Casos de HIV em BH têm queda de 21% em 5 anos; conheça a PrEP, tratamento de prevenção contra o vírus

prep hiv
Medicamento é o mais eficaz na prevenção ao HIV (Divulgação/Ministério da Saúde)

Os novos casos de HIV (sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana) tiveram queda de 20.83% nos últimos cinco anos em Belo Horizonte. Já os casos de Aids reduziram 52,6% nesse mesmo período. Os números mostram uma baixa gradativa e animam especialistas.

A queda coincide com a chegada da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) ao SUS (Sistema Único de Saúde), desde 2017. O medicamento é utilizado nos Estados Unidos desde 2012 e chegou ao Brasil há cinco anos. A PrEP é de uso constante e serve para prevenir a infecção por HIV, com eficácia de até 99%. Não é possível associar a redução dos casos ao tratamento, mas especialistas afirmam que os números são animadores.

Inicialmente, a PrEP era algo somente para alguns grupos mais expostos à doença, mas, agora, qualquer pessoa pode fazer o uso desse medicamento. É indicado, principalmente, para quem não tem parceiros fixos e não usa preservativos regularmente. Contudo, já é importante frisar que uma proteção não anula a outra, então use camisinha. E, sim, a PrEP é segura.

Neste artigo, reunimos informações seguras para explicar como funciona a PrEP, as contraindicações e efeitos colaterais e onde conseguir o medicamento em BH – que tem fila de espera de meses -.

Uso da PrEP

O infectologista Leando Curi explica que, como todo medicamento, é preciso checar as condições de cada paciente antes do início do tratamento.

“Nenhum medicamento na vida é inócuo. A PrEP pode causar alguma injúria renal ou hepática, mas é controlada pelo médico que prescreve. Quem já tiver uma pré-disposição para injúria renal, por exemplo, provavelmente não poderá usar a PrEP”.

O profissional atende pacientes e prescreve PrEP no CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) Sagrada Família, região Leste de BH, um dos locais de distribuição do medicamento.

Efeitos colaterais

Existem efeitos colaterais provenientes da PrEP, que podem ocorrer na fase inicial do tratamento e costumam desaparecer ainda nos primeiros meses. Dores de cabeça e no estômago, perda de apetite, vômitos, náuseas, fadiga, tonturas e pequeno aumento de transaminases (enzimas presentes no fígado) são alguns deles.

Todo o tratamento deve ser feito com acompanhamento médico. O paciente deve sempre informar ao profissional de saúde caso sinta algum desses sintomas ou outros, de forma persistente.

Também podem surgir efeitos colaterais de longo prazo. Em casos bem raros, a PrEP causou danos aos rins. Nessas ocasiões, o uso do medicamento precisa ser suspenso para que os rins voltem à sua função normal.

Tempo para início da proteção

No tecido vaginal, a PrEP leva 21 dias para iniciar a proteção contra o HIV. No caso de relações anais passivas (em que a pessoa é penetrada), a PrEP demora sete dias para começar a agir. É importante aguardar esse tempo para alcançar a proteção necessária.

PrEP sob demanda

A PrEP sob demanda é o uso planejado de antirretrovirais (ARV) pelo esquema 2 + 1 + 1. São dois comprimidos entre 2 e 24 horas antes da exposição de risco, um comprimido 24 horas após essa dose dupla inicial e outro 48 horas depois da dose dupla inicial.

Caso haja relação sexual antes da conclusão do ciclo 2 + 1 + 1, é só continuar tomando a PrEP diária enquanto tiver relações. Depois da última exposição, tomar a PrEP diária por outros dois dias.

PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV)

Existe também um medicamento para ser tomado até 72 horas após uma exposição de risco. “É de caráter de urgência, para pessoas que foram ou possam ter sido expostas ao vírus”, explica Curi.

A PEP é indicada para casos de violência sexual, relação sexual desprotegida (sem uso de preservativo ou com seu rompimento) ou acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico).

O medicamento só é eficaz se for utilizado na maneira e tempo correto. O tratamento dura 28 dias, com um comprimido ao dia, e o paciente precisa ser acompanhado por uma equipe de saúde, inclusive depois do término da profilaxia, realizando os exames necessários.

Onde conseguir PrEP em BH?

O primeiro passo para conseguir a PrEP é procurar alguma Unidade de Dispensação de Medicamentos (veja logo abaixo). “

A pessoa interessada vai à unidade pública ou consultório particular, fala do interesse e recebe explicações sobre o que é a PrEP, para iniciar a profilaxia. A partir de então, é feita a prescrição de medicamentos que o paciente poderá fazer a retirada”, explica Curi.

É importante frisar que esses medicamentos não são retirados em farmácias particulares. “São totalmente distribuídos pelo SUS”, reforça o médico.

CTR DIP Orestes Diniz é um dos locais que distribuem PrEP (Reprodução/Google Street View)

Alta demanda da PreP em BH

A procura está alta em BH e na região metropolitana, com a oferta de PrEP bem menor que a demanda. O tempo de espera pelo medicamento pode chegar a meses. Para o infectologista, existe um lado muito negativo em relação a isso e outro bem positivo.

“Se a fila está grande, tem interessados, o que é bom. Mas, ao mesmo tempo, a demanda não está suprindo ou chegando perto da oferta. Com isso, infelizmente acontecem casos de pessoas que estão esperando há muito tempo, serem contaminadas pelo caminho. É assustador. Tenho pacientes que se infectaram nesse último ano, que estavam na fila da PrEP”, relata o médico de BH.

Ao BHAZ, a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) disse que o remédio é fornecido pelo Ministério da Saúde, com abastecimento regular nas unidades de Saúde (veja abaixo). Em média, são distribuídos cerca de 37 mil comprimidos por mês.

