
Uma pesquisa Vigisan (Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia Covid-19 no Brasil) divulgada nesta quarta-feira (8) aponta que 33,1 milhões de brasileiros passam fome no país. O número é superior ao coletado no fim de 2020, quando os que não tinham o que comer somavam 19,1 milhões.
Mais da metade da população no Brasil vive com algum grau de insegurança alimentar. Conforme a pesquisa, a situação se agravou com a crise econômica e desestruturação das políticas públicas, que se acentuaram em função da pandemia.
Para se ter uma ideia, a pesquisa de dezembro de 2020 apontou que 9% das pessoas – ou 19 milhões – conviviam com a fome. O percentual passou para 15,5%, ou 33,1 milhões, neste ano. Isso indica que 14 milhões de brasileiros foram deslocados para a condição de insegurança alimentar em um ano.
Influência de desigualdades sociais
Segundo o estudo, os resultados negativos também estão relacionados a uma “persistência de opções governamentais negligentes, pautadas pelo falso dilema entre economia e saúde”. Embora os números considerem o Brasil como um todo, as regiões mais afetadas foram Norte e Nordeste.
Os dados mostram que a convivência com a fome ganha contornos mais “dramáticos” nessas localidades, principalmente em função das desigualdades geradas por dinâmicas de distribuição da riqueza nacional.
Além da geolocalização, fatores como gênero e raça contribuem para as desigualdades analisadas. 19,3% das famílias chefiadas por mulheres estão expostas à fome, enquanto o percentual cai para 11,9% quando são os homens nessa posição. Em 2020, as prevalências eram 11,2% e 7%, respectivamente. Isso pode ser explicado, dentre outros fatores, porque as mulheres normalmente apresentam rendimento desfavorável em relação aos homens.
Na população negra, houve aumento superior a 60% na proporção dos que convivem com a fome no período estudado. Entre os brancos, por outro lado, o aumento foi de 34,6%, uma diferença superior a 25%.
Retrocesso histórico
De acordo com pesquisa realizada anteriormente, a fome havia retornado para os patamares de 2004 no final de 2020. Entre 2021 e 2022, 125,2 milhões de brasileiros responderam não ter certeza se teriam o que comer no futuro, o que limitava a qualidade ou quantidade de alimentos para as refeições diárias.
“O Brasil já foi referência internacional no combate à fome. Entre 2004 e 2013, políticas públicas de erradicação da pobreza e da miséria reduziram a fome para menos da metade do índice inicial: de 9,5% para 4,2% dos lares brasileiros. Hoje, infelizmente, o país é outro”, diz o documento.