diferente das orientações da equipe de nutrição é apurada pela equipe técnica, bem como pelo Conselho de Alimentação Escolar, que realiza inspeções periódicas e não identificou nenhuma irregularidade nas 600 unidades educacionais entre Emeis, creches parceiras, escolas de ensino fundamental e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Segundo apuração da coordenação de Supervisão Alimentar, a E.M. Don Orione está totalmente abastecida com produtos não perecíveis, carnes e hortifrutigranjeiros.

A Prefeitura de Belo Horizonte garante a oferta da alimentação escolar a 100% de suas unidades e a 100% dos estudantes, que podem realizar até 5 refeições na escola. Os cardápios consideram recomendações nutricionais para estudantes, conforme as diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Os cardápios e o esquema alimentar consideram a modalidade/etapa de atendimento, conforme a faixa etária e turno de permanência do estudante na unidade, sendo, na Educação Infantil de duas a cinco refeições diárias. A repetição é garantida a todos os estudantes, com exceção da carne, de acordo com orientações do Programa Nacional de Alimentação Escolar, considerando parâmetros nutricionais, considerando que alimentos em excesso também afetam negativamente a saúde dos estudantes. A Prefeitura atua na elaboração dos cardápios balanceados por meio de uma equipe de nutricionistas, planeja, adquire e faz o controle de qualidade dos alimentos, orienta e monitora a produção de refeições diretamente nas unidades escolares.

De janeiro a outubro de 2022, foram servidas 57.156.222 refeições para as unidades de Educação Infantil, Ensino Fundamental e EJA, sendo uma média de 400 mil refeições ao dia. Em 2022, foram empenhados cerca de R$ 74,8 milhões de reais (sendo R$ 43.7 milhões de Recurso Ordinário do Tesouro (ROT – Recurso Municipal), e R$ 31.1 milhões de recurso vinculado (FNDE – Recurso Federal)).

Vale ressaltar que o repasse previsto do Governo Federal no âmbito do PNAE não sofre reajuste desde 2017, mesmo com a alta dos preços do alimento e do custo da logística para entrega nas unidades escolares e que o município ampliou seu investimento para garantia da qualidade e quantidade das ofertas, de acordo com a orientação do Programa Nacional de Alimentação Escolar.

Edição: Pedro Rocha Franco
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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