Com alta de casos de Covid, alunos e entidades fazem apelo: ‘Adia ENEM’

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Estudantes pedem pelo adiamento do ENEM, que está marcado para este mês (Reprodução/Redes Sociais + AMES)

A menos de duas semanas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e com a pandemia de Covid-19 ainda fora de controle no Brasil, alunos e entidades estudantis iniciaram uma campanha pedindo o adiamento do exame. A verba disponibilizada para medidas de proteção contra o novo coronavírus ainda não foi utilizada pelo MEC (Ministério da Educação) e indivíduos e entidades preocupados com a situação subiram a hashtag #AdiaEnem nas redes sociais.

O “tuitaço” pelo adiamento do Enem teve início ontem (4) e nesta terça (5) continua como um dos assuntos mais comentados no Twitter. Internautas reclamam da “insegurança” e “incerteza” causadas pelo panorama atual da pandemia e pelo que consideram descaso do governo federal. A UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) apresentaram uma série de justificativas para o adiamento.

Os representantes destacaram a falta de vacina contra o novo coronavírus e a alta no casos da doença. “Num contexto em que ainda não há vacinação contra Covid-19 no país e do aumento de casos da doença, a avaliação das entidades estudantis é de que a realização da prova nas datas marcadas poderá gerar riscos à saúde e mortes. #AdiaEnem“, diz mensagem publicada pelo perfil da UBES no Twitter.

Além disso, o presidente da UNE, Iago Montalvão, lembrou que a verba de R$ 178,5 milhões disponibilizada para as medidas de proteção, como compra de álcool em gel e aluguel de salas não foi usada pelo MEC. Ele também comentou a situação por meio das redes sociais.

Em conversa com o BHAZ, o presidente da Ames (Associação Metropolitana de Estudantes Secundaristas) de Belo Horizonte e região metropolitana, Rafael Moraes, por sua vez, também falou que manter o exame para daqui a 12 dias “pode botar milhares de jovens e familiares em risco”.

“A nossa principal pauta agora é o absurdo de se realizar uma prova do Enem, do tamanho que é, estrutura, com o número de pessoas que envolve, nessa situação de Belo Horizonte. Não lançamos nada publicamente ainda, mas vamos nos organizar com outras entidades, estaduais, nacionais, que já estão se movimentando, e nos organizar nos próximos dias. Talvez, até mesmo ações no dia da prova”, disse Rafael Moraes.

O presidente da Ames lembra que Belo Horizonte também está passando por uma alta de casos e que o nível de ocupação dos leitos de UTI bateu recorde ontem (4), com 80.5% das redes públicas e privadas de saúde ocupadas. Já o Brasil, uma semana atrás, voltou a ter mais de mil mortes em 24h e apresentou o maior número de óbitos desde setembro. O país apresenta, agora, números tão altos quanto na época em que o exame foi adiado pela primeira vez.

No Twitter, além de alunos e entidades estudantis, representantes do Congresso e de diversos municípios também se manifestaram a favor do adiamento. A primeira vereadora transexual e negra eleita da cidade de São Paulo e mulher mais votada do Brasil, Erika Hilton, fez um questionamento. “O governo odeia a ciência, sucateia a universidade pública e sequer tem plano de vacinação. Porque mesmo não adiar o Enem para salvar vidas? #adiaenem2020”

A deputada federal de Minas Gerais e ex-candidata a prefeita em Belo Horizonte, Áurea Carolina, também se pronunciou. “Vivemos um momento crítico da pandemia, com quase 200 mil mortos pela Covid-19. Manter o calendário do ENEM nessas condições é criminoso! Estamos falando das vidas de milhões de estudantes, sobretudo das classes populares. Adiar o exame é urgente! #adiaenem“.

Mudança de data

As organizações estudantis lembraram que, em enquete promovida pelo governo federal em maio de 2020, o mês de março, e não de janeiro, tinha obtido o maior número de votos dos alunos para a realização do Enem.

O presidente da Ames pede para que a decisão dos secundaristas seja respeitada. “De início, a nossa primeira exigência já é a de respeitar o voto dos estudantes. Quase 200 mil participaram do questionário do MEC e março que ganhou – o mês mais distante. Nem porque os estudantes achavam que era o ideal, mas porque era o mais distante”, diz.

Rafael Moraes, no entanto, faz uma ressalva. “A prova deve ser realizada quando se tiver todas as condições, não só sanitárias, da pandemia, mas quando todas as redes estaduais, etc., tenham conseguido concluir o ensino. O ano letivo de Minas Gerais da educação pública não acabou ainda. Em teoria, os alunos estão fazendo a prova sem terminar o ano”.

Vários alunos se mostraram a favor da decisão, como Nataly Silva. “Meu sonho de entrar em uma universidade está sendo roubado. Adiar o enem é pensar nas minorias, além de não colocar a nossa saúde e segurança e à dos nossos familiares em risco. A nossa voz precisa ser ouvida. EU QUERO ENTRAR NA UNIVERSIDADE! #AdiaEnem“.

Nem todos os estudantes, porém, concordaram com o adiamento. “A gente tá a 2 semanas da prova, se adiar agora em cima da hora é meio ruim pra gente que tá estudando”, escreveu um contrário nas redes sociais. Não houve, contudo, movimento grande contra o adiamento da prova como o #AdiaENEM e Rafael acredita que essa seja apenas uma minoria.

“Essa opinião existiu durante algum tempo, hoje temos mais dificuldade de identificar, entre os estudantes das escolas estaduais essa opinião a gente quase não houve mais. Ela parte principalmente de escolas privadas, cursinhos, que não pararam e que querem fazer de qualquer forma esse processo”, disse.

“Pra nós essa opinião é minoria. Lógico que pra esses estudantes que estudaram, que vêm dessas escolas, a gente entende o motivo de querer fazer o Enem o mais rápido possível, mas não pode ser assim porque é injusto, tem que pensar na maioria”, afirma.

Posição da União

O governo federal ainda não se pronunciou sobre a campanha de adiamento, mas o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) já tinha rejeitado, uma semana atrás, o pedido de adiamento das provas do Enem de 2020 feito pela Secretaria de Estado de Educação da Bahia.

No dia 28 de dezembro de 2020, em nota ao Eu, Estudante, o Inep reiterou que as datas de aplicação do exame estariam mantidas em janeiro de 2021 e que o órgão adotará uma série de medidas para aumentar a segurança dos alunos durante as provas presenciais. Entre elas, o fornecimento de álcool em gel nas salas usadas na aplicação, a obrigatoriedade do uso de proteção facial e o uso de apenas 50% da capacidade de cada sala de aula

As provas impressas do Enem estão marcadas para serem aplicadas em 17 e 24 de janeiro e o Enem digital deve ocorrer em 31 de janeiro e 7 de fevereiro. Por volta de 6 milhões de alunos confirmaram a realização do exame.

Edição: Roberth Costa

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