Recruta da Marinha denuncia racismo e intolerância religiosa em BH: ‘Implantar a chibata’

racismo marinha
Um recruta da Marinha do Brasil procurou a delegacia para denunciar ter sido vítima dos crimes de racismo dentro da instituição (Reprodução/Google Street View)

Um recruta da Marinha do Brasil, lotado na Capitania Fluvial de Minas Gerais, procurou a Delegacia de Crimes Raciais nessa terça-feira (30) para denunciar ter sido vítima dos crimes de racismo e intolerância religiosa dentro da instituição. O jovem de 19 anos diz ter recebido mensagens em um grupo do WhatsApp em que é chamado de “macaco”, “primata” e “macumbeiro”.

Ao BHAZ, o advogado Gilberto Silva, que representa o rapaz, disse que ele está muito abalado com a situação. O jovem, que preferiu não ser identificado, ingressou na Marinha em março de 2023. Segundo o advogado, as ofensas começaram quando ele foi transferido da unidade do bairro Belvedere para a unidade localizada na avenida Raja Gabaglia.

“Ele sofria constantes ataques, xingamentos. Chamavam ele de ‘preto’, de ‘macaco’, ‘primata’ e que ele receberia com bananas, que receberia chibatadas e que era ‘macumbeiro’. Eles levavam com uma conotação de brincadeira, mas a própria legislação hoje já pune a questão do ‘racismo recreativo'”, explica.

Jovem diz que recebia mensagens em tom de ‘brincadeira’ (Arquivo pessoal)

‘Implantar a chibata em você’

Em um dos áudios enviados ao recruta, um homem diz: “A única coisa que vai concordar é ele implantar a chibata em você, guerreiro”. Segundo o advogado, o rapaz realizou um boletim de ocorrência e as devidas apresentações e, agora, vai acionar tanto na esfera cível quanto na esfera criminal.

“Ele ficou bastante receoso inicialmente, com medo disso prejudicar a carreira. Mas ele optou por denunciar para que isso não aconteça mais com ele e não aconteça com outras pessoas, além de ser uma forma de aliviar a tristeza e a depressão que ele vem sentindo”, observou Gilberto.

Caso está sendo investigado

O BHAZ procurou a Polícia Civil para saber se o caso está sendo investigado, mas a corporação informou que, por se tratar, em tese, de um crime militar, as investigações ficarão a cargo da Corregedoria da Marinha.

Também em contato com a reportagem, a Marinha do Brasil disse que tomou conhecimento sobre o caso. “A Força permanece à disposição dos órgãos responsáveis para colaborar com as investigações e ressalta que serão realizados todos os procedimentos necessários à apuração dos fatos”, informou, em nota (leia na íntegra abaixo).

Para o advogado Gilberto Silva, é dever das instituições implementar práticas de educação antirracista para que casos como esse não se repita.

“Eu sinto ainda uma falta de interesse nas instituições em tratar a temática e debatê-la de forma educativa. É mais que necessário que as instituições sejam abertas para palestras e congressos com os seus membros para que se tenham uma melhor informação do crime de racismo”, analisou.

Nota da Marinha na íntegra

A Marinha do Brasil (MB), por intermédio da Capitania Fluvial de Minas Gerais, informa que tomou conhecimento, nesta quarta-feira (31), sobre o caso em lide. A Força permanece à disposição dos órgãos responsáveis para colaborar com as investigações e ressalta que serão realizados todos os procedimentos necessários à apuração dos fatos. A MB lamenta o ocorrido e reafirma o seu compromisso com a ética e com o respeito à dignidade da pessoa humana e reitera seu firme posicionamento contra condutas que afetam a honra e o pundonor militar.

Edição: Lucas Negrisoli
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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