Casal de passageiras denuncia motorista de app por chamá-las de ‘aberrações’ durante corrida

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Parte das ofensas foram filmadas por Marília e Eloá e publicadas nas redes sociais (Reprodução/@marilai__/Twitter)

O que tinha tudo para ser uma corrida comum se transformou em longos e desgastantes 15 minutos para o casal Marília e Eloá nessa segunda-feira (29). Foi durante esse tempo que as duas moradoras de Vitória, no Espírito Santo, denunciam ter sido alvo de diversos xingamentos e falas homofóbicas vindas do motorista por aplicativo que as conduzia.

Pelas redes sociais, o casal decidiu não se calar. Em sequência de tweets que já soma milhares de interações, Marília narra como tudo aconteceu e pede ajuda para que a justiça seja feita.

“Amigos, acabei de sofrer muitas agressões verbais numa viagem de Uber que durou 15min aproximadamente. O motorista, com seu discurso de ódio, foi preconceituoso de muitas formas, dizendo que eu e minha esposa somos aberrações e não devíamos nem existir”, escreveu.

‘Homem nasce homem e mulher nasce mulher’

Quando o casal se posicionou sobre as falas agressivas do motorista, a escritora conta que ele “aumentou ainda mais a voz e o desrespeito”. Na sequência, ela publicou um vídeo que mostra parte das agressões.

“Pra mim isso é errado. O homem nasce homem e a mulher nasce mulher, cê pode até procurar outra forma de vida, o problema é seu, mas isso não existe não”, diz o motorista, no que Eloá responde: “E não existe tambér ser atacada dessa forma, né senhor? Eu tô aqui com a minha esposa, a gente tá muito mal com a sua fala. Você não temd iretio de opinar quando fere a existência de outra pessoa”.

Ao BHAZ, Marília conta que tudo aconteceu muito rápida e de forma inesperada. Tanto que as duas demoraram a perceber o que de fato estava acontecendo.

“A gente tava aguardando de mãos dadas na calçada e quando a gente entrou [no carro] nem percebemos qualquer alteração no humor dele. Mas depois ele começou a falar sobre algumas ideologias, começou a puxar assunto, mas um assunto em que só ele falava”, relembra.

‘Tá tudo muito doloroso’

Marília conta que, depois de falar coisas como “pessoas em situação de rua tão ali porque são vagabundas” e “na minha época se resolvia as coisas com tiro”, os ataques do motorista se tornaram cada vez mais diretos. Foi quando o casal resolveu agir e começou a filmar a corrida.

“Ele falou que era uma aberração, que a gente não deveria existir, que a gente tava querendo privilégio, que a gente tava acabando com a família, um discurso bem de ódio. Quando a gente desceu no destino final ele ainda gritou que tinha um lugar reservado no inferno pra gente”, conta a escritora.

Depois de descerem do veículo, as duas foram imediatamente para uma delegacia prestar uma queixa contra o homem. Mas em meio a tanta repercussão, tem sido difícil calcular os próximos passos.

“Pra ser sincera, a gente tá muito cansada de passar por isso, de repetir a história, de lidar com tanta repercussão, porque a gente não teve tempo de processar as coisas. Tá tudo muito doloroso”, desabafa Marília.

O que diz a Uber?

Ao BHAZ, a Uber disse que a conta do motorista foi desativada asism que soube do ocorrido. “A empresa considera inaceitável qualquer tipo de discriminação”, disse a empresa, em nota (veja abaixo).

“Em parceria com o MeToo, a Uber disponibiliza um canal de suporte psicológico que foi informado à usuária e segue disponível. Além disso, a empresa está à disposição para colaborar com as autoridades e compartilhar informações sobre os envolvidos, observada a legislação aplicável”, acrescentou.

Homofobia é crime!

Vale reforçar que homofobia e transfobia são crimes previstos por lei. Eles entram na lei do racismo, já existente há 30 anos e, com isso, as punições são semelhantes. O STF (Supremo Tribunal Federal) criminalizou a homofobia em junho de 2019.

Veja o que é considerado crime:

  • “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;
  • a pena será de um a três anos, além de multa;
  • se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a cinco anos, além de multa;
  • a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema

Nota da Uber na íntegra

A Uber defende o respeito à diversidade e reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e justiça para todas as pessoas LGBTQIA+.  A empresa considera inaceitável qualquer tipo de discriminação e a conta do motorista parceiro foi desativada assim que tomamos conhecimento do ocorrido. 

Em parceria com o MeToo, a Uber disponibiliza um canal de suporte psicológico que foi informado à usuária e segue disponível. Além disso, a empresa está à disposição para colaborar com as autoridades e compartilhar informações sobre os envolvidos, observada a legislação aplicável.

Sabemos que o preconceito, infelizmente, permeia a nossa sociedade e que cabe a todos nós combatê-lo. Como parte desses esforços, a Uber lançou, por exemplo, o podcast Fala Parceiro de Respeito, em parceria com a Promundo, com conteúdos educativos sobre LGBTfobia.

Edição: Roberth Costa
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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