‘Falam de morte a judeus, negros, nordestinos’: Polícia faz operação contra neonazistas em sete estados

Materiais nazistas
Policiais encontraram armas e livros sobre Hitler em residências (Reprodução/g1)

Atualização às 17:42 do dia 16/12/2021 : Atualizado para incluir informações divulgadas pela Polícia Civil de Minas Gerais.

Uma operação contra grupos de pessoas que se autodeclaram nazistas cumpriu quatro mandados de prisão e 31 de busca e apreensão em sete estados brasileiros, nesta quinta-feira (16). Os responsáveis pela operação “Bergon” são a Polícia Civil do Rio de Janeiro e o Ministério Público do estado.

Dos alvos da ação, 15 estavam no estado do Rio de Janeiro, um em Minas Gerais, nove em São Paulo, dois no Rio Grande do Sul, dois no Paraná, um no Rio Grande do Norte e um em Santa Catarina.

De acordo com o jornal O Dia, a polícia encontrou um taco com arame farpado, facões, armas, arco e flecha, facas, machadinhas, uniformes militares e livros que falam sobre a vida de Adolf Hitler nas casas dos suspeitos.

Em uma das residências de um alvo da operação, portas e paredes estavam cobertas por suásticas, elemento apropriado pelo Partido Nazista no século XX.

Operação em Minas

No Sul de Minas, a polícia foi até a casa de um adolescente de 15 anos, alvo da operação. No local, os agentes encontraram três canivetes, um celular, um computador, além de dois cadernos com anotações e desenhos de cunhos nazistas.

Objetos apreendidos
Polícia apreendeu objetos de um adolescente de 15 anos em Minas (Polícia Civil de Minas Gerais/Divulgação)

O jovem foi ouvido na Delegacia Regional de Polícia Civil em Itajubá, acompanhado da representante legal, para futuro andamento das investigações.

De acordo com o delegado regional Denirval Campos, o material arrecadado e as informações levantadas pela equipe de Minas serão repassadas ao Ministério Público e à Polícia Civil do Rio de Janeiro, responsáveis pela operação.

Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, outros suspeitos também foram identificados e são monitorados pela corporação.

Discurso de ódio

Os alvos dos mandados são investigados por publicar fotografias, imagens e textos de cunho racista, homofóbico, antissemita ou nazista na internet. Nas publicações, eles ainda incitam a violência contra esses grupos.

“São mensagens de intolerância racial e religiosa, falam de morte a judeus, morte a negros, morte a nordestinos”, disse o delegado Rodrigo Coelho, da PCERJ (Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro), durante a coletiva de imprensa nesta tarde.

Alguns dos suspeitos, inclusive, são adolescentes. O Ministério Público do Rio lista os potenciais crimes cometidos pelos integrantes do grupo: “praticar, divulgar e instigar a realização de atos de discriminação e preconceito em relação à raça, cor, etnia e procedência nacional; além do crime de corrupção de menores”.

Sete meses de investigações

De acordo com a PCERJ, as investigações duraram sete meses. Elas começaram após a DCAV (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima) receber uma denúncia sobre uma associação criminosa voltada à prática de atos violentos e de discriminação por meio de redes sociais. O alerta veio do Cyber Lab e da Homeland Security Investigations (HSI), órgãos do governo dos Estados Unidos.

Em maio deste ano, um dos alvos, Fabiano Kipper Mai, foi identificado por utilizar um aplicativo para espalhar o ódio e atrair simpatizantes, principalmente com ameaças contra pessoas negras e contra judeus.

Fabiano, de 18 anos, foi o responsável pela chacina que matou três crianças e duas professoras em uma creche em Saudades, município de Santa Catarina. Ainda em maio, ele confessou o crime e disse que pretendia se matar.

A partir da análise do material do celular do jovem, periciado pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), da PCERJ, e pelo Ministério Público, as corporações encontraram “farto material” de conteúdo racista e antissemita.

De acordo com a polícia, os diálogos ameaçadores, a cooptação de simpatizantes, a realização de treinamento e a disseminação de ódio chamaram a atenção dos investigadores.

O nome da operação deflagrada hoje faz alusão à freira francesa Denise Bergon, que usou seu convento para abrigar crianças judias entre alunos católicos durante a Segunda Guerra Mundial, evitando que elas fossem capturadas pelos nazistas.

Edição: Giovanna Fávero
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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