Estudante de Direito denuncia seguranças de boate na região Leste de BH por racismo

Reprodução/Facebook

A casa noturna Paco Pigalle, no bairro Floresta, região Leste de Belo Horizonte, virou palco de uma confusão que tem repercutido nas redes sociais desde o último sábado (9). Uma estudante de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) denuncia seguranças do local por preconceito. Por meio de uma publicação no Facebook, Melissa Araújo de 22 anos conta ter sido chamada de “preta louca” e abordada de maneira desrespeitosa por causa de um mal-entendido.

A postagem de Melissa teve mais de 700 reações e dezenas de comentários de solidariedade. “Você não consegue vê-los, mas a dor é exatamente igual. Precisamente igual à dor dos meus antepassados, à do meu avô e à do meu pai. Rigorosamente como acontece todos os dias com os tantos outros negros”, escreveu em um trecho do relato que viralizou na rede social.

Ao Bhaz, Melissa contou que estava com um amigo quando a movimentação teve início. Os dois teriam sido acusados de usar uma comanda de outra pessoa para consumir. Segundo ela, ambos perceberam que estavam com o papel de outra pessoa apenas quando foram ao bar. Eles acreditam que o funcionário do local foi quem trocou as comandas sem querer. A situação saiu do controle quando um segurança os abordou de maneira agressiva. Para a jovem, o tratamento dado a eles está diretamente relacionado ao fato de que os dois são negros.

“Eles pediram para olhar minha bolsa, falaram com meu amigo para mostrar os bolsos”, disse. “O funcionário do bar estava gritando de maneira incisiva e eu sem entender o motivo. Acabou que meu amigo foi embora depois de ficar muito nervoso. A gente pagou a comanda como já íamos fazer mesmo, mas o constrangimento foi horrível”, continua. “A maneira como eu fui tratada, eu nunca fui tão mal tratada em toda a minha vida”, explica.

Paco Pigalle teria sido palco de injúria racial no fim de semana (Divulgação/PacoPigalle)

A universitária conta que foi conversar com um segurança para entender o que tinha acontecido e que o homem se negou a falar com ela, mas que com uma amiga o tratamento foi diferente. Ainda segundo ela, o homem deu as costas e em seguida o escutou a chamando de “preta louca”. “Isso nunca tinha acontecido comigo, eu levei um choque de realidade. Decidimos então chamar a polícia, mas eu sabia que seria tratada diferente mais uma vez. Já vi esse tipo de coisa acontecer. Resolvi não registrar boletim de ocorrência no dia, mas vou fazer em breve”, diz.

Para Melissa, o que ocorreu na Paco foi uma demonstração de racismo institucionalizado, já que o homem que a ofendeu também é negro. “Eu estou refletindo sobre isso desde que aconteceu. Domingo de manhã eu ainda chorava muito, não conseguia nem falar a respeito com meus amigos”, conta a jovem que ainda avalia se vai processar a casa noturna por injúria racial.

A estudante ainda explica que em momento nenhum pediu outra cartela e que apenas queria esclarecimentos. Ela conta que tem testemunhas e que tudo já está documentado.

Outro lado

A Paco Pigalle divulgou uma nota por meio do Facebook a respeito do assunto. Segundo o comunicado, os funcionários da casa noturna apenas seguiram regras e em nenhum momento desrespeitaram os amigos. Eles teriam apenas agido conforme as determinações para evitar que a confusão tomasse proporções maiores. “Nós da Paco somos completamente contra qualquer forma de preconceito, temos muito a melhorar sim, mas racismo nunca ocorreu”, disse ao Bhaz o gerente Leonardo Venâncio.

“Nós estamos reunindo imagens, áudios e testemunhas – funcionários e clientes – que presenciaram toda a situação para comprovar que não houve preconceito na abordagem em questão”, conta Venâncio. “Não importa a idade, a cor, sexo, as regras e o tratamento são iguais para todo mundo na Paco”, argumenta o gerente. “A cor das pessoas não faz diferença”, finaliza.

Veja a nota na íntegra:

Racismo x Injúria racial

A injúria racial consiste em ofender a honra de alguém valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Já o racismo atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça. Ao contrário da injúria racial, o crime de racismo é inafiançável e imprescritível. Clique aqui para saber mais.

Roberth Costa[email protected]

De estagiário a redator, produtor, repórter e, desde 2021, coordenador da equipe de redação do BHAZ. Participou do processo de criação do portal em 2012; são 11 anos de aprendizado contínuo. Formado em Publicidade e Propaganda e aventureiro do ‘DDJ’ (Data Driven Journalism). Junto da equipe acumula 10 premiações por reportagens com o ‘DNA’ do BHAZ.

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