Uma por todas! Mulheres se unem e reafirmam sua força na dança

Camila Rocha/Projeto Eternizzar

Unidas somos mais. Juntas somos UMA. Parece até um paradoxo, mas é um conceito inspirador. O Projeto UMA é uma iniciativa de mulheres amantes da dança – mais especificamente das danças urbanas. Praticantes do estilo, elas sentiram a necessidade de unir-se para ampliar seus conhecimentos. No entanto, o que era para ser um treino feminino ganhou força e se transformou em um projeto que gera empoderamento.

A expansão da ideia aconteceu no último sábado (20) em comemoração ao primeiro ano de existência do UMA. Juntas, elas organizaram um evento para que mulheres de toda a cidade pudessem participar e apresentar sua força através da dança. Intitulada ‘UMA por Todas’, a mostra aconteceu no pátio do Centro Cultural UFMG e teve as portas abertas para quem quisesse prestigiar as apresentações.

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Além de comemorar, o objetivo da reunião também era estimular o protagonismo feminino e proporcionar a integração de mulheres de diferentes elementos da cultura hip hop – e, de quebra, ainda fornecer espaço cênico para compartilhamento das danças urbanas na capital mineira. “Achamos justo que fosse comemorado junto ao hip hop, que é a cultura que nos abraçou e nós a abraçamos”, conta Bárbara Almeida, fundadora do projeto.

Mais de 250 pessoas marcaram presença, inclusive homens. Só que, dessa vez, ficaram só na platéia. Alguns, que fazem parte dos grupos participantes, puderam prestigiar as mulheres que foram para representar seus coletivos. Ao todo, houve 22 apresentações, estreladas por coreografias de onze grupos, três duos e sete solos. Entre as participantes estiveram as mulheres do Projeto Anjos D’Rua, Cia Fusion, Grupo Identidade, Projeto C.O Crew, BH Boogie, Cia Laia, Brooklyn Soul e Na Laje, todos de Belo Horizonte. Além de grupos de fora como o 4vibes (Viçosa-MG) e Marias (RJ).

Roda de dança – Cypher (Camila Rocha/Projeto Eternizzar)

Arte e empoderamento feminino

Bárbara Almeida, de 22 anos, foi a responsável pela criação do projeto. A dançarina diz que a iniciativa partiu de uma percepção que ela tinha de que as mulheres atuantes nas danças urbanas dividiam os mesmos problemas. O que incluía o receio para a participação em rodas e disputa de batalhas. Ela também enfatiza que a maioria dos líderes de grupos são homens.

Assim, Bárbara, que é estudante de dança na UFMG, reservou suas segundas e sextas-feiras para a realização desses treinos femininos – abertos para o público quinzenalmente. No começo, ela diz que houve poucas participantes, mas que aos poucos o projeto foi se consolidando. “Tinha dia que recebia cinco mulheres, tinha dia que recebia duas, tinha dia que não vinha ninguém”.

Apresentação do Projeto UMA (Camila Rocha/Projeto Eternizzar)

Hoje, o Projeto UMA é composto também pelas dançarinas Raquel Cabaneco, Bianca Camila, Vanessa Vaz e Aline Mathias. “São pessoas se unindo para um propósito em comum”. De acordo com Bárbara, a relação funciona como uma liderança horizontal, onde todas têm autonomia em sua participação.

Uma por todas, todas por uma!

A mostra foi composta por todos os quatro elementos da cultura hip hop, que também foram representados por mulheres. Nas pick-ups, a Dj Pat Manoese comandou o som na companhia das mc’s Ohana Santana e Kainná Tawá. No grafite, a artista Jade Carneiro foi a responsável pela pintura ao vivo.

As mc’s Kainná Tawá e Ohana Santana (Camila Rocha / Projeto Eternizzar)

No geral, a festa tomou proporções maiores que o esperado e superou as expectativas das organizadoras. “No início do grupo, disse às meninas que queria que fôssemos relevantes na sociedade de algum modo. E sim, estamos sendo!”, conta Bárbara. 
A programação previa que as performances fossem realizadas dentro do auditório do CC UFMG. Entretanto, como o espaço possui o limite de 150 pessoas, tudo acabou sendo feito no pátio externo.

O evento contou com muitos momentos emocionantes. Coreografias carregadas de força, revolta e emoção compuseram as cenas. Houve, inclusive, a participação de pessoas com necessidades especias – o caso, por exemplo, da Marina Lauryn, de 16 anos. A jovem perdeu o movimento das pernas em 2013 – uma sequela da realização de uma cirurgia na coluna para retirada de um tumor. Contudo, a garota mostrou toda a sua garra através da dança e empolgou a todos com a sua apresentação.

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Grupo Identidade (Camila Rocha/Projeto Eternizzar)

Houve também performances de cunho religioso e coreografias que faziam referência a portadores de problemas mentais. A mostra proporcionou inclusive o nascimento de grupos que haviam se formado exclusivamente para a ocasião e acabaram dando prosseguimento à ideia. É o caso das meninas do ‘Na Laje’.

Uma das coreografias apresentadas na mostra interpretava a canção “Maria da Vila Matilde”, de Elza Soares. A célebre cantora, conhecida por defender causas de empoderamento feminino e orgulho negro, compartilhou o vídeo em sua fanpage no Facebook, elogiando ao Projeto UMA e às bailarinas da Cia Fusion.

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Mulheres da Cia Fusion (Camila Rocha/Projeto Eternizzar)

Em relação à repercussão positiva, Bárbara se diz emocionada. “Me senti uma ferramenta nas mãos de Deus. Nunca projetei algo de tamanha dimensão e não me aproprio disso como algo meu, mas como uma missão que me foi dada e espero cumpri-la bem”, desabafa.

A equipe pretende realizar outras edições da ‘UMA por TODAS’, mas, por enquanto, não há viabilidade financeira. A produção do evento gera gastos como pagamento de cachês para as artistas, impressão de divulgação, materialidade, equipamentos, camisas do UMA (geralmente presenteadas às pessoas que contribuem para o projeto), transporte, alimentação e lanche para a equipe.

Contudo, outro evento será realizado como parte da ocupação do projeto no CC UFMG, que dura até novembro.

Enquanto a data não é divulgada, confira algumas memoráveis apresentações dessa edição:

Mulheres da Cia Fusion

Mulheres do Projeto Anjos D’Rua

Grupo Identidade

Projeto UMA

Jéssica Munhoz

Jessica Munhoz é redatora do Portal Bhaz e responsável pela seção Cultura de Rua.

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