Denúncia de racismo: Homem e mulher são perseguidos e agredidos em supermercado da Grande BH

caso supermercado
Caso está sendo investigado pela Polícia Civil (Reprodução/@emilly.vitoria.silvaaah/Instagram)

Atualização às 15:00 do dia 10/11/2021 : Matéria atualizada para reforçar o posicionamento do supermercado diante da denúncia.

Um homem e a ex-mulher dele foram vítimas de agressões e denunciam ter sofrido racismo em um supermercado de Santa Luzia, na Grande BH, na tarde do último sábado (6). Ao BHAZ, a filha de Gisiane Ferreira da Silva, 34, conta que a mãe estava fazendo compras com seu ex-padrasto, Edson Teodoro Nobre, 39, quando a situação ocorreu. A Polícia Civil disse que apura o caso. Já os Supermercados Paranaíba alega que “em momento algum houve menção em relação à questão racial” e é contra qualquer tipo de preconceito.

De acordo com a estudante Emilly Vitória Silva das Graças, filha de Gisiane, o caso ocorreu por volta das 15h40 do último sábado, na avenida Brasília, bairro São Benedito. A mãe de Emilly saía do serviço e, a pedido da filha, foi ao Supermercado Paranaíba comprar alguns alimentos para o neto e para o próprio filho que ela tem com Edson.

A manipuladora de perecíveis encontrou por um acaso com o ex-marido na porta do supermercado. “Como os dois estavam por lá, resolveram fazer as compras juntos”, explica Emilly ao BHAZ. “Na hora que eles entraram, começaram a ser seguidos por três seguranças”, continua a estudante.

‘Merdas têm que ser seguidas’

Com a perseguição, os dois questionaram o motivo da situação. “O segurança que estava mais alterado, que disse que era policial militar, falou que pessoas como eles tinham que ser seguidas. Minha mãe perguntou se o motivo era o fato deles serem pretos. Aí ele falou que ‘merdas’ como eles tinham que ser seguidas”.

Emilly relata que mesmo com o constrangimento sofrido a mãe ainda precisava fazer as compras e também sacar um dinheiro no caixa eletrônico. “Aí um segurança foi atrás da minha mãe e os outros dois continuaram seguindo o Edson. Até depois de pagar as compras eles continuaram ’em cima’ deles”.

As vítimas saíram do supermercado e, de acordo com Emily, o segurança que se identificou como PM começou a gritar com Edson, já do lado de fora. “Ficou falando que era policial militar, mostrou a identificação. E um outro segurança gritava mandando minha mãe e o Edson calarem a boca pois o outro era PM e tinha que ‘respeitar'”.

Soco e coronhada

A discussão ficou mais acalorada. “Minha mãe não é de abaixar a cabeça para ninguém, e não foi diferente dessa vez. O que se disse policial veio para cima e deu um soco no meu ex-padrasto. Minha mãe gritou com ele, defendeu o Edson”.

Pouco depois do soco, o policial sacou uma arma e, segundo Emilly, a mãe teria ouvido o instrumento engatilhar. “Ele pegou o revólver e deu uma coronhada na cabeça do Edson. Depois disso, um fiscal do supermercado gritou para o segurança correr, porque iria ‘dar problema’. Antes de fugir ele chutou todas as compras e estourou algumas latinhas. Tivemos que trocar”.

A mãe de Emilly teria chegado a pedir ajuda para um segurança que ela já conhecia de outras compras no supermercado. “Esse segurança era negro, ela foi direto nele para explicar, mas ele disse que não estava ‘nem aí'”.

Após a confusão, Edson precisou ir ao hospital cuidar de alguns ferimentos e dar pontos na cabeça. Já Gisiane foi para a delegacia registrar um boletim de ocorrência.

A Polícia Civil informou, por meio de nota (leia abaixo na íntegra), que “apura os fatos”. O órgão se limitou a dizer que “testemunhas serão ouvidas nos próximos dias”.

Gerência e chefia de segurança explicam

O gerente do estabelecimento relatou à PM que estava no escritório quando tudo aconteceu. Devido ao fato ocorrido, ele chegou a ser comunicado e foi se inteirar. O responsável pelo Supermercados Paranaíba disse ter visto o homem que agrediu Edson deixando o local.

Conforme registrado na ocorrência, ele alegou que o suspeito não trabalhava no mercado e ressaltou que nenhum policial militar atua no estabelecimento. Apesar disso, a assessoria dos Supermercados Paranaíba informou ao BHAZ que ele “prestava serviços de segurança de forma eventual”.

No último sábado, ele não estava trabalhando. A presença dele foi, segundo a assessoria do mercado, “coincidência”. O BHAZ questionou se o homem será desligado do quadro de funcionários, e foi esclarecido que ele “não integra a equipe de segurança”. “É convocado a trabalhar eventualmente e em eventos específicos”, ressaltou.

O chefe de segurança do supermercado também foi ouvido pelos militares. Ele disse que retornava do almoço quando visualizou a confusão na parte externa do estabelecimento. Segundo ele, Edson apresentava sangramento na cabeça, no entanto, não sabia quem o tinha agredido.

O suspeito fugiu na sequência para, segundo os Supermercados Paranaíba, “evitar maiores tumultos e novas agressões contra sua pessoa”. “Fora atacado com vassoura, fora das dependências da loja, conforme informado por testemunhas oculares”.

O responsável pela segurança do estabelecimento alegou ainda que a vítima é conhecida pela prática de pequenos furtos, e, por conta disso, a vigilância é redobrada quando entra no mercado. O chefe de segurança ressaltou que Edson nunca foi detido no momento em que comete os furtos.

Segundo Emilly, os argumentos são uma tentativa de incriminar o ex-padrasto e a mãe dela, já que nenhum dos dois nunca teria cometido furtos no local – como o supermercado justifica.

‘Calúnia e difamação’

O Supermercados Paranaíba se posicionou sobre o caso justificando que a confusão aconteceu pelo fato de Edson ter suposto uma perseguição sofrida nas dependências do estabelecimento.

“Uma vez que o senhor acima citado perguntou ao nosso fiscal e prontamente foi respondido que não havia ninguém o seguindo dentro do estabelecimento”, diz em trecho do posicionamento. O supermercado ressaltou que “em momento algum houve menção em relação à questão racial”.

Na nota, a assessoria ressaltou que Emilly cometeu dois crimes. “A pessoa que gravou e postou o vídeo não se atentou para o fato de estar cometendo o crime de calúnia e difamação, uma vez que não houve nenhum tipo de relação com a questão racial”, posicionou.

A equipe do supermercado reforçou que é totalmente contra “qualquer tipo de agressão física, psicológica, discriminação e preconceito”. O posicionamento foi publicado em formato de vídeo e pode ser visto abaixo.

Nota da Polícia Civil

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) apura os fatos. Vítimas e testemunhas serão ouvidas nos próximos dias. As informações sobre investigação serão repassadas em momento oportuno”.

Nota do Supermercados Paranaíba

Edição: Roberth Costa
Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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