Traficantes armados fazem motorista do Uber refém para entregar drogas em BH

Cruzamento da avenida Olegário Maciel com rua dos Tamóios, no Centro de BH, local onde os criminosos acionaram o Uber (Reprodução/Google Street View)

O que era para ser mais uma trivial corrida para um motorista que há um ano trabalha pelo aplicativo Uber se tornou uma experiência traumática em Belo Horizonte. Ao atender um chamado, por volta das 22h de domingo (13), no Centro da cidade, o condutor de 30 anos — que preferiu não ter o nome divulgado — não imaginou que estaria a serviço de um trio de traficantes. Os criminosos entraram no veículo com uma mochila carregada de armas e drogas.

“Pensei que ia morrer, durante todo o trajeto diziam que a qualquer alarde iriam estourar minha cabeça. Fiquei na viagem quase uma hora sendo ameaçado até que a entrega da droga fosse feita”, relatou ao Bhaz.

De acordo com o motorista, os três passageiros — dois homens e um adolescente — acionaram o aplicativo na avenida Olegário Maciel, na esquina com rua dos Tamóios. Logo que entraram no veículo, eles o orientaram a seguir para a Serra, na região Centro-Sul da capital.

No caminho, conforme relatou o motorista, um dos homens começou a tirar várias armas da mochila e confessou que precisava entregar drogas a um cliente que os aguardava na rua do Ouro, também no bairro Serra.

“Tive que ficar parado com eles na rua do Ouro esperando a entrega da droga. A todo momento um dos homens apontava uma arma para mim, enquanto pedia para que eu não olhasse para eles. Foi uma experiência horrível”, conta.

Após a entrega da droga, os traficantes o orientaram a seguir para o Aglomerado da Serra. “Deixei eles na favela e, quando saíram do carro, eles roubaram o meu iPhone e R$ 300 em espécie”, conta. “Continuaram apontando arma para mim e exigiram que eu não voltasse mais ali e que não chamasse a polícia”.

A vítima afirma que registrou um boletim de ocorrência e acionou a equipe de emergência da empresa. A Polícia Militar informou que até o momento ninguém foi preso.

Para o motorista, não há mais como continuar trabalhando pelo aplicativo em meio à constante insegurança. “Depois que a Uber passou a aceitar a forma de pagamento em dinheiro, sem limitar o cadastro, estamos à mercê de bandidos que utilizam da facilidade para transportar drogas e armas”, ressalta. “Informei a Uber, mas nenhuma medida foi tomada. O jeito é voltar a trabalhar em minha área e parar de dirigir”, informou o homem que é engenheiro de formação.

O Bhaz teve acesso à íntegra do posicionamento encaminhado pela empresa Uber em relação ao motorista vítima de assalto:

“Lamentamos em saber do fato ocorrido. Agradecemos por manter o profissionalismo durante toda essa situação difícil. Em nenhuma circunstância o passageiro deve gerar situações que causem incômodo ou desconforto para os motoristas, é muito importante para nos proporcionar um clima de respeito para os motoristas parceiros. E todo incidente que ameace a segurança ou o bem-estar dos motorista é levado muito a sério. Em consideração ao seu relato vamos reavaliar o acesso do passageiro a plataforma Uber e você não será conectado novamente com esse passageiro”.

Em nota, a assessoria do Uber afirmou que todas as viagens feitas a serviço da empresa são monitoradas por GPS como forma de amparar os motoristas.

“Na Uber não existem viagens anônimas – todas as viagens são rastreadas. Orientamos os motoristas parceiros a contatar imediatamente as autoridades policiais sempre que desconfiarem de alguma atividade ilegal”, diz um trecho do texto divulgado.

Questionada a empresa se o pagamento em dinheiro — sem a necessidade de registrar dados de cartão de crédito — não poderia facilitar o acesso de criminosos ao serviço, a assessoria do Uber avaliou que a exigência do número telefônico, e-mail e nome completo do usuário são suficientes para garantir segurança aos motoristas.

“Ao oferecer pagamentos em dinheiro, a plataforma da Uber busca tornar-se cada vez mais democrática e inclusiva, permitindo que ainda mais brasileiros utilizem os serviços dos motoristas parceiros”, explica a nota.

“Além disso, os dados de usuários para cadastro na plataforma da Uber são os mesmos para os usuários que se cadastram com cartões de crédito e com dinheiro, com a diferença de que os que se cadastram em dinheiro não precisam colocar os dados do cartão. São dados com o número telefônico, e-mail, e nome completo”, finaliza.

*Atualizado às 20h52 desta segunda-feira (14)

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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