Mãe de Kathlen Romeu faz críticas à polícia em desabafo emocionante

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Mãe de Kathlen Romeu, Jackeline de Oliveira, faz apelo: ‘Parem de nos matar’ (Reprodução/@joelluiz_adv/Twitter)

A mãe de Kathlen Romeu, grávida de 24 anos que morreu baleada ontem (8) durante um tiroteio no Rio de Janeiro, fez um forte desabafo sobre a morte da filha e criticou a atuação da Polícia Militar. Jackeline de Oliveira Lopes compareceu ao IML (Instituto Médico Legal) na manhã desta quarta-feira (9) para tratar do falecimento da designer de interiores.

Em entrevista coletiva no local, Jackeline demonstrou sua revolta, dizendo que a filha havia sido recebida a tiros no bairro Lins de Vasconcelos, onde ela foi para fazer uma visita aos familiares. A mãe de Kathlen contou um pouco sobre a criação da jovem, e pediu para que as pessoas não dissessem que a morte foi causada por bandidos, pois a jovem era respeitada no local.

“Essa historinha que é contada há anos aí na televisão de que foi troca de tiros e de que a polícia foi recebida a tiros, quem foi recebida a tiros foi minha filha! A minha única filha… Eu tive ela com 15 anos, mas eu nunca fraquejei como mãe, eu fiz tudo o que eu podia e não podia para ela não ser uma mulher de bandido, para ela não ser uma vagabunda”.

‘Parem de matar a gente’

A mulher continuou: “Se você chegar lá [no bairro] as pessoas respeitam ela. Kathlen Romeu é exemplo, então respeita a memória da minha filha, não fala que foi bandido, porque se fosse bandido eu também falaria, eu não passo pano para ninguém não”. Jackeline de Oliveira ainda afirmou que muitas pessoas moram favelas porque precisam e sofrem com ações policiais truculentas mesmo sendo inocentes.

“Quem tem filho sabe do que eu estou falando, porque ninguém às vezes começa do alto não! Eu saí tem um mês, são 40 anos morando na comunidade, e tudo é falta de respeito! A polícia já entrou na minha casa! Falta de respeito, porque eles acham que todo mundo ali é parente de bandido”, desabafou.

Respeito pelas vidas periféricas

A mãe da designer de interiores reclamou, dizendo que a polícia pensa que toda a vizinhança de uma comunidade é composta por bandidos. “Não é assim que funciona não”, pontuou. “Parem de matar a gente. Eu não sei porque é que a minha filha morreu, mas se tem que ficar alguma lição que fique, porque não tem que matar mais filho de ninguém, mate bandido”.

Segundo declarou Jackeline, os cidadãos pagam impostos para que a Polícia Militar treine para matar bandidos. “Policial tem que dar tiro com mira, então eles têm que treinar, eles têm que respeitar a gente”, pediu a mãe de Kathlen Romeu. Confira o vídeo completo do desabafo:

PM nega operação

Procurada pelo BHAZ, a Polícia Militar do Rio de Janeiro negou que estivesse realizando alguma operação no momento em que Kathlen Romeu foi baleada. Em nota, a corporação disse que os policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) foram atacados por criminosos armados “de maneira inesperada e inconsequente”.

Embora tenha negado estar realizando alguma operação, a polícia deu detalhes da ação que terminou com Kathlen baleada. De acordo com a corporação, os policiais foram atacados a tiros num local conhecido como “Beco da 14”, e a partir disso iniciou-se um confronto entre a UPP e os criminosos.

“Após cessarem os disparos, os militares encontraram uma mulher ferida e a socorreram ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, onde  – infelizmente – a vítima não resistiu”, diz trecho da nota (leia as respostas enviadas ao BHAZ na íntegra abaixo).

Irmão de Kathlen desabafa

Rodrigo Dinniz, irmão de Kathlen Pacheco, fez declarações em suas redes sociais sobre a morte da jovem. Segundo ele, a designer de interiores havia acabado de ser formar e foi alvejada pela Polícia Militar. “Ela tinha acabado de se formar, tinha dado entrada no seu apartamento próprio, estava casada e grávida, ela não era bandido e foi alvejada pela PM, vocês têm noção disso?”.

O irmão de Kathlen também disse que não houve troca de tiros entre a polícia e os criminosos, e que a corporação chegou no local atirando. “Não teve troca de tiros, a PM chegou atirando, parem de acreditar nessa história podre que eles estão criando, o sistema do Brasil é podre, é falho”, alegou.

Nota da Polícia Militar na íntegra

Não havia operação no momento do incidente.
Policiais Militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Lins foram atacados a tiros por criminosos armados de maneira inesperada e inconsequente.
A Delegacia de Homicídios da Capital investiga o caso. Em paralelo às investigações da Polícia Civil, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) instaurou um procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do fato.
 

Seguem os detalhes sobre a dinâmica da ação:

A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, na tarde desta terça-feira (8/6) policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Lins foram atacados a tiros por criminosos na localidade conhecida como “Beco da 14”. Houve confronto na ação, sendo apreendidos um carregador de fuzil, munições de calibre 9mm e material entorpecente a ser contabilizado. Após cessarem os disparos, os militares encontraram uma mulher ferida e a socorreram ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, onde  – infelizmente – a vítima não resistiu. O local foi preservado e a perícia foi acionada.

Após a ocorrência, moradores da região obstruíram a Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá e atearam fogo em objetos. Equipes da UPP Lins, CPP,  3ºBPM (Méier) e do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões (RECOM) atuaram na via para auxiliar o trabalho do Corpo de Bombeiros no combate às chamas e da Comlurb para remoção dos obstáculos. 

Edição: Giovanna Fávero
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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