Uma pesquisa da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) encontrou indícios de biopirataria de conhecimentos dos povos tradicionais da Amazônia sobre a secreção da rã Kambôr. A biopirataria consiste na utilização de recursos naturais ou de conhecimentos tradicionais sem a devida autorização e divisão de lucros. De nome científico Phyllomedusa bicolor, essa pequena rã é usada por cerca de quinze povos indígenas, que conhecem as propriedades analgésicas e antibióticas da secreção do animal.
A universidade percebeu a possível biopirataria após cruzar informações no sistema de patentes internacionais. A pesquisa encontrou indícios de que 11 patentes registradas em países desenvolvidos podem configurar apropriação de recursos genéticos a partir de saberes tradicionais de povos indígenas.
O pesquisador e professor de direito da universidade, Marcos Feres, explicou as implicações da patente. “Não é qualquer patente que use a secreção. Porque você pode usar a secreção com algum incremento, uma lógica de industrialização, que não tem uma relação direta com o conhecimento tradicional. Mas quando a relação é muito próxima do conhecimento tradicional, aí é que a gente começa a detectar um problema no sistema de patentes. Não há certeza, mas são indicações, fortes indícios de que está havendo ali um processo de apropriação de um conhecimento tradicional associado a recursos genéticos da região amazônica”.
A maior parte das patentes investigadas estão registradas em países como Estados Unidos, Canadá, Japão, França e Rússia. O artigo publicado na revista Direito GV argumenta que as brechas nas convenções internacionais sobre patentes e biodiversidade, um sistema burocrático mais eficiente e a concentração do poder econômico nos países do Norte global, permitem a apropriação de conhecimentos dos países do Sul.
Implicações da biopirataria
Para Marcos Feres, o registro de patente de saberes e recursos brasileiros por outros países gera perdas econômicas e políticas para o Brasil, transferindo esses recursos para nações mais desenvolvidas.
“É uma nova forma de colonialismo. O Norte tem esse poder, tem esse saber e aí ele simplesmente se apropria desses recursos, usa de forma mais eficiente e eles acabam tendo esse monopólio. Porque a patente é um monopólio de uso daquela invenção por um tempo”, diz o estudioso.
“Então isso é uma exclusividade, porque isso não é desenvolvido dentro do país. Ao mesmo tempo isso é transformado em propriedade quando, na verdade, com o conhecimento tradicional o importante é a liberdade de uso: mais pessoas terem acesso a esse tipo de conhecimento, do ponto de vista até de medicamento, medicamentos naturais” finaliza.
O pesquisador ainda pretende examinar o sistema de direitos de propriedade intelectual em todo o mundo. Ele já identificou também indícios de transferência de conhecimentos tradicionais relacionados à flora brasileira. A investigação sobre patentes registradas com conhecimentos tradicionais do Brasil é um projeto em andamento.
Com Agência Brasil