Bolsonaro pediu que Enem trocasse ‘golpe’ por ‘revolução’ de 1964, diz jornal

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Bolsonaro já havia dito que as questões do Enem ‘começam agora a ter a cara do governo’ (Antonio Cruz/Agência Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria pedido ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) mudasse as questões que tratavam sobre o golpe militar de 1964, chamando o movimento de “revolução”. A informação foi divulgada pela Folha de S. Paulo.

Nessa segunda-feira (15), Bolsonaro já havia dito que as questões do Enem “começam agora a ter a cara do governo”, mas o ministro da Educação negou interferência nas provas.

De acordo com relatos de integrantes do governo à Folha, o pedido de alteração na abordagem do golpe militar teria ocorrido no primeiro semestre deste ano.

Ainda segundo o jornal, Milton Ribeiro chegou a comentar sobre o pedido com equipes do MEC (Ministério da Educação) e do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). A alteração não teria sido colocada em prática, já que os itens do Enem passam por um processo longo de elaboração.

O presidente da República tem um histórico de defender a ditadura militar no Brasil, além de elogiar torturadores que atuaram no período. Bolsonaro também já tinha o costume de criticar o Enem, chegando a dizer que o exame promovia “lacração” e “doutrinação”.

‘A cara do governo’

O presidente Jair Bolsonaro disse na segunda-feira que as questões do Enem “começam agora a ter a cara do governo”. A declaração foi dada à imprensa em viagem oficial a Dubai, nos Emirados Árabes.

Nas últimas semanas, 37 servidores públicos pediram exoneração do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pelo exame.

“O que eu considero muito também: começam agora a ter a cara do governo as questões da prova do Enem”, afirmou Bolsonaro, na saída da Expo 2020.

“Ninguém precisa ficar preocupado. Aquelas questões absurdas do passado, que caíam tema de redação que não tinha nada a ver com nada. Realmente, algo voltado para o aprendizado”, disse.

A informação foi dada pelo presidente depois de uma conversa com o ministro da Educação. “Conversei muito rapidamente com o Milton [Ribeiro]. Seria bom vocês conversarem com eles, o que levou àquelas demissões. Não quero entrar em detalhes, mas é um absurdo o que se gastava com poucas pessoas lá. Um absurdo, tá?”, disse Bolsonaro.

Ministro nega

Já no dia seguinte, o ministro da Educação reagiu e negou interferência nas provas. Em entrevista à CNN, o chefe da pasta afirmou que as provas já foram impressas e encaminhadas.

“O Enem está garantido, as provas já foram impressas há meses, já foram encaminhadas. Não há como interferir, nem eu, nem o presidente do Inep, nem o presidente da República. Essa ideia de que houve interferência é uma narrativa de alguns que estão querendo mais uma vez politizar a educação. A educação não tem partido”, afirmou Ribeiro.

Em relação aos 37 pedidos de exoneração de servidores públicos do Inep, responsável pelo Enem, o ministro disse não acreditar em “nenhum tipo de coação” e classificou o grupo de servidores de “extremamente politizado”.

Interferência no conteúdo do Enem

O Enem está marcado para acontecer nos próximos dois domingos, 21 e 28 de novembro. Ao Fantástico, servidores detalharam tentativas de interferência no conteúdo das provas e situações de intimidação. Alguns ainda falaram de “pressão insuportável” e “assédio moral”.

Os servidores também denunciaram censura nas questões do exame.

“Esse dirigente designado pelo presidente do Inep, Danilo Dupas, foi até o ambiente seguro, fez a leitura das questões que essa equipe técnica havia montado, essa primeira prova do Enem, e solicitou a exclusão de mais de duas dezenas de questões dessa primeira versão da prova”, contou um servidor.

Segundo ele, as questões se tratavam principalmente dos últimos 50 anos de história do país. Os servidores também acusaram o presidente do órgão de despreparo.

“Esse presidente que está agora é uma pessoa sem currículo, sem experiência. Está lá porque o ministro da Educação decidiu que seria a pessoa que estaria disposta a fazer o que eles queriam: entrar na prova e retirar aquilo que eles acham que o presidente não iria gostar”, disse um dos servidores, referindo-se ao presidente Jair Bolsonaro.

Edição: Vitor Fernandes
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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