Jovem é vítima de racismo em supermercado do Rio de Janeiro

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Jovem estava comprando ingredientes para seu bolo de aniversário quando foi ‘confundido’ com ladrão (Reprodução/Instagram)

Um jovem de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, teve o aniversário de 20 anos marcado por racismo em vez de comemoração. Enquanto comprava ingredientes para fazer o próprio bolo de aniversário, o estudante Bernardo Marins foi intimidado e acusado de estar roubando produtos de uma unidade do Hipermercado Extra na cidade. Ele foi chamado de “ladrãozinho” por um segurança da loja, que recebeu apoio do gerente.

O caso, semelhante a vários que acontecem diariamente no Brasil, foi na última terça-feira (18). “Assim que eu entrei, o segurança veio atrás de mim, me seguindo. Eu percebi que a todo momento ele pegava o rádio e falava pra [outros funcionários] olharem na câmera se eu tinha colocado alguma coisa no meu bolso”, conta Bernardo ao BHAZ.

Quando terminou de pagar pelos produtos que havia comprado, o jovem procurou o gerente da loja para reclamar da postura do segurança, mas conta que o funcionário tentou amenizar a situação. “Ele falou que não era racismo, que o segurança simplesmente esbarrou comigo por coincidência”, conta Bernardo, que, depois da conversa com o gerente, decidiu ir embora. E foi justamente quando estava saindo da loja que o problema se agravou: “No que eu estava indo embora, o segurança me chamou de ladrãozinho, falou ‘você acha que eu sou cego?'”.

Segundo Bernardo, o gerente chegou a dizer que o segurança deveria “ter marcado o rosto” do estudante, insinuando que ele já havia furtado produtos da loja em outras ocasiões. O jovem conta que chegou a se oferecer para ser revistado e acabar com a confusão de uma vez por todas, mas tanto o segurança como o gerente se recusaram, alegando que não havia provas.

‘Maior humilhação’

O momento, apesar de breve, gerou marcas profundas no jovem. Acostumado a descolorir os cabelos sempre que faz aniversário, ele conta que acabou com a “tradição” no mesmo dia. “Quando eu cheguei em casa, eu liguei para a minha mãe e desabei. Chorei porque eu estava com muita vergonha. Cheguei em casa e pintei meu cabelo de preto porque achava que loiro ia chamar mais atenção, já que tem essa coisa de ‘parecer ser ladrão’ ou não… Foi horrível”, lembra.

No dia seguinte, ele fez um desabafo nas redes sociais, onde contou o que havia acontecido e fez um alerta para quem acredita que episódios como o dele não são “nada demais”: “Todos ficaram pensando que eu era ladrão. Foi a pior humilhação que eu já passei na vida. Nós negros vivemos isso todos os dias. Sou trabalhador e estou indo atrás dos meus sonhos”.

Bernardo conta ainda que, ao procurar a delegacia da cidade para registrar um boletim de ocorrência, não conseguiu e precisou recorrer à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância do Rio de Janeiro. Agora, uma advogada o ajuda a cuidar dos desdobramentos do caso, que ele está longe de esquecer: “Isso já tinha acontecido comigo antes, mas nunca tão diretamente. Eu nunca fui tão humilhado assim, foi a maior humilhação da minha vida”.

O que diz o Extra?

Procurado pela reportagem, o Extra informou, em nota (leia na íntegra abaixo) que a rede “não orienta os funcionários para qualquer tipo de atitude discriminatória ou desrespeitosa, inclusive as condena”. O hipermercado informou ainda que decidiu pelo desligamento dos funcionários envolvidos no episódio e “está reforçando com todo o time da loja a conduta esperada no relacionamento com os clientes”.

A rede esclareceu ainda que, em casos de denúncias sobre condutas ilegais ou antiéticas, o Extra possui um canal de ouvidoria, responsável por realizar a apuração completa do tema.

Nota na íntegra:

O Extra informa que, tão logo tomou conhecimento sobre o ocorrido, no dia 19 de agosto, acionou imediatamente a loja de Alcantara, iniciando assim um processo interno de apuração. A empresa conseguiu contato com o cliente Bernardo no último dia 20 para se desculpar pela situação vivenciada por ele na loja e incluí-lo no processo de averiguação dos fatos. A rede não orienta os funcionários para qualquer tipo de atitude discriminatório ou desrespeitosa, inclusive as condena como está explícito em seu Código de Ética e na política de diversidade e direitos humanos da empresa.  A partir das informações passadas por todos os envolvidos e baseado em suas políticas e nos padrões de procedimentos esperados pela companhia, o Extra decidiu pelo desligamento dos envolvidos no episódio e está reforçando com todo o time da loja a conduta esperada no relacionamento com os clientes.

A rede aplica continuamente um calendário de treinamentos, atualizações de procedimentos e formações para o combate à discriminação e o preconceito para todos os funcionários e prestadores de serviço. Todos assumem o compromisso, por meio do contrato de trabalho, ao respeito integral ao Código de Ética da companhia. Em casos de denúncias sobre condutas ilegais ou antiéticas, o Extra possui um canal de ouvidoria, responsável por realizar a apuração completa do tema. A rede participa da Coalização Empresarial pela Equidade Racial e de Gênero e da Iniciativa Empresarial pela Igualdade, que estimulam a implementação de políticas e práticas empresariais no campo da equidade racial. Em 2018 implantou um grupo interno de Afinidade de Equidade Racial, formado por colaboradores(as) negros(as) e não negros(as) comprometidos em construir com a empresa um ambiente de trabalho cada vez mais inclusivo e de promoção da equidade racial.

Edição: Roberth Costa
Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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