Profissionais da saúde de BH denunciam sobrecarga e assédio moral diante da alta de casos de gripe e Covid

UPA em BH
(Amanda Dias/BHAZ)

A demanda por consultas médicas e de enfermagem nos centros de saúde e nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) de Belo Horizonte aumentou 104,8% em uma semana, segundo o Sindibel (Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte). Com a alta da procura, profissionais da área denunciam sobrecarga e até assédio moral sofrido durante atendimentos.

Segundo o Sindibel, só na última semana de dezembro, foram 17.614 atendimentos, contra 8.601 na semana anterior. Nesta semana, até quarta-feira (4), foram 15.676 atendimentos, e a entidade acredita que o número total vai bater recordes.

Além da exaustão e da exposição aos casos de gripe e de Covid-19, que aumentaram muito nos últimos dias em BH, o sindicato ainda afirma que vem recebendo denúncias de casos de assédio moral e, às vezes, físico, a profissionais da saúde.

Sobrecarga

De acordo com o Sindibel, a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) havia contratado mais 667 profissionais para atuação nas campanhas de vacinação, mas teria posteriormente demitido 335 deles.

“Ou seja, cerca de 50% da equipe contratada para suporte no sistema de saúde foi cortada, mesmo diante do contexto de colapso que vivenciamos neste momento”, protesta o sindicato.

Procurada pelo BHAZ, a PBH informou que, todos os anos, cerca de 250 trabalhadores são contratados para integrar as equipes de vacinação durante a campanha de imunização contra Influenza.

“Para atender à alta demanda, com o início da campanha de vacinação contra a Covid-19 e cumprir o cronograma estabelecido pelo Ministério da Saúde, a prefeitura contratou quase o dobro deste contingente. O contrato teve fim no dia 31/12/21”, informou em nota (leia na íntegra abaixo).

Com a alta da demanda, no entanto, a prefeitura afirma que está recontratando parte dos trabalhadores: dos 467 profissionais contratados, cerca de 335 foram recontratados.

O Sindibel também argumenta que a nova alta de atendimentos chega em um momento de exaustão dos profissionais da saúde, que já batalham há quase dois anos na linha de frente contra a Covid-19.

Assédio moral

Com a alta na demanda, vem a demora pelo atendimento médico, e a consequência muitas vezes é a falta de paciência daqueles que aguardam nos centros de saúde e nas UPAs. Com isso, o Sindibel denuncia que profissionais da saúde vêm sofrendo com ofensas e assédio moral no local de trabalho.

Em um áudio divulgado pelo sindicato, uma funcionária que prestava atendimento em um centro de saúde é vítima de várias ofensas por um homem que aguardava no local.

“Vai tudo queimar no inferno quando morrer. Tomara que queima mesmo no inferno”; “tem que ganhar é salário mínimo mesmo, tem que ganhar é bosta mesmo”; “aí essa bostinha aqui”; “e tá aí essa magreza aí, esse palito aí”; “eu acho que ela é meio burrinha”, diz o homem na gravação.

Reivindicações

Com a gravidade da situação, o Sindibel fez uma série de reivindicações à PBH, pedindo medidas como recontratação de funcionários e seguranças nos centros de saúde e UPAs. Confira as cinco reivindicações feitas pelo sindicato:

  • Abrir Centros de Testagem Pública para a população realizar o teste de Covid-19., para desafogar os centros de saúde e UPAs, os únicos locais que fazem teste pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em BH;
  • Instaurar um plano de contingência para os Centros de Saúde, com o adiamento de consultas eletivas (não-urgentes) para que os profissionais possam se dedicar às pessoas com queixas agudas, urgentes e sintomas respiratórios;
  • Ampliar pontos de vacinação (igrejas, UMEIs, shoppings, etc), evitando a superlotação dos centros de saúde, visto que o aumento do número de pessoas com sintomas respiratórios no mesmo espaço de pessoas que estão apenas se vacinando favorece o risco de propagação da Covid-19 e da influenza;
  • Recontratar os 335 enfermeiros contratados adicionalmente para vacinação e apoio ao atendimento de Covid-19 nos centros de saúde, visando mitigar a sobrecarga dos profissionais que atuam no sistema de saúde e a garantia de atendimento de qualidade aos pacientes;
  • Presença de agentes de segurança fixos nos centros de saúde e UPAs durante todo o horário de funcionamento.

O que diz a PBH?

Em relação aos testes, a PBH afirma que ampliou a oferta de testagem desde outubro do ano passado e que “todos os pacientes que procuram as UPAs e centros de saúde com sintomas respiratórios são testados, por meio de teste antígeno (teste rápido), para Covid-19, para diagnóstico diferenciado”

A Secretaria Municipal de Saúde também pontua que possui um plano de contingência que está em implantação, com ampliação de horário de atendimento nos centros de saúde de BH.