A reportagem questionou quantas pessoas estão na fila, atualmente, em BH, mas a PBH não respondeu. Contudo, disse que “a Secretaria Municipal de Saúde está estudando mudança do formato da oferta da PrEP no município, com possibilidade de reorganização do modelo e ampliação da assistência na Rede SUS-BH”.

Demora no atendimento

Atualmente, na capital mineira, 1.142 pessoas estão vinculadas ao tratamento com a PrEP. “A procura pela primeira consulta é demanda espontânea e compulsória ao paciente que tem o interesse de ser avaliado e começar ou não o tratamento, dependendo da avaliação dos critérios”, reforça a PBH.

A SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais) disse, ao BHAZ, que o abastecimento do medicamento está regular.

“A autorização de distribuição e entrega tem ocorrido, normalmente, a todas as Unidades de Dispensação de Medicamentos do Estado, conforme os cronogramas mensais e obedecendo às quantidades solicitadas”.

Sobre Belo Horizonte, a SES-MG ressalta que a capital mineira também atende usuários da região metropolitana, “por meio da Regulação do próprio município, em que são priorizados os usuários da capital”.

O órgão afirma que a demora no atendimento em BH se deve à concentração no “volume de usuários em busca da profilaxia e, não necessariamente, ao quantitativo de medicação repassado ao município”.

Testagem e tratamento gratuito

Belo Horizonte tem seis locais de testagem e tratamento gratuito. Para o teste rápido, não precisa de agendamento, basta chegar com um documento de identificação. O resultado demora cerca de 20 minutos e, em seguida, a pessoa é atendida por um especialista.

Veja qual o local mais próximo de você em BH:

CTA Hipercentro
Endereço: Shopping Caetés: Rua Caetés, 466 – Piso Caetés – Centro
Telefone: (31) 3246-7007

CTA SAE Sagrada Família
Endereço: Rua Joaquim Felício, 141 – Sagrada Família
Telefone: (31) 3277-5757

CTR DIP Orestes Diniz
Endereço: Rua Alameda Álvaro Celso, 241 – Santa Efigênia
Telefone: (31) 3277-4341 

URS Centro-Sul
Endereço: Rua Paraíba, 890 – Funcionários
Telefone: (31) 3277-5356 

Hospital Eduardo de Menezes 
Endereço: Rua Dr. Cristiano Rezende, 2.213 – Bonsucesso
Telefone: (31) 3328-5000

SAE UNIFENAS
R. Professor Hermínio Guerra, 97- Itapoã
(31) 2536-5655 

HIV x Aids

O surgimento do vírus HIV já tem mais de 40 anos, mas, mesmo assim, muita gente ainda não sabe que ser portador do HIV, não significa ter Aids. São coisas distintas.

O HIV é a sigla, em inglês, para o vírus da imunodeficiência humana. Ele pode (ou não) levar ao desenvolvimento da síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids), doença que ataca o sistema imunológico.

No momento em que a doença se instala, o paciente pode ficar com imunidade muito baixa, o que deixa o organismo suscetível a doenças oportunistas, tais como tuberculose, pneumonia, entre outras.

Um corpo com a imunidade alta conseguiria conter essas doenças sozinho, mas, com a defesa baixa, o quadro de pode rapidamente se agravar.

Números de HIV e Aids em Belo Horizonte

A PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) disponibilizou os números de pessoas infectadas pelo vírus HIV e os que desenvolveram Aids de 2017 até 11 de abril de 2023.

Na tabela a seguir, é possível observar a redução dos números. De 2017 até 2022, os casos de HIV caíram 20.83%. Do mesmo modo, os registros de Aids na capital mineira reduziram 52,6%.

Ano de diagnóstico de HIVNúmero de casos novos
2017821
2018860
2019830
2020583
2021744
2022650
202387
Ano de diagnóstico de AidsNúmero de casos novos
2017467
2018369
2019292
2020198
2021197
2022221
202327

Fonte: Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação)

Para o infectologista Leandro Curi, os números são animadores. “Podemos observar uma queda, gradativa, o que mostra que estamos evoluindo”.

Contudo, o profissional, que lida com a prescrição do medicamento no dia a dia, observa que a maior procura é por homens que fazem sexo com homens.

“Principalmente entre os jovens. Mulheres, transexuais, travestis e mesmo profissionais do sexo, têm tido pouca procura”. Com isso, os números podem refletir apenas uma parcela da sociedade, mas ainda é algo a se comemorar.

Mais oferta

Leandro acredita que a PrEP precisa ser ofertada em mais locais em Belo Horizonte, como nos postos de saúde, por exemplo. A PBH afirmou que estuda mudança no formato de oferta e distribuição do medicamento na cidade, mas não explicou como e quando isso será feito.

Sobre a queda no número de casos, Unaí Tupinambás, infectologista e professor da Faculdade Medicina da UFMG, também segue a linha de cautela de Curi.

“Tem que trabalhar com cuidado esses dados, mas não deixa de ser uma notícia boa. Achei uma queda bem grande. Temos que pensar naquela ‘mandala’ da prevenção combinada. O SUS oferece várias formas, como a PrEP, PEP, autotestes, ampliação da testagem, dentre outras. Tudo junto impacta positivamente na redução”.

O profissional também concorda que a ampliação de locais com oferta se faz necessária. “Esse aumento, com certeza, vai impactar positivamente. Vemos pessoas na fila de espera da PrEP sendo infectadas. Infelizmente, não é algo tão incomum. Então, um esforço para agilizar tudo isso, é necessário”, completa.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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