Sobre os postos de vacinação, a estratégia da prefeitura é manter a imunização nos 152 centros de saúde, em drive-thru, shopping e postos fixos para repescagem.

Já em relação à demanda por agentes de segurança, a prefeitura argumenta que as unidades de saúde são monitoradas 24 horas por dia pelo Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP-BH) por meio de 1.322 câmeras em 364 equipamentos de saúde.

“Outra ação é o Patrulha SUS, programa de patrulhamento preventivo orientado, construído de forma conjunta entre as secretarias municipais de Saúde e Segurança e Prevenção, por meio da Guarda Municipal”, acrescenta.

Covid-19 e gripe em BH

O início de ano marca uma alta de casos de Covid-19 e de Influenza em Belo Horizonte e em outras regiões do país. A ocupação de leitos de enfermaria para Covid-19 chegou a alcançar o nível vermelho de ocupação, mas retornou nesta quinta-feira (6) ao amarelo.

De acordo com boletim epidemiológico divulgado hoje pela PBH, 67,1% dos leitos de enfermaria estão ocupados e 68,1% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao tratamento da doença estão ocupados. De ontem para hoje, 772 novos casos foram confirmados.

Os casos de gripe, a Influenza A H3N2, também dispararam em todo o Brasil nos últimos meses. A SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais), divulgou, no último dia 23 de dezembro, um levantamento que mostra que 147 casos do H3N2 foram diagnosticados por meio de amostras coletadas pela Funed (Fundação Ezequiel Dias).

Nota da PBH na íntegra

“A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, informa que a Prefeitura mantém contato constante com o sindicato. Em relação a testes, desde outubro do ano passado a Prefeitura ampliou a oferta de testagem. Todos os pacientes que procuram as UPAs e Centros de Saúde, com sintomas respiratórios, são testados, por meio de teste antígeno (teste rápido), para Covid-19, para diagnóstico diferenciado. Grávidas, puérperas ou pessoas com comorbidade que tiverem sintomas respiratórios, com teste rápido negativo, são submetidas também ao PCR para diagnóstico definitivo.

A Secretaria Municipal de Saúde possui um Plano de Contingência, que inclusive está em implantação, com ampliação de horário de atendimento em Centros de Saúde. A SMSA monitora diariamente os números epidemiológicos e assistenciais da doença no município e qualquer agravamento que comprometa a capacidade de atendimento será tratado da forma devida, com o objetivo de preservar vidas. Hoje, o serviço de consulta on-line para casos de síndrome gripal foi reativado e já está em funcionamento. O acesso é pelo portal da Prefeitura e também pelo PBH APP. O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.

Sobre os postos de vacinação, a estratégia da Prefeitura é manter a imunização nos 152 centros de saúde, em drive-thru, shopping e postos fixos para repescagem.

Com relação aos profissionais contratados para a campanha de vacinação, a Prefeitura informa que todos os anos, durante a campanha de vacinação contra influenza, são contratados cerca de 250 trabalhadores para integrar as equipes de vacinação que atuam nas unidades de saúde da SMSA.
Para atender à alta demanda, com o início da campanha de vacinação contra a Covid e cumprir o cronograma estabelecido pelo Ministério da Saúde, a Prefeitura contratou quase o dobro deste contingente. O contrato teve fim no dia 31/12/21.

Neste momento, com o avanço da imunização e o término do contrato desses profissionais, a Prefeitura está recontratando parte dos trabalhadores contratados para garantir a assistência e a continuidade da vacinação sem prejuízo algum para a população. Dos 467 profissionais contratados, cerca de 335 foram recontratados.

É importante ressaltar ainda que, diante do aumento por atendimento nas unidades de saúde da capital, desde 24 de dezembro de 2021, a Prefeitura tem empreendido todos os esforços e já contratou 720 profissionais de saúde, sendo 109 médicos em diversas especialidades.

A Secretaria Municipal de Saúde mantém ativo um banco de currículos para contratação imediata de médicos. Os interessados devem acessar o site da Prefeitura de Belo Horizonte para realização do cadastro.

A Prefeitura informa ainda que realizou, em 2021, concurso para a área da saúde. A homologação está prevista para janeiro, com a posse prioritária dos profissionais médicos em fevereiro.

A respeito da segurança, as unidades de saúde são monitoradas pelo Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP-BH) graças à instalação de 1.322 câmeras em 364 equipamentos de saúde. Os locais são monitorados 7 dias por semana, 24h. Outra ação é o Patrulha SUS, programa de patrulhamento preventivo orientado, construído de forma conjunta entre as secretarias municipais de Saúde e Segurança e Prevenção, por meio da Guarda Municipal. O Patrulha SUS consiste em um patrulhamento especializado exclusivo para as unidades de saúde, que acontece de forma regionalizada, com rotas definidas por planilhas da Guarda Municipal“.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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